Vai viajar para a Argentina? Veja como dólar digital pode ajudar a economizar no câmbio

Criptomoedas de dólar ganham força na Argentina em meio à inflação, e brasileiros também podem aproveitar ao viajar ao país; veja como

Paulo Barros

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“Blue”, “Luxo”, “Coldplay”, “Qatar”: são todos nomes de variações de dólar negociadas na Argentina, em meio à forte inflação que abala o peso argentino e faz o governo controlar o câmbio para evitar uma fuga completa da moeda local – hoje, quem mora no país vizinho pode comprar, no máximo US$ 200 por mês no mercado oficial.

Mas, com tantas opções disponíveis, uma nova versão, totalmente digital, vem ganhando força: as stablecoins (criptomoedas estáveis), que permitem ao cidadão driblar o bloqueio oficial e obter dólar sem limites impostos pelo governo.

Stablecoins são criptoativos que têm paridade com outro ativo, comumente uma moeda nacional conhecida, como dólar, euro ou até o real. As stablecoins de dólar mais conhecidas são Tether (USDC), USD Coin (USDC), Binance USD (BUSD) e DAI, que é a mais popular na Argentina. Elas são comercializadas em exchanges de criptomoedas.

Segundo relatório da empresa de inteligência em blockchain Chainalysis divulgado na semana passada, a Argentina é o segundo país com maior adoção de criptos na América Latina, em movimento impulsionado pela compra de stablecoins atreladas ao dólar, motivada pela busca de proteção do patrimônio contra a desvalorização do peso.

Ao contrário do câmbio comum, o governo argentino não impõe limites para a aquisição de criptos atreladas à moeda americana. Diante da maior facilidade de acesso, a venda de stablecoins de dólar respondeu por um terço de todas as transações de baixo volume de criptomoedas no país vizinho entre julho de 2021 e junho de 2022, segundo a Chainalysis.

Por que argentinos estão abraçando o dólar digital?

Os números mostram que os argentinos estão adotando o dólar digital frente ao câmbio tradicional. Mas, por que optar por essa versão? Segundo Henrique Teixeira, country manager da plataforma cripto Ripio, fundada na Argentina, motivos são variados:

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Totalmente digital: Um deles é a facilidade de não ter que lidar com grandes somas de dinheiro físico. “Se levar US$ 2 mil para trocar, a quantidade de pesos argentinos que fica é tão grande que não dá para carregar no bolso ou dentro de uma carteira, é preciso uma mochila”, explicou o executivo ontem, em entrevista ontem ao Cripto+ (confira a íntegra acima).

Segurança: Para ele, a opção por stablecoins também evita com que se tenha problemas com a compra de dólar falso no câmbio paralelo. Além disso, é possível transferi-las entre pessoas sem intermediação do sistema bancário (com uso de carteiras de criptomoedas), algo que acaba atraindo cidadãos que desejam driblar o bloqueio imposto pelo governo.

Fácil de usar: O uso também é tão simples quanto passar um cartão: muitas fintechs oferecem cartões pré-pagos que podem ser carregados com criptomoedas, de modo que é possível adicionar stablecoins de dólar ao saldo para fazer compras em qualquer estabelecimento (a conversão é feita no ato da compra).

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Câmbio transparente: De acordo com Teixeira, o mercado de stablecoins opera livremente segundo oferta e demanda, então a cotação de um dólar digital USDT, USDC, BUSD ou DAI tende a ser bem próximo do dólar em peso argentino cotado no mercado internacional – ou seja, o preço que aparece ao realizar uma busca no Google.

“Não deve haver grandes disparidades porque o mercado se ajusta automaticamente, funciona 24/7, diferente do mercado financeiro tradicional, o que acaba por entregar um preço mais justo para o usuário final”, aponta o especialista.

Remuneração: Além disso, quem deseja apenas guardar os dólares para se proteger da inflação tem a opção de depositar os ativos em uma das contas de remuneração que pagam juros sobre stablecoins disponíveis no país.

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Turista brasileiro também pode usar?

As vantagens das stablecoins não são restritas a argentinos, e também podem ser usadas por brasileiros que desejam viajam por lá – ou, na verdade, para qualquer outro país. No caso de brasileiros, há inclusive benefícios extras. Confira:

Sem IOF: o dólar digital sai mais barato na comparação com a casa de câmbio, entre outros motivos, pela ausência de cobrança do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre a compra de criptoativos, mesmo que eles tenham preço pareado com o dólar.

“Quando compramos dólar tem o IOF, a taxa própria do câmbio, o spread que iremos pagar para o intermediador. No caso das stablecoins não é assim, porque estamos comprando direto da fonte. Então, por exemplo, se a cotação do dólar da stablecoin vale R$ 5,50, o investidor vai pagar esse valor diretamente”, explica Guilherme Bento, sócio e especialista em criptomoedas da Acqua Vero Investimentos.

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Aquisição pelo celular: mesmo depois de viajar, é possível comprar stablecoins pelo aplicativo da corretora no celular usando Pix, e obter os ativos na carteira digital ou no cartão pré-pago. Não é preciso, portanto, visitar uma casa de câmbio.

Compras sempre em pesos argentinos: apesar de estabelecimentos argentinos aceitarem dólar amplamente, a cotação nem sempre é favorável e pode flutuar bastante. Ao usar um cartão carregado com stablecoins, no entanto, a liquidação da compra é feita diretamente em pesos argentinos, evitando confusão na hora de saber qual cotação foi utilizada.

No entanto, também há riscos envolvidos:

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Garantia da stablecoin: as corretoras que comercializam as stablecoins não oferecem garantia de que os ativos comprados realmente valerão US$ 1 cada. Segundo especialistas, a recomendação é pesquisar a reputação das empresas por trás do projeto para avaliar os riscos envolvidos em manter uma grande quantidade de dinheiro naquele ativo digital.

Em maio, uma stablecoin experimental que valia US$ 1 foi a zero em questão de dias após entrar em crise. As stablecoins citadas acima, como USDT, USDC, BUSD e DAI, no entanto, operam em um formato considerado mais seguro, com depósito de garantias em banco. Dessas, a USDC é a mais fortemente regulada por autoridades dos Estados Unidos.

Imposto sobre ganho de capital: embora não sofram incidência de IOF, as stablecoins precisam ser declaradas à Receita Federal. No ajuste anual, elas precisam ser especificadas na lista de bens, conforme o valor equivalente em reais. No entanto, só é preciso pagar imposto sobre ganho de capital se houver lucro na venda (ou conversão) desses ativos acima de R$ 30 mil no mês.

Como comprar dólar digital no Brasil

Para adquirir esses dólares digitais, basta abrir uma conta gratuita em uma das diversas corretoras que operam no Brasil e que comercializam stablecoins de dólar como USDT, USDC, BUSD e DAI, e que permite fazer o saque desse recurso.

A partir daí, basta enviar um Pix com o valor em reais desejado para fazer a conversão e realizar a aquisição na plataforma.

“E aí você fica hedgeado em dólar, ou protegido em dólar, para que possa fazer essa viagem eventualmente para Argentina ou para qualquer país do exterior sem se preocupar com a volatilidade que os reais vão ter à medida que você for precisando utilizar esse recurso no exterior”, reforça Teixeira.

Em paralelo, é recomendado também que o viajante solicite um cartão pré-pago carregado com criptomoedas para abastecê-lo com as stablecoins compradas. Na hora de gastar no exterior, o usuário precisa apenas se preocupar se o estabelecimento aceita a bandeira do cartão adquirido.

Ripio e Crypto.com são empresas que oferecem cartões do tipo no Brasil, ambos de bandeira Visa.

Paulo Barros

Jornalista pela Universidade da Amazônia, com especialização em Comunicação Digital pela ECA-USP. Tem trabalhos publicados em veículos brasileiros, como CNN Brasil, e internacionais, como CoinDesk. No InfoMoney, é editor com foco em investimentos e criptomoedas