Trajetória atual de alta da Selic pode não ser suficiente para levar inflação à meta

Para Rodolfo Margato, economista da XP, projeção do BC de inflação para daqui a 18 meses e estimativa do Focus para a Selic em 2025 estão em descompasso

Augusto Diniz

Conteúdo XP

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A elevação da taxa Selic de 10,50% para 10,75%, promovida pela Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta-feira (18), não significa que o novo ciclo de aperto monetário do Banco Central (BC) seguirá nesse ritmo.

Para Rodolfo Margato, economista da XP, que participou hoje (19) do Morning call da XP, a projeção de inflação do Copom para o horizonte relevante de política monetária (primeiro trimestre de 2026) é de 3,5%, conforme apresentado no comunicado após a decisão de subir a taxa Selic.

Selic vai até 12%

Assim, ele ressaltou a estimativa do boletim Focus de que a taxa Selic pode chegar até 11,50% no início do ano que vem, voltando a 10,50% no final de 2025.

Dessa forma, segundo ele, há “um sinal de que a trajetória (de alta da Selic) pode não ser suficiente para levar a inflação à meta (de 3%)”. “Isso reforça o cenário base da XP de que a Selic subirá a 12% (até o início do ano que vem)”.

A XP projeta que a taxa Selic irá subir 0,50 ponto percentual (pp) em cada uma das duas próximas reuniões do Copom agendadas para esse ano. Além disso, estima uma elevação de 0,25 pp na primeira reunião de 2025.

“Taxa a 12% parece bem equilibrada”, disse. Para Margato, a atividade econômica no Brasil está com uma dinâmica mais forte do que a esperada.

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“O próprio Banco Central reconheceu isso no comunicado. Aqui, nós até identificamos alguns sinais de reaceleração”, comentou.

PIB em alta

“É claro que isso eleva as projeções do PIB, mantém o consumo com uma boa dinâmica, mas ao mesmo tempo traz desafios adicionais para o Copom e o Banco Central de levar a inflação à meta de 3%”, ressaltou.

“Além disso, as incertezas fiscais permanecem aqui no nosso país”, acrescentou. “As expectativas de inflação, um elemento muito importante, estão desancoradas. As projeções de inflação nos próximos anos estão acima da meta de 3%. Essas expectativas se distanciaram da meta ao longo dos meses”, explicou.

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Segundo o economista da XP, a leitura do cenário pelo Copom é “dura”. “Ele subiu 0,25 pp e manteve discurso firme de combate à inflação”, pontuou.

EUA

Sobre a queda dos juros nos Estados Unidos de 0,50 pp, também anunciada nesta quarta, ele destaca o comunicado do Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve.

O documento aponta que o banco central dos Estados Unidos projeta inflação “mais encorajadora”, de 2,6%, até o final do ano. “A XP, por exemplo, projeta 2,8%”, afirmou.

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“O mercado discute agora se o Fed está atrás da curva, se ele está enxergando algum risco de recessão, se ele pode manter esse ritmo de 0,50 pp nas próximas reuniões”, disse.

“No entanto, não tem nada ali (do comunicado) sugerindo recessão, pelo contrário”, concluiu.