Vale (VALE3) cai 10% em 2024: o que é efeito minério e o que é “risco Mantega”?

Queda do minério é vista como principal causa da baixa; analistas minimizam "questão Guido Mantega", mas colocam risco no radar

Vitor Azevedo

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Uma virada de ano costuma trazer consigo sempre um pouco de otimismo, mas para a Vale (VALE3) a entrada de 2024 trouxe um leve banho de água fria. Após as ações da mineradora terem subido mais de 25% de agosto até dezembro de 2023, este janeiro está sendo marcado por uma revisão de cenário, com os papéis em queda acumulada até a última quinta-feira (18) de 10,62%, fechando a R$ 69.

Nos últimos dias, além da queda do minério do ferro (que passou de US$ 140 para US$ 130 nas poucas sessões deste ano), o noticiário sobre as tentativas do Governo Federal de emplacar o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, como executivo da mineradora entraram no radar como uma possível fonte de risco para os ativos. As indicações eram de uma possível ida ao Conselho da companhia, mas há articulações até mesmo para que ele seja o novo CEO (o atual presidente da companhia, Eduardo Bartolomeo, tem contrato em vigor até 31 de maio). Contudo, de acordo com analistas de mercado, a desvalorização dos ativos VALE3 vem em grande parte dos movimentos da commodity durante o ano – apesar do risco de interferência governamental estar no radar.

A Vale, durante seu último rali, acompanhou majoritariamente o preço da commodity, que subiu de cerca de US$ 110 em agosto a tonelada para alcançar mais de US$ 140 no pico, nos últimos dias de dezembro. Agora, ela está mais próxima dos US$ 130. 

Mesmo durante a alta, alguns analistas sustentavam um ceticismo com a permanência do minério nos patamares em que estava. No começo de dezembro, no meio do rali, a Genial Investimentos ponderou que enxergava um recuo dos valores da commodity, mencionando que os estímulos do governo chinês tinham impactos limitados, com o país enfrentando uma crise de construtoras, problemas de crédito e inversão da pirâmide populacional.

Perspectivas de queda para o minério

E, mesmo após a queda recente, alguns trazem a perspectiva de que a tendência baixista se manterá para a commodity. De acordo com análise da Julius Baer desta semana, a queda estrutural no consumo do aço é um dos motivos para a redução das projeções mais positivas para os preços do minério de ferro. A consultoria entende que as tendências econômicas mais suaves apresentadas pela China, em especial com os dados divulgados nesta quarta-feira, são insuficientes para sustentar a demanda por metais industriais. A análise cita também o mercado imobiliário chinês como “em declínio estrutural”, sustentando que a demanda por aço deverá seguir o movimento e apresentar uma queda estrutural. 

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Antonio Heluany, sócio e analista da Taruá Capital, lembra que, nos últimos dias de 2023, o mercado já caminhava para um cenário de maior cautela, com os relatórios sobre produção de aço no país sinalizando uma queda de produção – cenário que tende a se manter em 2024.                                   

“No ano passado esse problema foi uma constante. O que segurou foram os estímulos no setor de infraestrutura e exportação, que também foi bem. Parte da produção chinesa de aço acabou sendo exportada, já que a demanda caiu”, lembra, citando que o país exportou 90 milhões de toneladas de aço em 2023. 

Em 2024, a China, segundo ele, deve continuar a ver sua construção civil fraca. Já no caso da exportação de aço chinês, que ajudou o preço do minério, é necessário ver se o país não irá encarar restrições de venda. As siderúrgicas brasileiras, por exemplo, vêm cobrando que as autoridades aumentem suas taxas sobre a importação de aço chinês.

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“Já na demanda chinesa, do setor de infraestrutura, teremos de ver o que é demanda real. Xi Jinping, presidente do país, falou agora em Davos que a China tentará não viver apenas de estímulos. Isso também pode pesar na demanda”, fala Heluany. 

Para ele é normal o otimismo recuar frente a quando o minério vinha subindo. No entanto, mesmo que o preço caia mais, a visão é que um preço médio de US$ 120 para a tonelada do minério no ano é algo ainda positivo. “Com a queda, tem muita gente fazendo conta, vendo se os dividends yields, medida de rendimento por meio do valor dos dividendos sobre o preço da ação, estão atrativos. O risco é comprar e a commodity cair mais”, pondera.

Fernando Ferrer, analista da Empiricus, menciona que o preço do minério volátil impacta os papéis e o cenário da China, por enquanto, não está claro. Mas, para ele, a empresa deve “continuar seu trabalho de priorizar qualidade sobre volume”, com yield atrativo e um possível gatilho positivo, de olho no IPO do braço de metais básicos.

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Quanto à possível indicação de Mantega para a Vale, ambos os analistas ouvidos pelo InfoMoney mencionaram que, apesar de negativa, ela não é vista como um risco central para a companhia. “Existe um risco, mas eu diria que é baixo. Isso já foi ventilado há um tempo. Se, eventualmente, ele entrar no conselho da Vale [e não como CEO], com ajuda da Previ, o impacto é pouco relevante. Se ninguém estiver alinhado com ele, nada acontece”, explica o gestor da Tauá.

“Se mostra, sim, uma ingerência política na companhia e não deve ser bem recebida. Mas, por ora, tenho enxergado um risco pequeno, fora que a Vale está negociando um custo barato, bem descontado em relação aos pares, considerando os dividendos e ainda o possível o IPO do braço de metais básicos”, diz Ferrer. “Mesmo com a neblina, tanto do minério quanto do Mantega, continuo gostando da Vale, apesar de ter diminuído na carteira”.

O Bradesco BBI também destaca as notícias de que um dos principais candidatos ao cargo de CEO é Luis Henrique Guimarães, conselheiro da Vale e braço direito de Rubens Ometto, dono da Cosan (CSAN3), empresa que detém fatia de 4,9% na mineradora. Em análise em meados de 2023, quanto o “risco Mantega” veio à tona, o banco destacou ver a possível indicação do ex-ministro ao cargo de CEO como improvável e manteve recomendação equivalente à compra (outperform, desempenho acima da média do mercado) para os ativos, que se mantém.

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Atualmente, segundo dados da LSEG, as ações ordinárias da Vale têm treze recomendações de compra, cinco neutras e uma de venda. O preço-alvo está em R$ 93, com potencial de alta de 34,7% frente ao fechamento desta quinta.