Vale é oportunidade de compra? 2 visões diversas entre minério e melhora operacional

Analistas seguem divididos com ações entre cautela e revisões para baixo do minério e leitura positiva com o operacional da mineradora

Lara Rizério

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De olho no noticiário micro da Vale (VALE3), o Bradesco BBI reforçou recomendação equivalente à compra (outperform, desempenho acima da média do mercado) para as ações da companhia, ainda que tenha reduzido levemente o preço-alvo de R$ 78 para R$ 77 em 2025 (ainda um potencial de alta de 32% para os ativos).

Embora tenha reduzido sua estimativa de lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) para 2025 para US$ 17,9 bilhões, devido aos preços mais baixos do minério de ferro e níquel, observa que o desempenho operacional geral da empresa melhorou.

O banco vê VALE3 negociando a 3,7 vezes o múltiplo EV (valor da firma)/Ebitda para 2025.

“Destacamos também que a demanda sazonalmente mais forte na China (começando em meados de setembro) e novas melhorias nos fundamentos podem ser os catalisadores a serem observados no curto prazo”, avalia o banco.

Entre a percepção de melhora destacada recentemente, o BBI aponta o anúncio do CEO (Gustavo Pimenta) antes do esperado e a maior confiabilidade dos ativos mostrada durante o roadshow com investidores da semana passada.

“Também saudamos a revisão para cima na orientação de produção de minério de ferro da empresa para 2024, sua maior confiança em atingir o nível de produção de 340 a 360 toneladas em 2026 e o tom positivo da administração sobre o desempenho de custos”, avalia o banco.

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Com as ações da Vale apresentando fraca performance nos últimos 12 meses (queda de 26% em dólares, contra recuo médio de 9% dos pares globais), o dilema de comprar ou não a correção surgiu como um debate importante para os investidores, ressalta a equipe do banco.

Embora a Gerdau (GGBR4) continue sendo a sua preferida (top pick) no setor de Siderurgia & Mineração, reitera visão positiva para VALE3, esperando que a mineradora se beneficie da demanda sazonalmente mais forte de minério de ferro na China e de uma melhora adicional em seus fundamentos.

Por outro lado, o BTG Pactual ressalta não ter recomendação de compra para as empresas do setor de mineração.

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Na visão dos analistas do banco, os fundamentos do minério de ferro permanecem fracos, sem nenhum sinal em nosso radar indicando uma reversão de tendência.

A produção de aço está notavelmente deprimida (a produção de aço bruto em agosto caiu 10% na base anual, bem abaixo das expectativas), e o consumo aparente de aço está caindo cerca de 4% no acumulado do ano, destacam os analistas.

O mercado imobiliário continua a ser um obstáculo à demanda global, com o investimento em ativo fixo no setor imobiliário caindo 10% no acumulado do ano e os decisores políticos até agora incapazes de estabilizar o setor (os preços dos imóveis já estão 5,5% menores em termos anuais). A oferta de minério de ferro no mercado marítimo permanece robusta, com a Austrália e o Brasil superando as expectativas.

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O BTG também nota que a Vale revisou para cima suas metas de produção para 2024 pela primeira vez em anos. Enquanto isso, as siderúrgicas na China estão operando com prejuízos relevantes e os estoques de minério de ferro nos portos chineses estão elevados, o que pode prejudicar o processo de reestocagem no curto prazo.

O BTG tem previsão de minério de ferro para 2025-26 de US$ 95/t (tonelada) e US$ 85/t, respectivamente, mas vê riscos de redução.

A questão principal agora reside nos cortes de capacidade em um mercado com excesso de oferta, levantando questões sobre quem sairá do mercado.

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O banco estima que o custo marginal de produção atual esteja em torno de US$ 85/t (versus o preço spot de US$ 92/t). Não temos recomendação de compra no setor.

Enquanto isso, a Vale é negociada a 4,3 vezes o Ebitda esperado para 2025 na visão do BTG, com rendimentos de dividendos de 6-7% e riscos consideráveis de revisões negativas de lucro versus o consenso. Já a CSN Mineração (CMIN3) continua sendo a mineradora de minério de ferro mais cara do mundo, negociando acima de 8 vezes o Ebitda esperado para 2025.

Cabe destacar que as ações da Vale caem cerca de 1% e da CSN Mineração por volta de 5% nesta quarta-feira após os preços futuros do minério de ferro registrarem sua maior queda diária em quase dois anos na sessão, pressionados pelas perspectivas de maior oferta global e pelo enfraquecimento da demanda chinesa por aço.

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O contrato de janeiro do minério de ferro mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE) da China encerrou as negociações do dia com perda de 4,12%, a 675,0 iuanes (US$ 95,13) a tonelada, marcando sua maior queda diária desde 31 de outubro de 2022. Os mercados chineses ficaram fechados na segunda e na terça-feira devido a um feriado.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.