Vale rumo aos dividendos, nova decepção com Cielo e alerta com RD após ótimos números: os destaques dos balanços

Temporada de resultados ganha destaque e também guia desempenho da bolsa: Minerva e Smiles também apresentaram seus números

Lara Rizério

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Além do noticiário político bastante movimentado, o radar corporativo vem ganhando força com o início da temporada de resultados do primeiro trimestre, que já trouxe números e tendências em tempos de coronavírus para grandes companhias da bolsa.

Vale (VALE3, R$ 46,73, +4,75%) trouxe números que não animaram tanto, mas a perspectiva positiva fez com que as ações tivessem bons ganhos na sessão, enquanto a RD (RADL3, R$ 108,58, -1,78%) teve números fortes, assim como a WEG (WEGE3, R$ 41,40, -0,43%), mas o valuation levou a leves perdas das companhias.

Por outro lado, Cielo (CIEL3, R$ 4,23, +1,20%) decepcionou no balanço, mas teve a recomendação elevada pelo Credit Suisse em meio à forte queda já registrada pelos papéis no ano. Quem animou mesmo foi a Minerva (BEEF3, R$ 12,30, +3,36%), com resultados fortes e perspectiva positiva para exportações.

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Confira o que os analistas acharam dos resultados que movimentaram a sessão:

Vale (VALE3, R$ 46,73, +4,75%)

Um resultado sem brilho, bem abaixo do potencial – mas o caminho é positivo, com a companhia seguindo em trajetória de recuperação após a tragédia de Brumadinho, ocorrida em 25 de janeiro de 2019, e na rota para voltar a pagar dividendos. É essa a avaliação geral dos analistas para o resultado da Vale.

A Vale lucrou US$ 239 milhões no primeiro trimestre deste ano, revertendo um prejuízo de US$ 1,642 bilhão visto um ano antes. No trimestre anterior, a mineradora havia registrado perda de US$ 1,562 bilhão.

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Já a receita operacional líquida da companhia caiu de US$ 8,203 bilhões no primeiro trimestre de 2019 para US$ 6,969 bilhões nos três primeiros meses deste ano. No trimestre anterior, a cifra havia sido de US$ 9,964 bilhões. O Ebitda ajustado, por sua vez, ficou em US$ 2,882 bilhões entre janeiro e março de 2020, ante US$ 3,536 bilhões no trimestre anterior e um resultado negativo de US$ 652 milhões registrado um ano antes.

Em reais, o lucro líquido da Vale no primeiro trimestre deste ano foi de R$ 984 milhões, bem abaixo das estimativas de analistas compiladas pela Bloomberg, de R$ 5,184 bilhões. Já a receita líquida da companhia ficou em R$ 31,3 bilhões, também abaixo do esperado (R$ 37,354 bilhões). Veja mais sobre o balanço clicando aqui. 

A dívida líquida da mineradora, de US$ 4,808 bilhões, permaneceu praticamente estável em relação ao último trimestre de 2019 (US$ 4,880 bilhões). Um ano antes, o valor era de US$ 12,031 bilhões.

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O Banco Safra vê o balanço impactado por menores volumes de embarque de minério de ferro, como o previsto a partir dos números operacionais.

O Credit Suisse também aponta que, no geral, os números foram pressionados principalmente por um menor volume de embarques e queda no preço dos metais básicos. Além disso, destaca, a geração de caixa foi fraca mas, ainda assim, a relação entre dívida líquida e Ebitda caiu de 0,5 vez para 0,3 vez. “Apesar dos resultados bem abaixo do potencial, este trimestre muito provavelmente deve ser o pior para a Vale no ano, já que o minério de ferro deve recuperar por agora em diante e o custo de caixa deve cair de acordo com a empresa”, avalia.

Os bancos Itaú BBA, Bradesco BBI e Morgan Stanley, por sua vez, ressaltaram que não houve nenhuma surpresa, embora os números tenham vindo ligeiramente acima das estimativas

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O BBI ressaltou que como as provisões para Brumadinho tendem a diminuir, por conta dos acordos já feitos, a Vale deve retomar sua política de pagar dividendos aos acionistas, em algum momento mais para a frente em 2020. Os analistas do banco mantiveram a recomendação outperform – acima da média, para o ADR da Vale negociado na NYSE, com preço-alvo de US$ 12 – alta de 52% sobre os US$ 7,88 de ontem.

Para o Itaú BBA, a Vale reportou “números relativamente em linha” com as expectativas para o trimestre. O BBA também crê que a mineradora entregará melhores resultados nos próximos trimestres, em parte pela redução nos custos dos fretes do minério de ferro, em parte pela redução das provisões para Brumadinho. O BBA também mantém a recomendação outperform e preço-alvo de US$ 12 para o ADR da Vale na NYSE.

O Morgan Stanley destacou ainda que o Ebitda da Vale chegou em linha na maioria dos setores. Além da queda nas provisões para Brumadinho, o Morgan ressaltou como fatores positivos a queda no preço dos fretes marítimos e o aumento do preço do níquel, que favoreceu a Vale – a empresa tem minas de níquel no Canadá. Como aspecto negativo, o banco notou que a Vale teve forte queda no fluxo de caixa. O Morgan mantém a recomendação overweight – acima da média de mercado, com preço-alvo de US$ 13. “A ação da Vale está muito barata para ser ignorada”, comentou o banco.

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O resultado considerado saudável também foi beneficiado pela resiliência dos preços do minério de ferro, que ficaram na média dos US$ 89 por tonelada no período, acima dos US$ 82,7 registrados no mesmo período do ano passado. Além disso, a escalada alta do dólar também repassou ganhos na sua linha de receitas, o que ajudou a compensar os volumes mais baixos de produção no período, destaca a Levante Ideias de Investimento.

Além disso, os analistas da Levante avaliam que os estímulos do governo chinês como também à saída antecipada da China da quarentena beneficiaram as operações da Vale neste período.

Contudo, ainda é cedo para “cantar vitória”, apontam. “Na sua prévia, a empresa alertou para uma possível piora do quadro, após a decisão de limitar suas operações no Canadá e na Ásia. Ademais, a resiliência dos preços do minério de ferro neste ano poderá ser testada em breve, pois as principais mineradoras estão prestes a aumentar a produção, mesmo com o risco de que o vírus continue atrapalhando o funcionamento das cadeias de produção”, complementam os analistas.

Dentre as sinalizações destacadas pela gestão da companhia em teleconferência, algumas foram consideradas bastante positivas pelo mercado, o que inclusive levou os papéis a intensificarem os ganhos. A gestão da mineradora sinalizou que está pronta para pagar dividendos, apenas esperando ceifar o cenário para o coronavírus.

A administração observou que o principal impedimento para o restabelecimento da política de dividendos é o nível de incerteza ainda alto em torno da doença o que, na opinião do Bradesco BBI, sugere que Brumadinho não é mais um obstáculo para dividendos, principalmente porque a Vale vem avançando rapidamente nos desembolsos de indenizações e reparação ambiental.

“Do ponto de vista financeiro, a Vale está pronta para retomar o pagamento de dividendos (“dívida líquida expandida” já na meta somada à perspectiva saudável para a geração de fluxo de caixa livre). Uma vez que a Vale obtenha mais clareza sobre as condições de mercado, deverá priorizar a linha de crédito rotativo antes de restabelecer sua política de dividendos (o que deve acontecer no segundo semestre de 2020)”, apontam os analistas do Bradesco BBI.

A companhia ainda apontou que o coronavírus elevará custos em US$ 500 mi por conta de paradas. Contudo, cortes de investimentos compensarão a maior parte do aumento de gastos, destacou o CFO da Vale, Luciano Siani Pires, anda apontando que a valorização do dólar ante o real teve impacto positivo líquido para a companhia.

Cielo (CIEL3, R$ 4,23, +1,20%)

Mais uma vez, a Cielo desapontou em seu resultado do primeiro trimestre, mostrando um lucro líquido de R$ 166,8 milhões no primeiro trimestre de 2020, queda de 69,4% na comparação com igual período do ano anterior, quando lucrou R$ 544,77 milhões.

“A queda reflete tanto o aumento na competição, quanto os efeitos já esperados de queda dos volumes neste primeiro trimestre devido à pandemia do coronavírus”, destaca Marcel Campos, analista da XP Investimentos. O Itaú BBA também aponta, por consequência, a performance ruim na antecipação de recebíveis.

O Ebitda ficou em R$ 573,8 milhões no período, queda de 30,7% na base de comparação anual e abaixo da estimativa do consenso Bloomberg de R$ 642 milhões.

A receita líquida operacional do período totalizou R$ 2,83 bilhões, alta de 2% na comparação com os R$ 2,774 bilhões do ano anterior e com uma redução de e uma redução de 4,9% em relação ao trimestre anterior.

“Em relação ao quarto trimestre, a redução do volume transacionado, e consequentemente da receita, ocorreu devido à sazonalidade do negócio de adquirência da Cielo, da gestão de cartões da Cateno, assim como pelos primeiros efeitos da pandemia [de coronavírus]”, afirmou a companhia em seu release de resultados. A base de clientes ativos também caiu 6,6% no trimestre quando comparamos com o quarto trimestre, para 1,5 milhão de clientes. “Possivelmente também explicado pela pandemia, uma vez que a base estava aumentando trimestre a trimestre”, avalia a XP.

O volume financeiro transacionado no trimestre caiu 16% quando comparado ao trimestre imediatamente anterior e igual ao mesmo trimestre do ano anterior.

O Bradesco BBI destacou que os resultados da Cielo vieram “infelizmente” em linha com as estimativas do banco, uma vez que os números estavam abaixo do consenso do mercado. “O lucro líquido de R$ 167 milhões no 1º trimestre chegou em linha com nossa estimativa, mas bem abaixo do que projetava o mercado (R$ 232 milhões)”, comentou o BBI. Como aspecto positivo, o BBI observa que a Cielo parece estar mirando em “clientes de melhor qualidade”.

Contudo, o BBI alerta que a crise do coronavírus, cujos resultados só começaram a impactar o setor no final de março, deverá mostrar efeitos mais negativos no 2º trimestre sobre todas as empresas do segmento, não apenas a Cielo. “É possível que as empresas mostrem prejuízo no 2º ou no 3º trimestre”, avalia o BBI. O banco manteve a recomendação neutra para a Cielo mas cortou o preço-alvo da ação de R$ 5,50 para R$ 5,00 em 2020, igual recomendação da XP Investimentos.

O Itaú BBA, por sua vez, revisou o preço-alvo para 2020 das ações de R$ 5,50 para R$ 4,60, o que representa um potencial limitado de alta de 10% frente o fechamento da véspera, mantendo recomendação marketperform (desempenho em linha com a média do mercado).

Por outro lado, o Credit Suisse elevou a recomendação dos papéis para neutra, com preço-alvo de R$ 4,80 (que foi reduzido ante R$ 6). “As tendências operacionais não apoiam nenhum otimismo com os resultados de curto prazo. Contudo, as ações da Cielo já caem 48% no acumulado de 2020, ante 32% da PagSeguro e 40% da Stone. Aos preços correntes, as ações refletem basicamente o valor da Cateno e a posição de caixa”, apontam os analistas.

RD (RADL3, R$ 108,58, -1,78%)

Bastante impactada pelo coronavírus, só que desta vez se traduzindo em números melhores no curto prazo, esteve a rede líder de farmácias RD, que teve um lucro líquido de R$ 152,8 milhões no primeiro trimestre de 2020, alta de 45% na comparação com os R$ 105,5 milhões registrados em igual período de 2019. O Ebitda ajustado foi de R$ 369,35 milhões, alta de 36,7%.

A receita bruta foi de R$ 5,2 bilhões, com crescimento de 25,3% (11,5% para lojas maduras no varejo). A margem Ebitda ajustada foi de 7,1%, alta de 0,6 ponto percentual.

Uma combinação entre boa execução de negócios, resiliência do seu setor de atuação durante a pandemia (uma vez que foi um dos poucos segmentos que seguiu com as lojas abertas) e a continuidade do plano de expansão são vistos como pontos positivos. Porém, dois aspectos afetam pesam negativamente para o investidor que esteja de olho nos papéis da companhia após o ótimo resultado: o valuation considerado bastante esticado e os sinais de desaceleração do crescimento de vendas em abril, após os consumidores terem antecipado boa parte das compras antes do período da quarentena.

Conforme destacou a companhia, a pandemia do coronavírus teve um impacto profundo nas operações no mês de março. “Com o aumento da demanda digital, nosso volume de atendimentos quase triplicou. O início da transformação digital em 2019 provou ser fundamental, nos permitindo alavancar as funcionalidades, performance e experiência dos nossos aplicativos e sites por meio dos times ágeis, bem como preparar a infraestrutura omnichannel com até um ano de antecedência, a qual vem sendo ampliada desde o início da pandemia”, destacou a empresa no release de resultados.

A companhia ainda reiterou seu guidance para 2020, projetando 240 aberturas brutas de lojas. A RD inaugurou 39 lojas e fechou 5 no primeiro trimestre deste ano.

Segundo Pedro Fagundes, analista de varejo da XP Investimentos, o resultado foi positivo, com lucro 23% acima da sua expectativa. “A combinação de (i) forte aceleração no ritmo de crescimento de vendas, acompanhada de expansão de margem e (ii) progresso importante na agenda digital são notícias positivas que devem suportar o otimismo em relação às ações”, apontou.

O Bradesco BBI comentou que os resultados da rede de farmácias vieram sólidos e sob alguns aspectos acima das projeções de mercado. O BBI ressalta que o varejo farmacêutico se mostrará um dos mais “resilientes” no atual momento da epidemia do Covid-19. “Os resultados da RD vieram acima das nossas expectativas, com um crescimento de 11% nas vendas nas mesmas lojas e de 25,3% na receita. O Ebitda da Raia Drogasil foi particularmente forte, com uma expansão de 40% sobre o 1ºtrimestre do ano passado”, avalia o BBI. Segundo o banco, o trunfo da Raia Drogasil para crescer em meio à epidemia do coronavírus é justamente a abertura de lojas.

O Credit Suisse, por sua vez, entende que o momento operacional para Raia é favorável, não apenas pelo portfolio defensivo, mas também pelo potencial ambiente competitivo mais moderado. O longo prazo também parece promissor, dada a historia de crescimento secular da indústria farmacêutica, bem como os ganhos de eficiência a serem capturados no processo de transformação digital.

A companhia, por sinal, manteve a previsão de abertura de 240 lojas em 2020 e não mudou seu plano de investimentos, havendo apenas a postergação de abertura de lojas para o restante de 2020.

Contudo, aponta Fagundes, ao contrário das vendas de supermercados e hipermercados, que continuam em ritmo de crescimento forte em abril, as vendas de drogarias e farmácias desaceleraram durante o mês, de maneira geral. Segundo dados divulgados pela Cielo, a categoria já apresenta uma queda de 1,4% no período acumulado desde o dia 01 de março em relação ao período pré-COVID em fevereiro.

Durante teleconferência com investidores, os executivos da RD destacaram que, em abril, as vendas da varejistas estão crescendo 5% – e o normal seria subir 20%. “Então teremos um segundo trimestre provavelmente com menor alavancagem operacional pela venda menor. Não sei como virá maio e junho, mas hoje vemos assim. Acho até que pode ser melhor, porque não sei quão rápido haverá recuperação [a demanda]. De qualquer maneira, vai cair bem o Ebitda no segundo trimestre”, conforme apontou Eugenio De Zagottis, diretor de planejamento corporativo, destacou que esse período será desafiador.

Ele apontou que, com a antecipação das vendas em março de certos medicamentos, pelo receio da população de sair de casa posteriormente, as vendas do segundo trimestre devem ser afetadas. A expectativa é de volta à normalidade no terceiro trimestre.

“Esse será um ponto chave a ser monitorado ao longo das próximas semanas. Conforme as restrições relacionadas ao período de quarentena são gradualmente flexibilizadas, será importante acompanhar a evolução do fluxo de pessoas não só nas ruas e lojas, mas também nos próprios hospitais privados”, avalia Pedro Fagundes, da XP.

Tanto por esse cenário quanto pelos múltiplos do papel, os analistas da XP, UBS, Bradesco BBI e Credit Suisse possuem recomendação neutra para os ativos. “O papel está negociando a 40 vezes o preço sobre lucro esperado para 2021, o que parece estar já precificando essa perspectiva mais positiva”, avalia o Credit.

A XP possui preço-alvo de R$ 112 para os papéis, enquanto o BBI possui preço-alvo de R$ 110.  Também destacando a desaceleração na alta das vendas no fim de março como indicativo de estabilização, mas avaliando como pontos fortes os investimentos na plataforma online e a ampliação de entregas nas lojas, o UBS tem preço-alvo de R$ 125 para a ação.

Minerva (BEEF3, R$ 12,30, +3,36%)

Alta nas exportações e reversão no prejuízo guiam as avaliações positivas para a Minerva Foods. A companhia teve lucro líquido de R$ 271 milhões no primeiro trimestre deste ano, revertendo prejuízo de R$ 31,4 milhões em igual período de 2019.

A receita bruta consolidada foi de R$ 4,4 bilhões no primeiro trimestre, enquanto a receita líquida totalizou 4,1 bilhões de reais, alta de 11,8% na base de comparação anual.

O Ebitda, por sua vez, somou R$ 381,5 milhões, 16% maior frente igual intervalo de 2019, sendo o maior registrado pela companhia no primeiro trimestre.

A divisão Brasil foi responsável por 48% do faturamento; a Athena Foods – que opera no Uruguai, Paraguai, Colômbia, Chile e Argentina – contribuiu com 43% do total. As exportações responderam por 68 por cento da receita bruta no trimestre. A empresa se manteve como a maior exportadora de carne bovina da América do Sul, com 20% de participação de mercado.

“A empresa apresentou sólido resultado operacional, beneficiada pelo bom desempenho das exportações, especialmente para a China (30% das exportações consolidadas do trimestre), e câmbio favorável”, avalia a Levante Ideias de Investimento.

Para os analistas, os principais catalisadores para o desempenho das ações são: aumento da demanda por proteína animal nos mercados asiáticos e redução de sua alavancagem financeira.

Já para os próximos trimestres, a avaliação é de que forte demanda internacional por proteína animal tendem a beneficiar diretamente as empresas da América do Sul, consolidando a região como o grande fornecedor de carne bovina para o mundo, o que deve beneficiar a Minerva.

O Morgan Stanley avaliou que a companhia bateu significativamente as expectativas nas divisões principais, com destaque para a forte geração de caixa. Olhando para frente, as exportações de carne em abril parecem fortes no Brasil. Neste cenário, os analistas do banco revisaram o preço-alvo de R$ 11,50 para R$ 13,20 e mantiveram a recomendação overweight (exposição acima da média do mercado).

Em teleconferência, Fernando Galletti de Queiroz, CEO da Minerva, apontou que a demanda por carne bovina do food service na China está se recuperando, mas ainda vai demorar mais tempo para voltar a níveis pré-coronavírus. “Acreditamos que vai demorar mais de um ano para voltar ao que era anteriormente”.

Mesmo assim, a demanda de importações da China é forte, contribuindo para perspectivas muito positivas para as exportações de carne da América do Sul.

A sinalização é de que a Minerva deve focar em exportações e mercados mais rentáveis em meio à demanda mais fraca no Brasil. “Os EUA terão necessidade de importações em meio à redução na produção local e queda nas exportações da Austrália àquele mercado. É uma oportunidade que se abre fortemente para o Brasil”, apontou.

Weg (WEGE3, R$ 41,40, -0,43%)

Companhia cujas ações são umas das mais resilientes à crise do coronavírus, a Weg obteve resultados considerados bastante fortes e com impacto limitado da doença em sua operação, apresentando desempenho positivo em todas as suas divisões.

A fabricante de bens de capital teve um lucro líquido de R$ 440 milhões no primeiro trimestre de 2020, uma expansão de 43,4% em comparação ao primeiro trimestre de 2019.

A receita líquida da companhia avançou 26,7% no primeiro trimestre deste ano, sobre igual período de 2019, para R$ 3,7 bilhões. Já o Ebitda foi de R$ 619,1 milhões, uma alta de 34,1% sobre o primeiro trimestre de 2019. A margem Ebitda avançou 1 ponto porcentual, de 15,7% no primeiro trimestre de 2019 para 16,7% no primeiro trimestre deste ano. O Retorno sobre o Capital Investido (ROIC) foi de 20,7% no primeiro trimestre deste ano, 2,7 pontos porcentuais superior a igual período do ano passado.

A Weg também destacou que seus resultados foram poucos afetados pela pandemia do Covid-19, com a exceção do fechamento de fábricas na China em fevereiro.

A companhia industrial catarinense ressaltou, contudo, que é difícil projetar quais serão os impactos da pandemia nos seus resultados nos próximos trimestres. A forte desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar favoreceu seus resultados – a empresa é uma grande exportadora. “A receita do mercado externo foi positivamente impactada pela variação do dólar norte-americano, que passou de R$ 3,77 no último trimestre de 2019 para R$ 4,47 no primeiro trimestre de 2020, com uma valorização de 18,5% sobre o Real”, destacou a empresa.

O Itaú BBA ainda apontou os melhores resultados brutos e o aumento da margem Ebitda, mostrando controle rígido de custos, ganhos de escala e melhor lucratividade no exterior.

Do total de R$ 3,7 bilhões faturados, cerca de R$ 1,6 bilhão o foram no mercado interno brasileiro, uma expansão de 35,2% sobre o primeiro trimestre de 2019; já o mercado externo representou R$ 2 bilhões da receita, ou 54% do total, representando um crescimento – em Reais – da ordem de 20,3%.

Considerando a receita líquida em dólares obtida no exterior, houve pouca variação: o faturamento avançou 1,6% no primeiro trimestre de 2020, sobre 2019, para US$ 451,7 milhões no período. Segundo a Weg, a empresa pôde sentir no primeiro trimestre uma retomada da indústria brasileira, com o aumento de encomendas de bens de capital da parte dos setores de papel e celulose e agroindústria. A Weg destacou que os setores mais representativos das suas vendas no trimestre no Brasil foram de equipamentos de geração, transmissão e distribuição de energia; equipamentos eletroeletrônicos industriais; e motores comerciais e appliance.

“A WEG possui historicamente uma posição financeira sólida e os números evidenciam que a companhia: mantém sua posição líquida de caixa e os ativos líquidos são mais que suficientes para cobrir o passivo circulante. Esta será a chave para o futuro, a fim de enfrentar outros impactos que o surto da Covid-19 provavelmente terá nas operações da empresa”, avalia o Itaú BBA, com desaceleração da demanda aumento a pressão sobre margens e prejudicando a lucratividade.

À luz da incerteza que se avizinha, a empresa vem tomando várias medidas para enfrentar a crise, como reduzir ou adiar investimentos, a fim de economizar capital. “Por outro lado, acreditamos que sua sólida posição financeira aliada à forte presença no Brasil e os esforços contínuos no exterior ajudarão a WEG a enfrentar os tempos difíceis pela frente”, ressaltam.

Contudo, uma barreira para maior ânimo com a companhia é o seu valuation. Tanto o Bradesco BBI quanto o Itaú BBA possuem recomendação neutra para os ativos com preços-alvos respectivos de R$ 32 e R$ 30.

Smiles (SMLS3, R$ 15,67, -0,19%)

A Smiles, empresa de programa de fidelidade da Gol, registrou um lucro líquido de R$ 56,3 milhões no primeiro trimestre de 2020, 60% abaixo do lucro apurado em igual período de 2019.

A receita líquida, por sua vez, caiu 15% na base de comparação anual, para R$ 458 milhões, enquanto o Ebitda teve queda de 50%, a R$ 56 milhões.

A piora no resultado ocorreu por uma combinação de menores receitas com resgates aéreos e aumento em despesas operacionais e financeiras devido ao cancelamento de produtos relacionados a viagens (como passagens aéreas, hotéis, aluguel de carros) devido ao coronavírus. O impacto negativo foi parcialmente compensado pelo Shopping Smiles e outros produtos.

Conforme aponta o Bradesco BBI, o cenário macroeconômico pressionará mais as margens de lucro. “A fraqueza do real  combinada com a diminuição esperada nos gastos com cartão de crédito provavelmente reduzirão o acúmulo de milhas em programas de fidelidade e, consequentemente, resultarão em um crescimento mais lento do faturamento bruto do Smiles”, apontam os analistas. O banco possui recomendação neutra para o papel com preço-alvo de R$ 20.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.