Vale: com queda de 23% em 2024 e pior valor desde 2016, ação é oportunidade na Bolsa?

Analistas mais otimistas veem bom rendimento de dividendos, enquanto cenário para minério deixa parte do mercado mais pessimista

Lara Rizério

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O ano de 2024 terminou de forma melancólica para as ações da Vale (VALE3), que fecharam com queda de cerca de 23% no acumulado do período, o pior retorno desde 2015. Em dólares, o valor de mercado da mineradora caiu para abaixo de US$ 40 bilhões pela primeira vez desde 2016 (excetuando-se algumas semanas durante a crise da Covid-19), conforme destacou o Citi em relatório desta semana.

2025 também não começa de forma positiva para as ações da VALE3, com queda de 5,5% apenas nas 5 primeiras sessões do ano.

Muito deste desempenho negativo vem do desempenho do minério de ferro, que caiu cerca de 15% em 2024, em um período marcado por queda de preços, devido a fatores como a demanda fraca da China, altos estoques e margens apertadas das siderúrgicas. A tendência se mantém neste ano, com os principais contratos atingindo mínimas em sete semanas em meio a recentes decepções com estímulos da China.

Com este cenário se desenhando, há espaço para ficar otimista com as ações da VALE3?

Para boa parte dos analistas de mercado, sim, ainda que haja mais casos de cautelosos com as ações da companhia.

O Citi ressalta que, mesmo com a queda do minério afetando as ações da Vale, VALE3 oferece dividendos suficientes para compensar o investimento. “À primeira vista, o valor de mercado abaixo de US$ 40 bilhões parece subvalorizado em relação à média de 10 anos”, aponta o banco, que reiterou compra para os ADRs (recibo de ações negociado nos EUA), ainda que reduzindo o preço-alvo dos ativos de US$ 15 para US$ 12, um potencial de alta de 41% frente o fechamento de quarta-feira (8).

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O Citi vê os ativos de minério de ferro como subvalorizados pelo mercado e aponta que eles têm sido, de longe, a maior vaca leiteira para a indústria global de mineração nos últimos 50 anos. Períodos de preços baixos são dolorosos, mas acabam por resultar numa oferta reconsolidada, avaliam os analistas.

A estimativa do banco é de que o preço do minério de ferro fique em US$ 95 por tonelada em 2025, uma queda de cerca de 10% frente o fechamento de 2024. Contudo, mesmo com a queda, haverá equilíbrio entre oferta e demanda: “Esse cenário se baseia na suposição de que a produção de aço bruto da China atingiu o pico e haverá diminuição gradual. O fornecimento do Brasil e da Austrália deve ser mais forte novamente em 2025, exigindo cortes em outros lugares.”

De qualquer forma, vê que a Vale deve reverter o pessimismo se acelerar a geração de caixa e a remuneração aos acionistas, avalia.

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O Citi estima um lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) de US$ 13,8 bilhões para a Vale em 2025. O banco avalia que o minério pode surpreender as expectativas mais negativas do mercado este ano, o que permitiria um dividend yield (rendimento de dividendos, ou dividendo sobre o preço da ação) de 9% no ano.

O Bradesco BBI também segue otimista com VALE3. O banco atualizou as suas estimativas e os preços-alvo em todo o universo de cobertura de Siderurgia & Mineração, favorecendo a Vale versus siderúrgicas – com a Vale agora sendo a única recomendação de compra – enquanto rebaixou Gerdau (GGBR4) e Usiminas (USIM5) de compra para neutra.

Com as ações da Vale com desempenho inferior ao Ibovespa nos últimos 12 meses (-44% em dólares versus -29% dos pares australianos e -27% do MSCI LatAm), o dilema sobre comprar em retrações surgiu como um tópico importante de discussão entre os investidores, avalia o banco.

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“Embora a Vale permaneça altamente dependente da narrativa sobre a China, acreditamos que sua história do micro para macro (bottom-up) melhorou nos últimos meses e um impulso mais forte do fluxo de caixa livre (FCF) pode sustentar o desempenho do preço de suas ações em 2025. Vemos a Vale sendo negociada a um atraente rendimento de FCF de 15% esperado para 2025 (com o preço do minério de ferro em US$ 100/tonelada)”, apontam os analistas do BBI.

No início do ano, em seu radar de preferências, o Itaú BBA trocou a Gerdau pela Vale, ainda que avaliando que o setor de Mineração e Siderurgia atravessa um momento desafiador. Do ponto de vista global, o cenário imobiliário ainda fraco na China está pressionado os preços de minério de ferro e aço. Internamente, a potencial desaceleração do PIB deve resultar em um crescimento de demanda por aço mais fraco. “Dessa forma, neste momento, damos preferência a empresas que possuem melhor perspectiva de geração de caixa, como é o caso da Vale e de Gerdau”, aponta.

A Vale é a ação preferida no setor de Mineração e Siderurgia do BBA em função do valuation mais atrativo e melhor geração de caixa e com dividend yield de 8%. Adicionalmente, destaca a potencial melhora operacional da empresa, impulsionada por crescimento de volumes de vendas e menores custos.

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Parte do mercado cética

Por outro lado, há uma parte do mercado que segue sendo cética com as ações, conforme evidenciado pelas recomendações compiladas pela LSEG/Reuters. De 17 casas que cobrem os papéis VALE3, 9 possuem recomendação de compra e 8 possuem recomendação neutra, ainda que com um preço-alvo médio de R$ 81,26 (ou potencial de alta de 58% frente o fechamento de quarta).

O BTG Pactual destacou, em relatório no fim do ano, que a companhia está zerando as suas pendências, mas continua neutro com as ações, com preço-alvo de R$ 65. O banco fez a análise logo após a renegociação considerada positiva da Vale dos contratos de concessão ferroviária da Estrada de Ferro Carajás (EFC) e da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) com o governo, no fim de 2024.

O banco continua vendo alguns eventos positivos na história da Vale recentemente, como a história melhor para os volumes produzidos de minério de ferro, os desenvolvimentos positivos em relação ao acordo da Samarco (com o valor do acordo definitivo abaixo das nossas expectativas) e agora com as renegociações da concessão ferroviária resolvidas (com apenas um modesto ajuste nas provisões).

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“No entanto, estamos optando por esperar por maior clareza no ambiente macro antes de fazer quaisquer mudanças significativas. Além disso, a história macro chinesa continua vulnerável (apesar das recentes discussões sobre estímulos), adicionando pressão em todo o setor siderúrgico e sobre os preços do minério de ferro. Ainda lutamos para ver uma valorização substancial do múltiplo/valuation com ações sendo negociadas a cerca de 4 vezes o Ebitda esperado para 2025 e rendimentos de dividendos na faixa de 5-7%”, avalia a equipe de análise.

A previsão da casa é de mais revisões negativas para a empresa em 2025, à medida que os investidores ‘marcam a mercado” um ambiente de preços de minério de ferro materialmente mais fraco à frente.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.