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A Vale (VALE3) divulgou seus números referentes ao primeiro trimestre de 2022 na noite da última quarta-feira (27), com um lucro líquido de US$ 4,48 bilhões, queda de 19,6% em relação ao mesmo período do ano anterior.
A sessão começou positiva para a ação, em linha com o movimento dos ADRs (recibo de ações negociados na Bolsa americana), que registravam alta desde a noite da véspera no after market da Bolsa de Nova York logo após a divulgação do balanço.
No início do pregão, os ativos VALE3 operavam com alta de mais de 2%. Contudo, mais do que o resultado em si, outros anúncios, como o programa de recompra de ações, além da alta do minério de ferro na sessão, estavam impulsionando os ativos.
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Cabe ressaltar que, ainda na primeira hora do pregão, os papéis chegaram a virar para a queda em meio à notícia de que a mineradora violou as leis de valores mobiliários ao fazer divulgações falsas e enganosas sobre a segurança de suas barragens antes de um desastre de 2019 que matou 270 pessoas em Brumadinho (MG), mas os papéis voltaram a ter ganhos, ainda que mais fracos. Em nota, a companhia negou as alegações, incluindo a de que suas divulgações violaram a lei dos Estados Unidos, e afirmou que defenderá vigorosamente este caso. “A companhia reitera o compromisso que assumiu logo após o rompimento da barragem, e que a tem guiado desde então, para a remediação e a reparação dos danos causados pelo evento”, afirmou. Os papéis voltaram a registrar ganhos, fechando em alta de 2,47%, a R$ 84,20.
Voltando ao resultado do primeiro trimestre de 2022, a receita da companhia atingiu US$ 10,8 bilhões no primeiro trimestre, abaixo dos US$ 12,5 bilhões de um ano antes e abaixo do consenso de US$ 11,7 bilhões. Além disso, o faturamento caiu também na base trimestral – uma vez que a companhia fechou o trimestre encerrado em dezembro com receita de US$ 13,1 bilhões.
Na base trimestral, o faturamento da Vale regrediu mesmo com o preço de referência do minério de ferro 62% Fe tendo avançado 29% na mesma comparação, para US$ 141,1 a tonelada. A queda se deu porque a alta dos preços não conseguiu remediar totalmente, segundo a própria companhia, a baixa da produção.
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Com relação ao balanço em si, o destaque (não tão positivo), ficou para o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) recorrente, que foi de US$ 6,3 bilhões, frustrando levemente o consenso da Refinitiv, que previa um Ebitda de US$ 6,4 bilhões.
A principal razão para o número menor do que o esperado, aponta o Bradesco BBI, ficou para a decepção com metais básicos devido aos menores volumes de cobre e menores preços realizados de níquel, enquanto os números de minério de ferro foram sólidos e melhores do que o esperado na avaliação dos analistas. Embora os volumes tenham sido sazonalmente fracos, os preços do minério em US$ 141 a tonelada ficaram acima da estimativa do banco de US$ 137 a tonelada.
A XP também ressalta que os volumes mais fracos no primeiro trimestre afetaram os resultados da Vale, apesar de um ambiente de preços muito saudável para minério de ferro e níquel. De acordo com os analistas da casa, em meio aos menores volumes, a Vale teve resultados piores do que o esperado. Além disso, apontam, a geração de fluxo de caixa, ainda que forte em US$ 1,2 bilhão, não foi “impressionante”, principalmente por causa de um pagamento sazonal de imposto de renda mais alto (mas melhor do que a queima de caixa do último trimestre).
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O Itaú BBA apontou que os resultados da mineradora foram “ok”, mas também ressaltou o Ebitda 2% abaixo das suas estimativas. A deterioração sequencial no Ebitda, além de ser puxada pelo volumes de minério de ferro sazonalmente menores, também foi impactada pelos custos C1 – ou custo de produção dos finos de minério de ferro da mina ao porto – mais altos e um desempenho mais fraco na divisão de metais básicos, que mais do que compensou os preços mais altos do minério de ferro.
Porém, ofuscando os números não tão empolgantes, o anúncio de um novo – e agressivo – programa de recompra de ações, para substituir o atual programa que está próximo de ser concluído, animaram os investidores.
O novo programa de recompra será limitado a 500 milhões de ações (cerca de US$ 8,3 bilhões a preços atuais de mercado) ou cerca de 10% das ações em circulação. O programa será realizado nos próximos 18 meses e após a conclusão do programa atual.
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“Assumindo uma execução pro rata nos próximos 12 meses e considerando os dividendos mínimos a serem pagos
em 22 de setembro e 23 de março, calculamos a remuneração total aos acionistas de US$ 13,3 bilhões no período, ou 17% do valor de mercado atual, a mais alta em nossa cobertura e provavelmente a mais alta entre as principais mineradoras
globais”, apontaram os analistas do Bradesco BBI.
A XP também ressaltou que o anúncio do novo programa de recompra representa um claro sinal de confiança da administração na avaliação barata das ações. “Concordamos com a opinião da Vale e mantemos nossa recomendação de compra no nome”, apontam os analistas da casa, que possuem preço-alvo de R$ 97 para os ativos VALE3, um potencial de valorização de 18% em relação ao fechamento da véspera.
O Bradesco BBI também possui recomendação equivalente à compra (ou outperform, desempenho acima da média do mercado) com preço-alvo para os ADRs de US$ 25, ou um potencial de valorização de 60% em relação ao fechamento da véspera. Com relação ao ativo VALE3, o preço-alvo é de R$ 135, upside de 64%.
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“Apesar da atividade econômica mais fraca na China no curtíssimo prazo, acreditamos que os preços do minério de ferro provavelmente não serão corrigidos significativamente, especialmente porque o país acelera o estímulo à infraestrutura”, avaliam os analistas.
O Itaú BBA também tem recomendação outperform para os ADRs da Vale, com preço-alvo de US$ 19, ou potencial de valorização de 16% em relação ao fechamento de quarta. Sobre o programa de recompra, os analistas do BBA apontam: “Acreditamos que o anúncio está alinhado com as recentes decisões de alocação de capital da empresa, que vêm priorizando o retorno aos acionistas devido aos requisitos limitados para capex (despesas de capital) à frente”.
Mas a visão positiva para as ações não é unânime: tanto Goldman Sachs quanto Morgan Stanley possuem recomendação equivalente à neutra para a companhia (no caso do Morgan, underweight, ou exposição abaixo da média). Isso ainda que o Morgan possua um preço-alvo de US$ 22 para os ADRs, com potencial de alta de 34% em relação ao fechamento da véspera, e o Goldman tenha um target de US$ 19,50 (upside de 19%).
Entre os motivos para a sua recomendação, o Morgan aponta o desempenho recente superior frente ao Ibovespa e à Rio Tinto e os riscos no radar em meio a um possível processo de estagflação no ano, ainda que destaquem que o forte fluxo de caixa deve guiar novos retornos aos acionistas por meio de dividendos ou programa de recompra de ações.
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