Vale reverte prejuízo e lucra US$ 239 milhões no primeiro trimestre de 2020

Nos três meses anteriores, a mineradora havia registrado perda de US$ 1,562 bilhão

Anderson Figo

SÃO PAULO — A Vale (VALE3) lucrou US$ 239 milhões no primeiro trimestre deste ano, revertendo um prejuízo de US$ 1,642 bilhão visto um ano antes. No trimestre anterior, a mineradora havia registrado perda de US$ 1,562 bilhão.

“O aumento de US$ 1,801 bilhão no resultado deveu-se, principalmente, ao reconhecimento de despesas one-off no quarto trimestre de 2019, tais como os impairments em ativos de níquel e carvão (US$ 4,202 bilhões) e provisões relacionadas a Brumadinho (US$ 898 milhões)”, explicou a empresa em nota.

Segundo a companhia, estes efeitos foram parcialmente compensados pelo menor Ebitda (geração operacional de caixa) ajustado pró-forma (US$ 1,636 bilhão), por maiores despesas financeiras (US$ 1,445 bilhão) e por menor receita de imposto (US$ 764 milhões).

Apesar da melhora no lucro, a receita operacional líquida da companhia caiu de US$ 8,203 bilhões no primeiro trimestre de 2019 para US$ 6,969 nos três primeiros meses deste ano. No trimestre anterior, a cifra havia sido de US$ 9,964 bilhões.

Já o Ebitda ajustado ficou em US$ 2,882 bilhões entre janeiro e março de 2020, ante US$ 3,536 bilhões no trimestre anterior e um resultado negativo de US$ 652 milhões registrado um ano antes.

A margem Ebitda, que é a relação percentual entre a receita líquida e a geração operacional de caixa, passou de 35% no último quarto do ano passado para 41% ao final de março de 2020.

A dívida líquida da mineradora, de US$ 4,808 bilhões, permaneceu praticamente estável em relação ao último trimestre de 2019 (US$ 4,880 bilhões). Um ano antes, o valor era de US$ 12,031 bilhões.

“Apesar da geração de fluxo de caixa livre de US$ 380 milhões e da redução de US$ 549 milhões no valor em dólar americano da dívida denominada em reais devido à desvalorização da moeda, a dívida líquida permaneceu relativamente estável em US$ 4,808 bilhões, devido ao efeito compensatório de US$ 914 milhões da desvalorização cambial sobre o saldo de caixa onshore mantido em reais”, explicou a mineradora.

O balanço da Vale foi beneficiado pelas menores despesas relacionadas à tragédia em Brumadinho (MG), que somaram US$ 159 milhões nos três primeiros meses deste ano, frente aos US$ 4,504 bilhões registrados entre janeiro e março de 2019. No quarto trimestre do ano passado, esse custo foi de US$ 1,141 bilhão.

Em reais, o lucro líquido da Vale no primeiro trimestre deste ano foi de R$ 984 milhões, bem abaixo das estimativas de analistas compiladas pela Bloomberg, de R$ 5,184 bilhões. Já a receita líquida da companhia ficou em R$ 31,3 bilhões, também abaixo do esperado (R$ 37,354 bilhões).

Minério de ferro

O preço médio de referência do minério de ferro 62% foi de US$ 89 por tonelada métrica seca (dmt) no primeiro trimestre de 2020, ficando em linha com o registrado no trimestre anterior e 7,8% acima do resultado de um ano antes.

A Vale destacou que os preços começaram o ano em um ritmo mais forte, no entanto, devido à incerteza trazida pela pandemia do Covid-19, a volatilidade dos preços aumentou.

“Os preços de minério de ferro performaram melhor que outras commodities, pois, na China, a produção de ferro gusa via altos fornos permaneceu firme, a utilização de fornos elétricos a arco caiu e o concentrado doméstico, que é transportado principalmente por caminhões, foi impactado por restrições de locomoção (lockdowns) e eventos relacionados ao clima, que balancearam a oferta e demanda”, disse a companhia.

Segundo a Vale, os cortes na oferta de minério de ferro devido a lockdowns estão amenizando parcialmente o impacto dos cortes na produção de aço, dando suporte aos preços, que devem continuar com tendência volátil no segundo trimestre deste ano.

“As perspectivas de curto prazo ainda são incertas no sentido de intensidade e prazo dos cortes que estão sendo adotados pelas siderúrgicas. Espera-se que o setor industrial europeu retome suas atividades em maio. No entanto, há incertezas quanto ao nível de recuperação, como resposta à recuperação da demanda e dos fluxos de comércio”, explicou a mineradora.

“O estágio diferente dos lockdowns em diferentes regiões adiciona outra camada de incerteza, em vista das complexas conexões entre cadeias de suprimentos, o que leva ao adiamento da recuperação global para um nível saudável”, concluiu.

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.