Trump pode mudar a dinâmica inflacionária e da taxa de juros nos EUA, diz CIO da XP

Artur Wichmann vê uma política monetária nos Estados Unidos cautelosa em meio ao governo do republicano, que toma posse nesta segunda (20)

Augusto Diniz

Conteúdo XP

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Na medida em que se aproxima a posse de Donald Trump, nos Estados Unidos, mais o mercado fica cauteloso com as medidas a serem tomadas pelo republicano, que assume a presidência nesta segunda (20).

Artur Wichmann, CIO da XP, participou do episódio 148 do programa Outliers, do canal XP, com apresentação de Clara Sodré, analista de fundos da XP, e Fabiano Cintra, head de análise de fundos da XP.

Para ele, há uma grande diferença do momento atual com anterior à pandemia. “A gente viveu de 2008 até o início da Covid onde o nome do jogo era alocação de capital no mundo de juro zero. Então, tomava-se mais risco em ações, em private equity etc.”, explica.

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Mundo diferente

“O nome do jogo agora é alocação de capital num mundo significativamente diferente do juro zero. É pouco provável que a gente volte para o mundo onde se discutia o limite inferior da taxa de juros batendo no zero e na Europa a taxa de juros nominal negativa”, afirma.

O executivo explica que a renda fixa virou no mundo inteiro alternativa e as treasures, os títulos do Tesouro americano, principalmente de 10 anos, quase todo mundo usam como parâmetro para os ativos de risco. “Toda vez que ele (o título americano) flutua, todos os preços dos ativos no mundo mudam”, explica.

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“A gente tem um evento diante de nós (governo Trump) que pode mudar muito a dinâmica inflacionária e, por consequência, a dinâmica das taxas de juros”, afirma.

O CIO da XP considera que a restrição à imigração proposta pelo presidente eleito dos EUA uma “condição preocupante”.

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Mercado de trabalho inflacionário

“Se não deixar muita gente imigrar para os Estados Unidos, isso gera uma força de trabalho de menos de 1 milhão de pessoas. Mas se a demanda é de 2 a 2,5 milhões de trabalhos novos (por ano) e só tem 1 milhão de pessoas para fazer isso, o mercado fica apertado rápido e vai aparecer inflação de salário”, avalia.

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“A restrição de imigração de Trump por definição tem de ser vista como um risco inflacionário sério”, afirma.

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Para ele, o mesmo acontece com a imposição de taxas de importação. “A gente sabe que tarifas são riscos inflacionários sérios. Ele (Trump) tem a plataforma de tornar a economia americana um pouco mais fechada”, diz, acrescentando que tais medidas também geram inflação.

“Por outro lado, tem os vetores desinflacionários, que é setor de tecnologia e corte de impostos. Mas a resultante disso tudo é um risco inflacionário maior do que a gente viveu no passado”, pontua.

“Isso significa que devemos estar preparados para viver com juros mais altos do que a gente conviveu no passado e com risco de alguns spikes (picos)”, diz. “O Fed (Federal Reserve; o banco central dos EUA) tem que tomar certo cuidado com que ele faz com a política monetária agora diante por conta dessas incertezas”, complementa.

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Wichmann vê ainda o cenário com Trump mais provável de fortalecimento do dólar.