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Pouco mais de um ano após cortar a recomendação para os ativos, o Morgan Stanley voltou a ver um cenário mais positivo e elevou a recomendação para os ADRs (na prática, os ativos da companhia negociados na Bolsa dos EUA) da Vale (VALE3). Os papéis passaram de recomendação equalweight (exposição em linha com a média do mercado, ou equivalente à neutra) para overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra), com os analistas Carlos De Alba, Ricardo Monegaglia Neto e Jens Spiess vendo um “coquetel de catalisadores positivos” para a empresa.
O preço-alvo também foi elevado, de US$ 14,50 para US$ 20, o que corresponde a um potencial de alta de cerca de 22% em relação ao fechamento da véspera.
A mudança de visão é baseada na expectativa de catalisadores de alta para os preços do minério de ferro no primeiro semestre de 2023 (1S23), apoiada pela oferta reduzida, a China saindo de sua política de Covid-zero (que tem impulsionado o minério nas últimas sessões) e políticas de estímulo para o setor imobiliário no país.
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Os analistas veem que o fator China continuará sustentando os preços do minério de ferro e as ações da Vale. O minério de ferro é a principal escolha da equipe de estratégia de commodities no segundo trimestre de 2023 (2T23).
“A alta nos preços do minério de ferro para cerca de US$ 110 a tonelada (t) ante US$ 80/t no início de novembro foi puxada também pelo sentimento positivo na China, mas nossa equipe de commodities vê mais potencial de alta, com o preço do minério de ferro devendo chegar a US$ 140/t no 2T23 , devido à produção de aço chinesa sequencialmente mais forte e oferta de minério de ferro sazonalmente mais fraca no 1S23 versus o 2S22”, avaliam.
Eles ressaltam também que a equipe de análise econômica do banco acredita que as medidas de relaxamento da Covid e o plano de resgate habitacional anunciados após o recente Congresso do Partido Comunista da China refletem um foco renovado no crescimento, sem perspectiva de que o país volte atrás. Eles preveem que o investimento combinado em ativos fixos imobiliários e de infraestrutura da China crescerá 1,9% ao ano em 2023, contra 1,2% ao ano em 2022 e -2,1% em 2021. “Diante desse cenário, esperamos que as ações da Vale continuem com tendência de alta nos próximos meses”, reforçam.
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Além disso, os analistas veem catalisadores para uma reclassificação dos ativos levando em conta dois fatores. Em primeiro lugar, uma resolução potencial sobre acordos de compensação sete anos após o desastre da barragem de Mariana e uma possível transação para liberar valor da unidade de metais básicos da Vale. Durante seu Investor Day, realizado na última quarta-feira, a mineradora afirmou que busca atrair um parceiro que ficará com fatia de até 10% de seu negócio de metais básicos, enquanto trabalha para aprimorar a gestão desses ativos e gerar mais valor.
Sobre o primeiro ponto, os analistas ressaltam que Vale, Samarco e BHP estão em negociações com as autoridades brasileiras (governos estaduais e promotores federais e estaduais) para buscar um acordo definitivo sobre as obrigações decorrentes do acidente da barragem de Mariana, ocorrido no final de 2015.
“Parece que um novo acordo pode ocorrer em breve, com base nos comentários do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo). Acreditamos que um acordo final, ao mesmo tempo em que limita o potencial de alta em dividendos extraordinários (já que a dívida líquida expandida da Vale chegaria ao limite superior de sua meta de US$ 10 bilhões a US$ 20 bilhões), provavelmente será um catalisador positivo para as ações que contribui para uma reclassificação, removendo um fator de incerteza e virando a página deste infeliz evento”, dizem os analistas.
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Eles atualizaram o modelo de avaliação das ações para refletir os possíveis termos de um novo acordo no cenário base, resultando em aproximadamente R$ 10 bilhões (Valor Presente Líquido, VPL) em provisões adicionais para a Vale, ou aproximadamente 2,5% de seu valor de mercado atual.
Já sobre metais básicos, uma das prioridades estratégicas da Vale é aumentar o valor que o mercado atribui a esse negócio. A administração planeja fazer isso 1) melhorando o desempenho das operações atuais e expandindo os volumes e 2) vendendo uma participação minoritária para ajudar a financiar os planos de expansão e apoiar uma reavaliação das ações da Vale. A empresa vê um potencial para o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) de metais básicos de US$ 3,3 bilhões a US$ 5,7 bilhões em 2024-2026 (contra a expectativa do Morgan de cerca de US$ 2,2 bilhões em 2022).
“Acreditamos que a empresa está em condições de mostrar progresso nessas frentes nos próximos meses, reforçando nossa convicção de elevar a recomendação das ações para overweight“, afirmam.
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Além disso, de acordo com comentários da administração feitos durante uma viagem de campo com investidores em setembro, a empresa está explorando possíveis parcerias para seus negócios de níquel/cobre.
“Achamos que uma parceria com um fabricante de veículos elétricos ou bateria poderia fazer mais sentido e acreditamos que esse tipo de comprador estratégico teria maior probabilidade de pagar um múltiplo atrativo. Fabricantes de veículos elétricos e empresas de baterias negociam a 31 vezes e 8,5 vezes o valor da empresa sobre o Ebitda (EV/Ebitda), respectivamente, bem acima das mineradoras diversificadas globais, que negociam em 4,6 vezes. Tal transação, se confirmada, poderia desencadear uma reclassificação das ações da Vale, que a US$ 16,80 negociam bem abaixo de nossas estimativas de valor de soma das partes de US$ 18 a US$ 19”.
Alba, Neto e Spiess apontam que a ação negocia atualmente a um múltiplo de 5,8 vezes o lucro esperado para 2023 – um grande desconto em relação à média de 5 anos de 10,7 vezes antes de 2019 (antes do desastre da barragem de Brumadinho).
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“No entanto, acreditamos que as melhorias marcantes da empresa nos padrões ESG (melhores práticas ambientais, sociais e de governança) desde 2019 suportam uma reavaliação de múltiplos”, avaliam.
A Vale ainda deve apresentar fluxo de caixa livre sólido nos próximos anos, permitindo que continue retornando o excesso de caixa aos acionistas por meio de dividendos/recompras, apontam os analistas.
Entre os riscos no radar ou “onde poderiam estar errados”, os analistas apontam que a China poderia inverter o curso em seus esforços de reabertura e/ou sua economia crescer abaixo da expectativa da equipe econômica do banco, o mercado de minério de ferro no 1S23 não apertar como esperado e os preços permanecerem próximos ou abaixo do nível atual. Por fim, outro risco é de a empresa novamente apresentar resultados abaixo do esperado na frente operacional de seus negócios de metais básicos e/ou fracassar em vender uma participação minoritária da divisão a um valuation atrativo.
Cabe ressaltar que, além de Vale, o Morgan revisou os seus números para a CSN Mineração (CMIN3), elevando o preço-alvo de R$ 5 para R$ 5,60 (potencial de alta de 51% frente o último fechamento), mas mantendo recomendação equalweight para os ativos negociados na B3.
Os analistas destacaram ter recomendação equivalente à neutra para os ativos apesar do grande potencial de valorização devido à incerteza em relação à entrega da expansão de capacidade planejada.
“A ação está sendo negociada em níveis atrativos em relação ao Ebitda esperado para 2023, mas acreditamos que os possíveis atrasos de seu plano de crescimento de capacidade impedirão uma reavaliação de múltiplos”, apontam. Os analistas projetam um rendimento de dividendos (dividend yield, ou valor dos dividendos em relação ao preço da ação) de cerca de 16% ao ano durante seu ciclo de expansão (2023-2030), mantendo a alavancagem abaixo de cerca de 1,5 vez a relação entre dívida líquida e Ebitda.
Visões mais cautelosas
Cabe destacar que, apesar do otimismo crescente com as ações da Vale em meio ao cenário para o minério de ferro, há casas que estão mais reticentes sobre os ativos da mineradora. Na véspera, logo após o Investor Day, o Goldman Sachs cortou o preço-alvo dos ADRs da Vale de US$ 12,50 para US$ 12, ou uma queda de 27% frente o fechamento dos ativos na véspera, mantendo recomendação neutra.
Os analistas cortaram as estimativas de Ebitda em 2% a 7% entre 2023 e 2024, tendo em vista a menor perspectiva de produção e maiores custos e despesas apresentadas pela companhia em suas novas metas. Para eles, a empresa já precifica as perspectivas de commodities nos próximos anos.