Vale: os fatores que animaram VALE3, mesmo com 2T24 não brilhando os olhos do mercado

Sessão de alta do minério, lucro acima do esperado e dividendos podem animar as ações, mesmo com Ebitda em linha e debate sobre custos

Lara Rizério

Logo da Vale (Foto: Divulgação)
Logo da Vale (Foto: Divulgação)

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Com os dados de prévios de produção já divulgados na semana passada, a Vale (VALE3) revelou seus números do segundo trimestre de 2024 (2T24) na última quinta-feira (25) considerados sólidos, mas que não surpreenderam tanto o mercado, ainda que haja visões divergentes sobre a pressão de custos sobre a companhia. Ainda assim, a alta do minério na sessão, o anúncio de proventos e o lucro acima do esperado (ainda que por fatores não recorrentes) foram fatores que animaram as ações, assim como a perspectiva positiva dos executivos durante teleconferência. Os papéis da companhia fecharam em alta de 1,49%, a R$ 61,47, na B3.

Para a XP, a mineradora reportou resultados ligeiramente mais fracos do que o esperado no 2T24, com lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado proforma de US$ 4,0 bilhões, 6% abaixo da projeção da casa, mas praticamente em linha com o consenso.

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Lucas Laghi, Guilherme Nipes e Fernanda Urbano, analistas que assinam o relatório, destacaram ver os resultados fracos refletindo um desempenho de custo pressionado, com o custo caixa C1 da Vale (custo de produção da mina ao porto) a tonelada (t) de US$ 24,90/t, alta trimestral de 6% e 4% acima da projeção da XP.

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Isso em parte foi devido a um mix de volume mais pobre, atividades de manutenção e custo de consumo de estoque mais alto durante este trimestre, que a Vale espera recuperar após o aumento dos níveis de produção no Sistema Norte na segunda metade do ano (reafirmando seu guidance C1/t de US$ 21,50-23/t para o ano de 2024).

O Bradesco BBI, por sua vez, tinha expectativa de custos maiores, avaliando que o Ebitda ajustado foi em linha com o consenso e a sua estimativa – o banco observa que o desempenho de custo melhor do que o esperado pela casa compensou parcialmente os preços realizados mais fracos do que o esperado.

“A melhoria sequencial do Ebitda pode ser explicada principalmente pelos volumes mais fortes de minério de ferro na base trimestral (+25%), parcialmente compensados ​​pelos preços realizados mais baixos (-3%). Destacamos que a empresa apresentou um desempenho sólido, com os volumes de produção de minério de ferro em S11D atingindo um nível recorde pelo segundo trimestre consecutivo”, aponta a equipe de análise.

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O BBI ressalta que o custo caixa C1 (ex-compras de terceiros) aumentou de US$ 23,50 a tonelada no 1T24 para US$ 24,9/t no 2T24, mas foi menor que a sua expectativa de US$ 25,6/t. A Genial Investimentos também esperava custos maiores, com o resultado vindo 1,6% abaixo do que projetava; além disso, o frete foi marcado em US$ 19/t, 5% abaixo da sua projeção. Os analistas da casa apontam que a receita líquida consolidada, de US$ 9,9 bilhões, foi 3% abaixo do que esperava, mas a sua grande preocupação mesmo eram os custos.

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O suave arrefecimento das linhas de custo versus as suas estimativas garantiram que, mesmo com uma receita um pouco abaixo, o Ebitda viesse em linha com a sua projeção, (+1,2% versus a estimativa da Genial), em decorrência do efeito sazonal de melhor produção, em razão da entrada de um período mais seco no Sistema Sudeste.

Já o lucro líquido, de US$ 2,76 bilhões, foi 46% além da projeção da Genial e triplicou na base anual, consolidando uma grande surpresa positiva. “Entretanto, destacamos que a razão para tal é uma situação não recorrente. Em suma, identificamos uma melhora frente ao esperado pela reversão de redução ao valor recuperável de ativos não-circulantes, uma circunstância contábil (não operacional)”, avalia a Genial.

Entre outros pontos, em relação à divisão de Metais Básicos, o Ebitda saltou significativos 58% no trimestre (porém ainda acumulando recuo de 14% em base anual), amplamente explicado por preços realizados mais altos, mas parcialmente compensado por custos mais altos. Houve, no entanto, queima de caixa de US$ 178 milhões no trimestre, impactada negativamente pela variação do capital de giro (US$ 1,1 bilhão). A dívida líquida expandida da Vale atingiu US$ 14,7 bilhões no 2T24 (contra meta de dívida líquida de US$ 10 a 20 bilhões), US$ 1,7 bilhão menor no trimestre, impulsionada pelos recursos do acordo da área de metais básicos.

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Contudo, o lucro acima das expectativas, ainda que por efeito de reclassificação não operacional e o anúncio de proventos são duas situações que podem causar reações mais positivas dos investidores ao resultado, avalia a Genial.

A Vale anunciou US$ 1,6 bilhão em proventos na forma de juros sobre o capital próprio, ou JCP (relacionados à sua política de dividendos mínimos para o primeiro semestre –implicando um rendimento anualizado de 6,5%, aponta o BBI), enquanto o programa de recompra está agora 22% completo (de 17% no 1T24).

“É possível que o anúncio de dividendos, dado o atual nível de desconto das ações, forneça um suporte para atrair um fluxo de investidores temporários até a data ex-remuneração, em 5 de agosto”, aponta a Genial. Já o Goldman aponta não esperar proventos extraordinários ou uma recompra mais significativa antes que as incertezas em torno do acordo da Samarco sejam reduzidas.

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Recomendações e no que ficar de olho

Vendo as ações como descontadas, os analistas da XP, da Genial e do BBI possuem recomendação de compra ou equivalente para a companhia. “Reafirmamos nossa recomendação de compra para VALE3, que está sendo negociada a 4,0 vezes o múltiplo EV, ou valor da firma/Ebitda esperado para 2024 (implicando um desconto de 29% em relação aos pares e de 15% para a média histórica aproximadamente)”, aponta o BBI.

Por outro lado, a Genial aponta saber que muitos gestores de fundos (principalmente os locais) estão muito reticentes para se tornarem compradores consistentes de Vale nesse momento.

Ainda assim, mesmo construindo o pior caso em seu modelo de forma a visualizar até onde as ações poderiam chegar, observa um desconto severo do que consideraria como preço justo para as ações em nosso modelo versus o valuation de mercado. “Sabemos que os investidores se preocupam muito com a economia chinesa e possíveis estímulos do governo, além dos overhangs [possíveis fatores de pressão para as ações com enxurrada dos ativos no mercado], que também não favorecem um sentimento bullish [otimista] nesse momento”, avalia.

Assim, a Genial entende que a tese de investimentos em Vale pode ser considerada muito mais pelo nível irracional de desconto do que por um sentimento positivo com relação ao ambiente macroeconômico, que comanda o ciclo da commodity.

“Por isso, é uma encruzilhada. Temos a impressão de que as ações, caso reagissem de maneira positiva ao resultado, pelo efeito dos dividendos principalmente, seria através de um efeito ‘fogo de palha’, sem que a alta dure por muito tempo. Todavia, principalmente por estar sendo excessivamente penalizada pelo mercado e por ser uma companhia com geração sólida de fluxo de caixa nesse nível de preço descontado, reiteramos nossa recomendação de compra”, conclui.

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Metais básicos e perspectivas para minério

Com visão de um resultado neutro, mas também com recomendação de compra para os papéis, o Goldman Sachs citou estar atento às primeiras falas do novo CEO da unidade de metais básicos, Shaun Usmar.

A perspectiva da companhia para o preço do minério de ferro para o 2S24, a dinâmica da demanda e perspectivas para o mercado chinês, as perspectivas operacionais de metais básicos, mais detalhes sobre a renovação da concessão ferroviária de Carajás e mais detalhes sobre o acordo de Mariana com o governo também estavam no radar do banco . Em teleconferência, o vice-presidente executivo de Soluções de Minério de Ferro da companhia, Marcello Spinelli, avaliou que o mercado de minério de ferro tem suporte em momento em que outros segmentos da economia da China, que não o setor imobiliário, sustentam a demanda.

“Do lado da demanda… temos um olhar positivo sobre China, quando nós vemos este novo normal que chamamos de resiliência da economia chinesa”, afirmou Spinelli.

(com Reuters)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.