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O atentado contra o ex-presidente e candidato republicano na disputa da Casa Branca neste ano, Donald Trump, tende a elevar seu favoritismo nas eleições programadas para novembro e gerar uma transformação completa no processo eleitoral.
Como já aconteceu em outros casos no passado, atentados e ataques a figuras políticas, globalmente, tendem a gerar uma onda de solidariedade e empatia, o que pode se traduzir em um aumento de popularidade.
Trump já recebeu apoio de democratas como o presidente Joe Biden e do ex-presidente Barack Obama, além de outros líderes mundiais, de esquerda e de direita. Além disso, apelos mundiais estão sendo feitos pelo fim da violência e da polarização na política.
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A campanha à reeleição de Biden, por exemplo, já decidiu mudar sua estratégia, ao menos por enquanto, retirando ataques a Trump. Tanto que, poucas horas após o incidente, os democratas estavam suspendendo anúncios de televisão e cortando outras comunicações políticas.
Enquanto isso, Trump, que já é uma figura polêmica, publicou nas redes sociais, no domingo, que está ansioso para falar à nação a partir de Wisconsin, onde a Convenção Nacional Republicana, que será realizada a partir desta segunda-feira (14), deve oficializar seu nome como candidato republicano.
“Neste momento, é mais importante do que nunca que nos mantenhamos unidos e mostremos nosso verdadeiro caráter como americanos, permanecendo fortes e determinados”, disse Trump, em uma postagem no Truth Social.
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Assim, o ex-presidente, que já uma figura polarizadora, pode ver sua base de apoio se consolidar ainda mais firmemente. Eleitores indecisos ou descontentes com outras opções políticas podem se sentir compelidos a apoiá-lo como uma demonstração de resistência contra a violência e em defesa da democracia – exatamente a bandeira que vinha sendo hasteada pelos democratas.
Trump favorito dos eleitores?
Em entrevista ao InfoMoney, Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas do grupo Eurasia, ressalta o ambiente de polarização política e o aumento de favoritismo de Trump, mas aponta ser cedo para tirar conclusões definitivas, pois a eleição ainda está a quatro meses de distância.
Garman avalia que o atentado pode reforçar a candidatura de Trump, já que sua resistência ao ataque projeta uma imagem de fortaleza, contrastando com a fragilidade de Joe Biden, grande ponto fraco do democrata e evidenciado principalmente após o debate no fim de junho.
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Além disso, o atentado dificulta a linha de ataque dos democratas contra Trump. Garman avalia, de toda forma, que “aumenta o grau de pânico no partido democrata, mas também dificulta a troca da candidatura de Biden”, uma vez que pode evidenciar ainda mais a fragilidade do partido.
Ao Washington Post, Douglas Brinkley, historiador presidencial da Universidade Rice, diz que as imagens de Trump após o tiroteio provavelmente se tornarão icônicas. “Há algo no espírito americano que gosta de ver fortaleza e coragem sob pressão, e o fato de Trump ter erguido o punho se tornará um novo símbolo”, disse Brinkley.
“Ao sobreviver a uma tentativa de assassinato, você se torna um mártir, porque obtém uma onda de simpatia pública.”
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No mais, o ataque aconteceu no Estado crucial para as eleições, que foi a Pensilvânia, onde Biden venceu Trump em 2020 por uma margem estreita. Assim, o incidente pode ter um impacto especial, de acordo com alguns estrategistas políticos, ao aumentar a participação republicana de eleitores simpatizantes de Trump.
Ânimo nos mercados?
Preliminarmente, investidores devem buscar por mais ativos tradicionais, de refúgio ao risco, e talvez olhem para ativos mais relacionados às chances de Trump ganhar, de acordo com observadores do mercado consultados pela Bloomberg.
“Suspeito que o ouro possa testar máximas históricas, veremos o iene sendo comprado, assim como o dólar, e fluxos para os títulos do Tesouro (americano) também”, diz Nick Twidale, analista-chefe de mercado da ATFX Global Markets.
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Além disso, comentários iniciais do mercado sugeriram que o atentado pode levar traders a elevarem a probabilidade de vitória do republicano nas eleições de novembro. Seu apoio a uma política fiscal mais flexível e tarifas mais altas pode beneficiar o dólar e enfraquecer os títulos do Tesouro.
Outros ativos positivamente relacionados ao chamado “Trump trade” incluem as ações de empresas de energia, prisões privadas, empresas de cartão de crédito e seguradoras de saúde. Traders também acompanharão de perto o desempenho do yuan chinês e o peso mexicano.
Um indicador inicial do sentimento de mercado no fim de semana é o Bitcoin, que superou os US$ 60.000, provavelmente refletindo a postura pró-cripto de Trump.
Brasil
Especialmente para o Brasil, o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, entende os ativos tendem a iniciar em campo positivo na abertura dos mercados nesta segunda-feira.
Conforme Laatus, o mercado tem demonstrado incômodo com a persistência do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que concorre à reeleição, em continuar a disputa, em meio a dúvidas a respeito do seu quadro de saúde.
Dessa forma, com um possível impulsionamento da campanha de Trump, o Ibovespa pode testar a importante marca psicológica dos 130 mil pontos. “O atentado dá muito foco para quem o sofreu. Trump fica em evidência e cada vez mais fortalecido.”
Na avaliação de Laatus, nesse sentido, o mercado de renda variável brasileiro pode se beneficiar da tentativa de assassinato de Trump.
Aversão ao risco
O economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio de Souza Leal, por sua vez, prevê um aumento da aversão ao risco nesta segunda-feira, refletindo o atentado contra Trump. Entretanto, para ele, é difícil prever a intensidade, duração e os impactos dessa reação, diante da falta de precedentes.
“Em condições normais, uma situação dessas deveria enfraquecer o dólar, porque foi um tiro no coração da sociedade americana. Mas a aversão ao risco pode fazer com que haja uma corrida para os ativos americanos, que são mais seguros”, ele diz.
“Mas a aversão ao risco nos Estados Unidos nunca é boa para países emergentes”, conclui. Para Leal, a primeira consequência óbvia do atentado é um grande aumento na chance de Trump se reeleger.
O economista traça um paralelo entre o atentado contra o ex-presidente americano e o ataque contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, que foi alvo de uma facada durante a campanha presidencial de 2018.
“Isso veio de onde não se esperava: você esperava que uma atitude violenta pudesse partir dos apoiadores de Trump, como ocorreu na invasão do Capitólio. Mas o atentado mostra que o outro lado – não os democratas, mas os anti-Trump – também estão dispostos a atitudes desesperadas”, reforça.
(Com Estadão Conteúdo, Reuters, Bloomberg e informações do Washington Post)