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Alfredo MR Lopes é jornalista e escritor
A parceria da UEA, Universidade do Estado do Amazonas, com a Faculdade de Economia e Administração da USP, Universidade de São Paulo, com o Doutoramento Interinstitucional na área de Gestão, será decisiva na criação de novos cenários de desenvolvimento para o Amazonas e, com certeza, para a Amazônia, uma nova economia para o Brasil, na construção de um paradigma sustentável e de baixo carbono. Não há dúvida, com efeito, que nosso gargalo – regional e nacional, que fique registrado – é gestão de projetos e que este é o argumento subliminar que tem justificado o confisco das verbas de P&D da ZFM, por parte do governo federal, para cumprir seu mandato constitucional para reduzir as desigualdades regionais do Brasil.
Como alinhar essa equação entre economia e academia na gestão no desafio de desnudar a esfinge amazônica e oferecer saídas para este Brasil sem rumo? Foi esta inquietação que aproximou USP e UEA na elaboração de conteúdos e proposições da Faculdade de Administração paulista, nota máxima na CAPES, órgão de capacitação federal e as demandas da Amazônia, de uma Universidade, como a do Amazonas, presente em 62 campi, que chegam a distar 1,8 mil quilômetros em seus extremos.
Na Amazônia, indústria financia academia estadual. Cumpre anotar que a UEA – a maior universidade multicampi do país – é financiada integralmente pela indústria da Zona Franca de Manaus, algo em torno de R$ 400 milhões/ano, para levar qualificação numa demografia de 1,6 milhão de quilômetros quadrados, área superior à Europa Ocidental. Foram distribuídas 22 bolsas para atender múltiplos desafios para uma economia que hoje está concentrada em Manaus – 90% de origem da arrecadação – que podem oferecer contribuições para a criação de novos programas e projetos na gestão deste patrimônio e o aproveitamento das oportunidades que daí advêm.
Neste mês de março, quando se inicia a promissora parceria do DINTER, o doutorado de Administração da FEA está discutindo, em São Paulo, como gerar empregos e desenvolvimento com baixa emissão de carbono no contexto dos Compromissos do Brasil no Acordo do Clima, identificando oportunidades na questão energética, na bioeconomia florestal, qualificação das competências humanas e a geração de novas modulações econômicas, adicionais ao polo industrial de Manaus, tudo aquilo que o Amazonas precisa ponderar para fazer do DINTER a mobilização da academia em seus vários segmentos, muitas vezes desarticulados, criando saídas emergenciais no contexto da desindustrialização em curso.
Um convite, portanto, muito mais denso do que ampliar os escaninhos acadêmicos ou melhor os proventos docentes na terceira idade. Por tudo isso, também, não faz sentido aumentar esforço, senão melhorar as condições de trabalho, com transparência e eficiência.
Novas trilhas de diversificação econômica, portanto, se impõem.
Ao completar 50 anos, a ZFM não poderá dizer que protegeu a floresta apenas por ter gerado empregos e evitando que fossem ameaçador os 160 milhões de hectares que este modelo de desenvolvimento ajuda a conservar. E cabe aos atores da academia sugerir as novas trilhas de diversificação e regionalização do desenvolvimento, numa economia igualmente de baixo carbono, como o polo industrial sem chaminés de Manaus. É significativo lembrar que esta aproximação entre USP e UEA é mais uma etapa e fruto do Seminário Pioneirismo do Amazonas e a Construção do Futuro, que encerrou a Mostra Pioneiros e Empreendedores do Brasil, realizada em agosto de 2013, sob a batuta do professor e ex-reitor da USP, Jaques Marcovitch, em Manaus.
O debate, reunindo academia, setor produtivo e poder público, foi organizado pelo Centro e Federação das Indústrias, à luz do resgate dos pioneiros da Amazônia, Samuel Benchimol à frente, e que recomendou o caminho da inovação, parceria e sustentabilidade como o melhor paradigma de gestão da Amazônia, da consolidação da ZFM, e da formatação das novas modulações econômicas. Numa palavra, o destino em nossas mãos. Como enfrentar os desafios que isso implica? No caso do DINTER, os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, onde estão os referenciais do novo paradigma do crescimento, serão o pano de fundo dessa parceria, que já tem nas Jornadas de Desenvolvimento, uma política de Estado, não de governo, um cardápio de intervenção e sugestões de trabalho.
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