Vale e Minas Gerais terão nova reunião sobre Brumadinho nesta 5ª; veja cenários possíveis de acordo, segundo o Morgan

Na avaliação dos analistas do banco, cenário é de que a empresa arque com um pagamento adicional de US$ 4 bilhões (acima e além das provisões já tomadas)

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Às vésperas de completar dois anos da tragédia do rompimento da barragem 1 da mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale (VALE3), em Brumadinho (MG), que ceifou a vida de 270 pessoas e causou um rastro de danos ambientais, é esperado um acordo entre a empresa e o governo mineiro em busca de reparação de danos. Várias tentativas foram feitas e, apesar de ambas as partes reiterarem avanços nas negociações, ainda não há conclusão.

A expectativa de Minas Gerais é que se chegue a um acerto até dia 25 de janeiro (dois anos depois do dia exato da tragédia), ou seja, na próxima segunda-feira. O texto do acordo foi finalizado na última quinta-feira (14) e agora a expectativa fica começa a discussão sobre o valor. Inicialmente, o Estado e as instituições jurídicas pediram R$ 54,7 bilhões, sendo R$ 26,7 bilhões referentes aos danos materiais, e R$ 28 bilhões, aos danos morais coletivos.

A expectativa do governo do Estado é fechar um acordo com a Vale na quinta-feira (21), quando está marcada uma audiência de conciliação, a partir das 14h (horário de Brasília). O secretário-geral do Governo de Minas, Mateus Simões, disse ver chances de um acordo na ocasião, mas apontou: “as negociações do Estado se encerram na segunda-feira, quando completam 24 meses da tragédia. Se não chegarmos a um acordo até essa data vamos aguardar a sentença da Justiça, que está a poucas semanas de distância. Não é adequado que a discussão se arraste por mais tempo”, afirmou, segundo informações do Valor.

Neste contexto, o Morgan Stanley divulgou nesta semana as suas previsões a respeito das negociações entre Vale e governo de Minas Gerais por Brumadinho.

“Acreditamos que faz sentido que as partes cheguem a um acordo final e abrangente que coloque fim às disputas judiciais de Brumadinho. No entanto, um acordo final pode custar à Vale mais do que alguns participantes do mercado esperam. Achamos que pode estar bem acima da estimativa preliminar da empresa de US$ 1,4 bilhão. Em nosso modelo, incluímos um acordo adicional de US$ 4 bilhões (acima e além das provisões já tomadas)”, avaliam Carlos Alba, Eduardo Bordalo e Jens Spiess, analistas da instituição.

Eles também traçaram mais cenários. Segundo fontes ouvidas pelo Morgan, os R$ 28 bilhões que o governo estadual disse esperar como valor mínimo de indenização pelo potencial acordo de Brumadinho inclui danos sociais, morais e ambientais coletivos. “Caso esteja correto, o valor pleiteado é inferior aos R$ 54 bilhões solicitados pelas autoridades em sua ação de indenização coletiva original, que não incluía os custos de reparação ambiental”, apontam.

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Enquanto isso, a Vale espera uma reparação total de R$ 29,6 bilhões: desses valores, R$ 12,1 bilhões já foram desembolsados e R$ 9,5 bilhões já foram provisionados (em outubro de 2020), mas não foram pagos. Além disso, R$ 8 bilhões poderiam vir em potenciais provisões adicionais relacionadas a um acordo com autoridades.

Confira os cenários para o acordo, segundo o Morgan Stanley:

em R$ bilhões  Cenário conservador  Cenário pessimista para a Vale
Valor já despendido e incluso no escopo do acordo 3,6 3,6
Valor já provisionado e incluso no escopo do acordo 7,4 7,4
Estimativa da Vale com provisões adicionais (a) 8 8
Acerto factível na visão da Vale 19 19
Provisão adicional para chegar ao acordo (b) 9 21
Acerto final  28 40
Provisões adicionais (a + b) 17 29
Provisões adicionais em dólares 3,2 5,5

*cotação de dólar a R$ 5,27

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A mineradora, na avaliação do Morgan, espera que R$ 19 bilhões sejam provavelmente reconhecidos sem debates como parte do acordo. Segundo os analistas, isso quer dizer que a Vale presume que os restantes R$ 10,6 bilhões que já pagou por Brumadinho não estão necessariamente incluídos no certame. Os analistas esperam que a empresa argumente que pelo menos parte dos R$ 10,6 bilhões deverá contar para a liquidação dos termos da questão.

O banco aponta que, em um cenário conservador, em que nenhuma parcela dos R$ 10,6 bilhões já pagos seria incluída no acordo, haveria uma diferença entre a proposta de R$ 19 bilhões da Vale e os R$ 28 bilhões pedidos pelo governo: ou seja,  de R$ 9 bilhões.

No pior cenário possível para a companhia, de um acordo final de R$ 40 bilhões, cerca de 50% acima do aparente novo pedido mínimo do governo e presumindo que os R$ 10,6 bilhões não entrem no acordo, a necessidade de provisões adicionais seria de R$ 29 bilhões (cerca de US$ 5,5 bilhões, ou R$ 21 bilhões a mais do que a estimativa preliminar de R$ 8 bilhões da Vale).

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Levando esses cenários em conta, o Morgan Stanley incluiu em suas projeções uma provisão adicional de R$ 21 bilhões (ou cerca de US$ 4 bilhões), acima do que já foi já desembolsado ou provisionado pela Vale por Brumadinho. O banco destaca que, caso o pior cenário se materialize, seria necessário adicionar outro US$ 1,5 bilhão em provisões.

O Morgan avalia que, dado o atual cenários e alta dos preços das commodities, a Vale conseguiria absorver o impacto de R$ 40 bilhões do pior caso possível sem grandes impactos para a avaliação que faz para a companhia. Nesse caso, a previsão do Morgan Stanley para o fluxo de caixa para o período entre 2021 e 2030 cairia 2% em média, e a previsão para o fluxo de caixa descontado cairia 0,5%. Se a Vale atingir um acordo antes de março, poderá pagar um dividendo mais alto no primeiro trimestre do que pagaria se atingisse um acordo após esse prazo.

O banco mantém a avaliação dos papéis da Vale negociados na Bolsa de Nova York como outperform (desempenho acima da média do mercado), com preço-alvo de US$ 17,30, frente os US$ 17,45 de fechamento de quarta-feira.

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Com relação ao que pode representar o acordo para a mineradora, de forma a “virar a página” de Brumadinho e ficar menos descontada em relação aos pares, a avaliação é de que o acordo, se acontecer (mesmo com um valor um pouco acima do esperado) é positivo, mas não deve ser um grande catalisador para o papel.

“O acordo ajuda, mas não tira toda a sombra que a Vale vai carregar por algum tempo”, destaca Fernando Fontoura, gestor de renda variável da Persevera Asset Management. Ele avalia que só o tempo e mais medidas da mineradora para reforçar as suas práticas de ESG (como são chamadas as melhores práticas ambientais, sociais e de governança) pode atrair investidores que ainda estão reticentes com o papel, principalmente os estrangeiros.