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SÃO PAULO – As ações das mineradoras figuraram entre os principais destaques negativos do Ibovespa nesta terça-feira (4), em resposta à série de eventos que impactam diretamente os negócios do setor. Os papéis da MMX Mineração (MMXM3) fecharam com desvalorização de 5,5%, ocupando a ponta mais baixa do índice paulista e sendo cotadas a R$ 12,21. Enquanto isso, a Vale viu seus ativos PNA (VALE5) e ON (VALE3) ampliarem as perdas já relatadas no pregão anterior ao desabarem 4,85% e 4,67%, respectivamente, valendo R$ 43,15 e R$ 49,36. Já o benchmark recuou 3,35%.
Além da forte queda, as ações preferenciais da Vale terminaram esta sessão com o maior volume de negócios da bolsa brasileira, movimentando R$ 1,941 bilhão ao longo do dia, resultado de 39.436 negócios concretizados.
No último fim de semana, o governo australiano optou por elevar para 40% a taxa cobrada sobre os lucros das mineradoras a partir de 2012. Apesar de conceder em troca o corte de impostos cobrados, as empresas do setor demonstraram de imediato forte descontentamento com o anúncio. Por conta da decisão tomada, duas das três maiores mineradoras do mundo (ao lado da Vale), BHP Billiton e Rio Tinto, foram diretamente impactadas, tendo suas ações registrado o pior desempenho diário dos últimos três meses na bolsa australiana.
Além da continuidade da repercussão das questões sobre a maior carga tributária na Austrália, a terça-feira contou com outros ingredientes que ajudaram a agravar a trajetória dos papéis das mineradoras. Predominou nos mercados um forte sentimento de aversão ao risco, disparado pelo temor de que outros países da Europa, notadamente a Espanha, peçam um resgate financeiro para resolverem seus problemas fiscais. José Luiz Zapatero, primeiro ministro do país, disse que os rumores de que a Espanha precisaria de um resgate nos moldes do concedido à Grécia são uma “completa loucura” e declarou que irá lutar contra esse tipo de especulação.
Esta percepção sobre a possibilidade da crise fiscal grega contaminar outros países da região engatilhou forte aversão ao risco nos mercados em âmbito global, o que elevou a cotação do dólar frente às principais divisas de referência e pressionou, por decorrência, os preços das commodities. Destaque para as queda do chumbo (-7,51%), níquel (-7,25%), cobre (-3,86%) e alumínio (-3,86%).
Aliado a isso, a China, que figura entre os maiores consumidores mundiais de commodities metálicas, tem anunciado com cada mais frequência novas medidas para tentar conter o aquecimento de sua economia. Após ter elevado o depósito compulsório das instituições financeiras do país, o governo local decidiu limitar a compra de novos apartamentos para um por família, como forma de tentar arrefecer o aquecido mercado imobiliário do país.
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Taxação no Brasil? Só no longo prazo, diz Santander
Tendo em vista que outros países possam seguir a mesma linha adotada pelo governo da Austrália, o Santander emitiu um relatório com sua análise sobre a possibilidade de que a mesma decisão seja anunciada pelo Brasil. Na visão do analista do banco, Felipe Reis, o fato de estarmos em ano de eleição diminuiu a possibilidade de que isso ocorra em 2010.
Porém, isso não anula a chance de elevação nos impostos a partir do ano que vem. “Independentemente de quem ganhe as eleições presidenciais no Brasil, a probabilidade do governo brasileiro aumentar o royalty de 2% atualmente pago é alta”, acredita Reis, também levando em consideração que o patamar atual da taxa cobrada por aqui é relativamente baixo em relação aos royalties pagos na Austrália (6-10%) e às taxas canadenses (10-18%).
O analista do Santander não se limita apenas ao Brasil nessa questão de reajuste de taxas. Segundo sua avaliação, o risco de que outras economias adotem uma estratégia de elevação desses valores percentuais a serem pagos pelas produtoras de commodities metálicas é alta, “à medida que as mineradoras provavelmente continuarão a postar recordes de lucro”.
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ADR da Vale e Bradespar
Os ADRs (American Depositary Receipts) da Vale seguiram a trajetória dos papéis listados na BM&F Bovespa e despencaram 5,38% na bolsa da NYSE, fechando cotados a US$ 28,48.
Já aqui no Ibovespa, as ações da Bradespar (BRAP4) – empresa que tem participação expressiva no capital da mineradora – fecharam com forte desvalorização de 5,2% nesta terça-feira, valendo R$ 36,85.