Vale (VALE3): estratégia em metais básicos rende elogios, mas plano anima investidor?

Obstáculos para unidade de metais básicos ser precificada pelo mercado envolvem desde tempo para iniciativas acontecerem quanto histórico de desempenho dos ativos VALE3

Lara Rizério

Logo da Vale em escritório na Suíça (REUTERS/Denis Balibouse)
Logo da Vale em escritório na Suíça (REUTERS/Denis Balibouse)

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Revisão de ativos e um plano detalhado de entrega. A Vale (VALE3) realizou na última quinta-feira (20) webinar do seu segmento de metais básicos, contando com a presença do presidente da Vale Base Metals (VBM) da Vale, Mark Cutifani, a diretora comercial da VBM, Tina Litzinger, e o diretor de RI da Vale, Thiago Lofiego, evento que foi visto como positivo pelos analistas de mercado. Por outro lado, há questões sobre quanto isso pode impulsionar as ações.

A subsidiária avalia investir cerca de US$ 3,3 bilhões em medidas que visam ampliar a capacidade de ativos de cobre e níquel e reduzir custos de produção.

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Segundo a XP, foi apresentado: (i) um plano estratégico detalhado, com várias oportunidades para aumentar a capacidade de produção de cobre em 100 mil toneladas por ano (ktpy) e níquel em 40 ktpy até 2028+; (ii) melhoria de volumes potenciais (entre 5% e 10%) e redução de custos (cerca de 10%) impulsionando melhor desempenho operacional, com ganhos iniciais implicando um lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) incremental de cerca de US$ 400 milhões até 2026 e por volta de US$ 1,3 bilhão até 2028 em diante; e (iii) expectativas de um mercado apertado para cobre e níquel, dada a demanda acelerada de veículos elétricos, baterias e energia renovável, com adições de capacidade limitadas.

As oportunidades para aumento da capacidade passam pela estabilização da produção e aumento da produtividade em Salobo, elevação da produção em Sudbury, enquanto melhora a estabilidade alimentar em Sossego. Além disso, houve o mapeamento para aprimorar produtividade e iniciativas de baixo capital, incluindo o aumento da capacidade da mina e da utilização de processamento em Sudbury e o ramp-up (evolução das operações) completo da unidade de metais básicos, enquanto maximiza a capacidade da fábrica em Voisey’s Bay.

O plano estratégico detalhado sobre a VBM foi visto com bons olhos pela XP, que apontou o mapeamento de várias oportunidades pela Vale. Para o JPMorgan, a Vale agora tem um plano claro para cada ativo de sua divisão de metais básicos, plano este profundamente revisto e discutido. “Agora é tudo uma questão de cumprir o plano e vemos isso como positivo para o segmento e para a empresa”, ressaltou o banco americano.

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A Genial Investimentos avalia que toda a operação e estratégia apresentada na revisão de ativos da unidade de metais básicos parece excelente. Contudo, as boas notícias no segmento não costumam animar muito os investidores, “o que é uma infelicidade e vai contra um movimento parcial de fundamentos, uma vez que acreditamos que a VBM está saindo basicamente ‘de graça’ dentro do valuation de mercado atual da companhia”, aponta a casa de análise.

Os analistas da Genial ressaltam que, quando há alguma notícia ruim (como a revisão para baixo do guidance de produção de cobre para 2023 ocorrida em outubro do ano passado), as ações podem vir a apresentar queda, principalmente se o mercado em geral já estiver com um sentimento mais negativo (bearish) em relação ao case, como tem sido nos últimos doze meses. Para os analistas, isso ocorre uma vez que acaba se amontoando razões para os investidores que estão operando vendido no papel.

Mas quando um grande anúncio positivo é feito, diante do forte aumento de volume e redução de custo considerável que foram anunciados na apresentação de ontem, ainda assim as ações ganham um fôlego tímido, tendo obtido uma alta de apenas cerca de 1% durante a sessão de negociações.

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A Genial ressalta a forte correlação entre a volatilidade das ações da Vale versus a curva spot do minério de ferro – não das curvas de preço de cobre ou níquel, o que é amplamente conhecido.

“Parece ser quase óbvio ressaltar que, historicamente o que parece condicionar o aporte de investidores em Vale são (i) as perspectivas do cenário macroeconômico para a China, bem como (ii) fundamentos do minério de ferro, carro-chefe da companhia, no balanço entre oferta e demanda desta commodity em particular. Portanto, ambos os fatores não possuem conexão com a capacidade micro da Vale de realizar a otimização dos ativos de cobre e níquel”, avalia a Genial, apesar de não concordar totalmente com a ótica do mercado.

Para o Bradesco BBI, os principais executivos da VBM detalharam o caminho para desbloquear valor em cada um dos ativos, ao mesmo tempo em que definiram as prioridades da divisão nos próximos anos, o que é positivo. Por outro lado, poderá levar mais tempo para que os investidores avaliem essas iniciativas. “Em nossa opinião, a VBM tem uma tese de investimento interessante, mas que depende de: (i) melhorias de custos em suas operações de níquel; e (ii) desbloqueio de iniciativas de crescimento em suas operações de cobre”, avalia.

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O BBI tem recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra) para o ADR (recibo de ações negociado na Bolsa de Nova York) VALE, com preço-alvo de US$ 19, ou potencial de alta de 68% frente o fechamento de quinta-feira. A XP também reitera recomendação de compra, enquanto espera que o valor da Metais Básicos seja desbloqueado assim que o desempenho operacional melhorar, mesma recomendação da Genial (com preço-alvo de R$ 78,50 para VALE3, upside de 28%).

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.