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Imagine essa situação: você investe em uma plataforma que confia, mas, da noite para o dia, ela quebra levando todo o seu dinheiro. Quando você se dá conta, percebe que perdeu R$ 1 milhão.
Pode parecer absurdo, mas foi exatamente o que aconteceu com o gaúcho André Fauth, um dos vários brasileiros que ficaram com recursos retidos na corretora de criptomoedas FTX, que colapsou e entrou em recuperação judicial nos Estados Unidos no dia 11 de novembro, deixando para trás cerca de 1 milhão de credores e um passivo estimado em cerca de US$ 10 bilhões.
“Qualquer pessoa fica triste ao perder R$ 1 milhão. Foi uma coisa difícil de aceitar. Eu poderia fazer várias coisas com esse dinheiro, até ajudar pessoas próximas a mim. Me senti de certa forma até um pouco egoísta, ganancioso”, explica Fauth em entrevista ao Cripto+, programa semanal do InfoMoney no YouTube sobre o mundo dos criptoativos (assista a íntegra no player acima).
Trader desde 2017, Fauth havia posicionado os cerca de R$ 1 milhão em diversas posições na FTX com a intenção de comprar Bitcoin (BTC) por um preço considerado por ele baixo para um retorno de longo prazo. A FTX era conhecida como uma exchange de criptomoedas vantajosa para quem ganha a vida negociando ativos digitais.
“É uma corretora [na qual] eu gostava bastante de operar. Eu tinha inclusive várias estratégias que só funcionavam lá, por algumas tecnologias que as outras não têm”, diz, justificando o uso da FTX, que até a crise não era tão conhecida no Brasil.
“Eu tinha confiança de que esse dinheiro que eu coloquei lá fazia dois ou três meses para fazer compras de Bitcoin [estaria seguro]. Tinha um dinheiro expressivo lá porque achava que era um bom momento para comprar [Bitcoin], e precisava de margem para outras operações que estavam rodando na corretora”, aponta.
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No entanto, quando os problemas na corretora começaram, ele estava em viagem e acabou não tendo tempo suficiente para sacar o dinheiro. “Eu já tinha ouvido alguns boatos sobre a FTX, já eram os sinais, mas eu acabei não dando importância. No dia seguinte, cheguei em Natal, no Rio Grande do Norte, e começaram a me falar para tirar o dinheiro da corretora. E aí fui tentar tirar, mas não deu mais tempo”, explica o trader.
“Eu fiquei sem acreditar. Era uma corretora que a gente confiava, conheço vários traders profissionais [que usavam a corretora]. É algo que a gente não imaginava que pudesse acontecer”.
O gaúcho ainda alimenta esperanças de que alguém se disponha a comprar a FTX e a assumir a dívida bilionária da exchange, mas confessa que o cenário é improvável e, por isso, também avalia ingressar com uma ação judicial.
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Sabendo que o resultado deve demorar, ele tem uma estratégia: enquanto ainda tinha acesso à sua conta, converteu tudo o que ele tinha em Bitcoin, com a aposta de que a criptomoeda irá valorizar até que o caso tenha um desfecho e seus ativos sejam devolvidos. Se até lá a criptomoeda retomar a máxima atingida no ano passado, o valor preso pode se transformar em mais de R$ 3 milhões.
“Acredito que ainda vai demorar um tempo até isso ser resolvido. Mas, vamos ver, ao longo dos anos, se consigo reaver parte desse valor”, conta, na expectativa de que, na pior das hipóteses, a FTX reprise o caso da exchange japonesa Mt. Gox, que sofreu um hack em 2014, quando o Bitcoin valia menos de US$ 1 mil, e hoje está enfim próxima de devolver os ativos de credores em todo o mundo.