Vale: balanço traz esperança de que ruídos saiam (um pouco) de foco; ação tem dia volátil

Após chegar a subir 2,75% com ânimo pós-balanço, VALE3 amenizou os ganhos e fechou com leve alta de 0,24%

Lara Rizério

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O lucro de US$ 2,42 bilhões da Vale (VALE3) registrado no quarto trimestre de 2023 (4T23) teve queda anual de 35% e ficou abaixo do consenso de mercado, impactado por provisões por conta da Samarco, o que seria o prenúncio de uma reação negativa do mercado. Contudo, olhando além, analistas apontaram mais um forte trimestre para a ação da mineradora, com destaque para a queda de custos, mostrando que o desempenho recente das ações tem sido direcionado mais pelos diversos ruídos – sobre sucessão do CEO, novas provisões – do que pelas operações em si da mineradora.

No acumulado de 2024 até a véspera, as ações tinham baixa de cerca de 13%. Já a sessão pós-resultado foi de ânimo para os papéis, ainda que o ímpeto tenha diminuído acompanhando o mercado em geral. Além disso, especialistas atribuíram o enfraquecimento do papel à sinalização de cautela que executivos da companhia trouxeram durante a teleconferência de resultados sobre os dividendos. VALE3 fechou esta sexta-feira (23) com leves ganhos de 0,24%, a R$ 67,38, após chegar a subir 2,75% (R$ 69,07), com os analistas também vendo que os números apresentados podem trazer de volta algum foco dos investidores nas operações em evolução da companhia.

A XP ressalta que a Vale reportou resultados melhores que o esperado pela casa no 4T23, com lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) ajustado pró-forma de US$ 6,7 bilhões, 7% acima da projeção da casa.

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“Com os números operacionais já divulgados, destacamos as soluções de minério de ferro como destaque positivo (Ebitda ajustado +44% frente o 3T23), com custo caixa C1 (custo de produção da mina ao porto) de US$ 20,80 a tonelada (t) melhorando 5% na base trimestral. O valor no ano fiscal de 2023 foi de US$ 22,30 ligeiramente abaixo do guidance de US$ 22,50/t”, apontam os analistas.

O Itaú BBA também aponta o custo, mas de entrega na China, como destaque positivo, atingindo US$ 53,30 a tonelada ante US$ 55,70 no 3T23, apoiado por uma melhora sequencial de US$ 1,10 a tonelada no C1. A geração de caixa foi mais forte sequencialmente, subindo em linha com o aumento de Ebitda e atingindo US$ 2,5 bilhões.

A Genial, por sua vez, vê os números de receita (de US$ 13 bilhões) e o Ebitda em linha com as suas projeções, enquanto o lucro foi 43% abaixo do que esperava. “Mesmo que o lucro líquido tenha sido reportado abaixo das nossas projeções, ainda assim o mercado já havia reagido negativamente ao risco de a provisão acontecer em grau bem mais elevado que o guidance”, lembra.

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A percepção é de que investidores já estavam cientes dessa possibilidade, uma vez que a BHP (sócia da Vale na Samarco) havia comunicado dias atrás que iria dobrar as provisões relacionadas ao acidente do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG) no resultado do segundo semestre de 2023, que foi divulgado nesta semana pela companhia (antes da Vale divulgar o dela).

“Portanto, acreditamos que a queda das ações da Vale, em cerca de 5% na semana que antecedeu o próprio resultado da BHP, reflete a precificação do mercado da possibilidade, por sua vez, do resultado do 4T23 da Vale vir com um aumento considerável de provisão que empurrasse o lucro líquido para baixo, na hipótese de que, se a BHP aumentou consideravelmente o ritmo de provisão, a Vale poderia seguir pelo mesmo caminho”, aponta a Genial. A provisão para a Samarco, por sua vez, foi muito menor do que o BTG Pactual esperava (para US$ 4,2 bilhões, de US$ 3 bilhões / versus BHP de US$ 6,5 bilhões), o que acredita ter sido uma abordagem sensata da administração (pensando nas negociações futuras).

Para a Genial o mercado está subestimando a Vale, pois suas operações continuam sólidas apesar das pressões durante o ano sobre os preços do minério de ferro 62% Fe (caíram cerca de 13% desde janeiro) e demais overhangs que pressionam as cotações. O modelo da Genial sugere um potencial significativo de geração de fluxo de caixa com suporte para um dividend yield para 2024 atrativo (11% sem extraordinários e 13% com extraordinários no 2S24).

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“Como prova disso, a companhia anunciou uma distribuição excelente de dividendos, equivalente a cerca de US$ 0,55 por ação (R$ 2,74/ação), superando as nossas estimativas”, avalia a casa, que antecipava um dividendo de US$ 0,50 (já computando um aumento versus 3T23). A data de pagamento será no dia 19 de março, ficando ex em 12 de março, e compõe um “dividend yield [dividendo sobre o valor da ação] anualizado de exuberantes de cerca de 16%”.

A XP ressalta que a mineradora conta com uma posição confortável de balanço, com dívida líquida expandida de US$ 16,2 bilhões já incluindo uma provisão adicional relacionada à Samarco de US$ 1,2 bilhão (abaixo de suas expectativas de cerca de US$ 3,2 bilhões) e sem incluir a entrada de caixa da Vale Base Metals (VBM) de cerca de US$ 3,4 bilhões (que deverá ser incluída no saldo de caixa da Vale assim que a transação for concluída). Os analistas da casa, que elevaram esta a semana a ação VALE3 para compra, reiteraram a recomendação após o balanço.

O BBI também reiterou compra após o balanço, destacando que VALE3 negocia a um desconto substancial de 25% frente a seus pares, ante média histórica de 15%. “Vemos riscos limitados de queda para os preços do minério de ferro, uma vez que a falta de nova oferta deve tornar a trajetória dos preços menos dependente dos impulsionadores da demanda (estimamos que os preços do minério de ferro sejam em média US$ 130/tonelada no 1S24 e US$ 120/tonelada em 2024)”, apontam ainda.

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Para Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, o “fator China” segue sendo um peso para a Vale, visto que o país é o principal destino dos produtos da mineradora, principalmente o minério de ferro. O país asiático ainda luta para tentar retomar o crescimento, mas por enquanto o mercado não tem uma perspectiva muito clara do que se espera da economia chinesa no futuro, avalia. “Ainda assim, o minério de ferro ainda se encontra em patamares elevados, e isso é um cenário benéfico para a Vale devido a qualidade do seu minério de ferro, o que adiciona um prêmio adicional no preço da commodity, beneficiando a companhia”, complementa.

O BTG avalia que o resultado pode representar uma mudança na tendência recente das ações. “Em suma, acreditamos que estes resultados podem trazer de volta algum foco dos investidores na melhoria do desempenho operacional e da geração de caixa potencial, em vez de um foco em manchetes que têm (por vezes) impactos económicos limitados”, mantendo recomendação de compra.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.