Tudo o que você sempre quis saber sobre petróleo (mas tinha medo de perguntar)

O analista Flávio Conde explica a diferença entre WTI, Brent, qual o mais importante para a Petrobras, o que ocorre na crise atual e como isso impacta as bolsas internacionais

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Em meio a tantos jargões do mercado financeiro, os investidores iniciantes, e até os que já possuem uma base podem se sentir perdidos na hora de acompanhar o noticiário. No mundo das commodities, mais distante da pessoa física, os termos usados podem parecer ainda mais herméticos a um primeiro olhar. 

WTI e Brent, por exemplo, são expressões comumente usados para designar dois tipos de petróleo, mas qual é a diferença entre eles? E qual é o mais importante para a Petrobras (PETR3; PETR4)? Em meio a uma queda de mais de 50% nos preços do petróleo de junho de 2014 até hoje, entender a dinâmica da mais importante e valiosa das commodities é essencial para analisar diversos movimentos do mercado.

Diante de tudo isso, o analista independente, Flávio Conde colaborou com o InfoMoney para explicar a diferença de cada tipo do combustível. Ele explica tudo o que você queria saber sobre o petróleo, tenha ou não você tido medo de perguntar. 

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WTI
O petróleo WTI, sigla que significa West Texas Intermediate, é o combustível produzido nos EUA com estoques ficam em Cushing, Oklahoma. “Nos últimos 3 meses, esses estoques só têm subido”, diz Conde. Neste período, a produção americana de petróleo esteve a 9,3 milhões de barris por dia, a maior desde 1983. “Assim, nos mercados futuros de WTI os preços tem se distanciado do Brent porque investidores estão preocupados com o desequilíbrio entre produção e demanda nos EUA”, explica o analista. As empresas de petróleo dos Estados Unidos como a Exxon Mobil e a Chevron respondem com mais intensidade a essas variações de preço no WTI porque produzem este tipo de combustível. 

Brent
Já o Brent é o tipo de petróleo retirado no Mar do Norte na Europa que é usado como preço de referência no mundo. Conde explica que porquanto fosse mais restrito à Europa inicialmente, o padrão foi exportado e já se tornou benchmark do Leste Africano e Mediterrâneo, além de alguns países do Sudeste Asiático.  

O Brent também tem a característica de ser historicamente mais caro do que o WTI porque é retirado do mar e dali é facilmente transportado para outros países. Enquanto que o petróleo do Texas tem que atravessar todo o estado antes de chegar ao mar, o que encarece o frete. “A estimativa média hoje é de um custo adicional de US$ 4-6 por barril e, portanto, sempre que o preço entre os dois se distancia desse intervalo de valores é por razões de produção (na maioria das vezes) e demanda (raramente) do tipo de petróleo”, diz Conde.

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Nesta crise atual
O preço do Brent está por volta de US$ 8 mais caro do que o do WTI nos últimos meses. O motivo desta discrepância é o crescimento da produção do combustível na economia do mundo. Enquanto isso, no Mar do Norte, a produção tem caído consistentemente ao longo dos últimos anos. Especialmente no Reino Unido e na Noruega. “É nessa região que estão os grandes produtores de Brent”, explica o analista.

Mais patente do que a discrepância entre os dois preços, contudo, é a queda registrada pelas cotações dos dois tipos de barril desde junho de 2014. O motivo principal é a guerra de preços entre os produtores de gás do xisto nos EUA e os magnatas do combustível em Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Qatar, que mantém a produção nos altos níveis atuais (a despeito dos protestos da Venezuela) para derrubar as cotações da commodity no mercado internacional e reduzir a viabilidade do xisto, cujos custos para ser produzido são maiores. 

Embora o nível atual do preço do patróleo seja prejudicial aos produtores de ambos os lados desta disputa, países como a Arábia Saudita possuem alguns bilhões em moeda estrangeira, fazendo com que eles apostem que podem tirar competidores do mercado americano e ainda assim se manter com um barril a US$ 40 por pelo menos dois anos. 

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Além disso, Conde ainda lembra que a valorização do dólar internacionalmente é outro fator que impacta os preços do petróleo, embora em menor medida do que a guerra de preços entre Estados Unidos e OPEP ou a produção maior do petróleo bruto texano. “O dólar se valoriza e o preço do combustível fica encarecido pelo câmbio, o que reduz a demanda”, afirma. 

Qual a OPEP usa?
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) usa o Brent como referência, portanto, quando o rei saudita dá alguma declaração sobre o preço do combustível a longo prazo ou os países que compõem o bloco se reúnem e decidem aumentar ou diminuir a produção, o impacto imediato é no barril deste tipo de petróleo.

Petrobras
Desde outubro de 2011 a maior estatal brasileira usa como referência o Brent, que na época custava US$ 25 a mais que o WTI, lembra Flávio Conde. Ou seja, a cotação que o investidor ou acionista interessado nos papéis da Petrobras deve observar são as do petróleo do Mar do Norte e não as do barril retirado de poços no Texas. 

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Mesmo a petroleira não tendo um perfil tão exportador como as empresas venezuelanas do setor de óleo e gás, as cotações internacionais da commodity são importantes para ela. Uma manutenção dos preços do petróleo a níveis muito baixos, por exemplo, significa uma redução na viabilidade da produção do pré-sal. Localizadas a mais de 7 mil metros abaixo do nível do mar, essas reservas tão propagandeadas desde sua descoberta em 2006 têm um custo de exploração mais elevado do que a de poços “normais” e, portanto, precisam de um barril mais caro para poderem trazer lucros para a estatal.