Vale (VALE3): por que ação cai enquanto o minério de ferro dispara?

Principal ação do Ibovespa pegou a contramão do minério de ferro nos últimos pregões; entenda os motivos

Leonardo Guimarães

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Mesmo investidores do setor de siderurgia e mineração com pouca experiência sabem que as ações da área têm forte correlação com a cotação do minério de ferro. Afinal, quando o produto dessas empresas está mais valorizado, a margem de lucro pode ser maior. Mas as ações da Vale (VALE3), principal mineradora do Brasil, caem desde a segunda-feira, quando a China anunciou um pacote de estímulos ao setor imobiliário que fez o minério de ferro disparar mais de 10%

VALE3 chegou a subir 2% logo no início da primeira sessão da semana, quando o mercado acordou com a notícia do pacote de flexibilizações. Mas a euforia durou pouco e o papel fechou em queda naquele pregão. Do início da semana até o fechamento desta quinta-feira (3), a ação recua 3,64%, enquanto minério de ferro tem valorização de 17,63%, cotado a R$ 108.

Ver para crer

A história do pregão da última segunda-feira ajuda a explicar o descolamento entre VALE3 e minério de ferro. Primeiro, veio a euforia com o avanço da commodity no exterior. Depois, o otimismo deu lugar à desconfiança, que segue no comando dos sentimentos de investidores que medem o impacto real das medidas chinesas. 

Idean Alves, planejador financeiro CFP e especialista em mercado de capitais, descreve o mercado como “pragmático” e diz que os investidores vão esperar para ver se o movimento do minério de ferro é “conjuntural ou estrutural”. Ou seja, os agentes ainda não estão convencidos de que a commodity pode se sustentar acima do patamar de US$ 100. 

Ainda é verdade que“as ações da Vale tendem a acompanhar a alta da commodity, já que a rentabilidade da mineradora é amplamente influenciada pelos preços do minério”, como explica Mariana Conegero, especialista em mercado de capitais e sócia da The Hill Capital. Porém, o receio do mercado é de precisar corrigir a cotação das mineradoras quando perceber que as medidas chinesas não tiveram impactos reais, por isso a espera. 

Minério de ferro e China

Para entender a recente onda de otimismo com o minério de ferro, é preciso saber o que está acontecendo na China, a principal compradora da commodity que a Vale produz. O país asiático anunciou um pacote de estímulos imobiliários que inclui redução nas taxas de financiamento, redução na entrada mínima para compra do segundo imóvel e retirada de restrições de crédito para quem já tem um imóvel. 

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A ideia é estimular o consumo para conseguir atingir o objetivo de incremento de 5% do PIB em 2024, o que analistas ainda consideram distante. “Não vemos as medidas como um game changer e não acreditamos que a meta de 5% será alcançada”, diz a Genial Investimentos, em relatório. 

A corretora espera que a “desaceleração significativa” do setor imobiliário continue e o fraco consumo doméstico ainda atrapalhe o crescimento da atividade econômica. “Nossa análise sugere que o problema central não é falta da oferta de crédito e sim desinteresse em tomar crédito”. 

Conegero, explica que a China “enfrenta desafios estruturais e os estímulos podem não ser suficientes para resolver questões de longo prazo, como o colapso do setor imobiliário e o comportamento dos consumidores chineses”. Para ela, a sustentabilidade da alta no minério de ferro “depende do crescimento econômico chinês”. Com as dúvidas sobre a China, o ceticismo também impacta a commodity a médio prazo.

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VALE3 a R$ 70 novamente?

Os papéis da Vale foram negociados a R$ 70 pela última vez em janeiro. As ações da mineradora acima deste patamar ajudaram o Ibovespa a alcançar sua máxima histórica em dezembro, então investidores sonham com esse valor novamente. Para analistas, porém, não vai ser tão fácil chegar lá. 

“O desconto da Vale em relação ao preço do minério de ferro parece excessivo, mas existem outras variáveis que influenciam o movimento”, diz Alves, citando aumento de despesas, investimentos e impostos como fatores de atenção, além do acordo final com a Samarco para a indenização pelo rompimento de barragem em Mariana (MG). 

Mas a sazonalidade pode jogar a favor da Vale, que “entra em rali no último trimestre desde 2021”, percebe Hayson Silva, analista da Nova Futura Investimentos. 

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A mineradora trocou de CEO recentemente: Eduardo Bartolomeo entregou o cargo para Gustavo Pimenta, ex-CFO, na última terça-feira, em um movimento visto como positivo pelo mercado e que pode aumentar a confiança de investidores. O Itaú BBA destaca a sucessão interna como positiva, já que “uma mudança na estratégia da Vale é improvável no curto prazo”. 

A mineradora foi a principal pagadora de dividendos do Brasil em setembro, com R$ 9,5 bilhões distribuídos, segundo levantamento da Meu Dividendo, e tem recomendação de compra de corretoras como BB Investimentos, Genial, Ágora, BTG e Santander.