Totvs (TOTS3) desaba quase 10% após decepção com balanço, mas analistas veem oportunidade

Resultado desagradou ao não ser tão positivo quanto anteriores, mas analistas seguem positivos com companhia e veem que ação pode se recuperar da baixa

Felipe Moreira

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A Totvs (TOTS3) reportou na última quarta-feira (7) resultados do quarto trimestre de 2023 (4T23) que desagradaram os investidores e analistas de mercado, principalmente pelo contraste com os dados fortes do trimestre anterior, que levaram o papel a uma alta de 30% apenas em novembro do ano passado. Com uma leitura diferente desta vez, as ações TOTS3 fecharam em forte queda de 9,77%, a R$ 29,64, no pregão desta quinta-feira (8).

O Bradesco BBI avaliou o resultado do 4T23 como negativo para as ações, considerando o descumprimento das expectativas. A empresa de software teve lucro líquido de R$ 126,2 milhões no quarto trimestre, montante 17,7% inferior ao reportado no mesmo intervalo de 2022. Já a receita líquida somou R$ 1,228 bilhão no quarto trimestre do ano passado, crescimento de 17,8% na comparação com igual etapa de 2022.

O grande destaque negativo, contudo, ficou para o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações). Em termos ajustados (incluindo 50% da divisão Techfin), o número ficou de R$ 258 milhões (versus R$ 295 milhões do 3T23), mas bem abaixo da expectativa do Bradesco BBI (de R$ 299 milhões) e do consenso de R$ 282 milhões.

A margem Ebitda (Ebitda sobre receita líquida) da divisão de Gestão foi a principal culpada, com compressão para 23,3% (versus 25,6% no 3T23), devido ao maior nível de despesas com marketing e vendas e reajustes salariais.

O resultado de Business Performance também foi fraco, com Ebitda de R$ 2 milhões, que já inclui um ajuste para cima devido a um aumento ‘extraordinário’ de R$ 40 milhões nas despesas de earn-out (cláusula contratual adotada em operações de fusões e aquisições de empresas que prevê um pagamento adicional condicionado a resultados futuros do negócio) da Tallos. “Por último, os resultados da Techfin também foram pouco inspiradores, com uma forte redução sequencial no NII (receita de intermediação financeira)”, ressalta o banco.

Embora o crescimento da receita ainda tenha sido adequado no trimestre, o BBI acredita que o forte aumento nos custos pode levar ainda o mercado a revisar para baixo as expectativas para o Ebitda em 2024. Os números de consenso atuais apontam para um Ebitda de R$ 1,3 bilhão em 2024, o que parece desafiador e provavelmente será revisado para baixo, na opinião do banco.

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Para a XP Investimentos, a Totvs relatou resultados mistos no quarto trimestre. Embora a aceleração de Business Performance seja interessante, já era algo antecipado pelo mercado. Por outro lado, na visão da casa, o aumento da adição líquida de ARR no business em gestão é um sinal positivo. Apesar do fraco desempenho da Techfin neste trimestre, a corretora prevê melhorias nos próximos trimestres, particularmente com o desenvolvimento da JV com o Itaú.

A XP comenta que Totvs tem demonstrado consistentemente um desempenho robusto em todos os segmentos de negócio, estabelecendo a companhia como uma opção forte na cobertura de tecnologia da XP. “A sua impressionante trajetória de crescimento e as suas características defensivas posicionam a Totvs como uma oportunidade de investimento atrativa”, destacam os analistas.

O JPMorgan classifica os resultados da Totvs como fracos, com contração das margens de Ebitda em todos os três segmentos, resultando em um Ebitda proporcional ajustado 9,2% menor em relação às expectativas do banco. “Isso foi atribuído a vários fatores, incluindo impactos na valorização das ações sobre a remuneração de longo prazo, acordos salariais, reestruturação da Dimensa e outros eventos”, explica o banco americano. “Alguns desses fatores, como Dimensa, podem ser transitórios.”

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No lado positivo, o JPMorgan destaca que a intensidade comercial permanece muito forte, com adições de ARR superando as expectativas tanto nas unidades de Gerenciamento quanto de Desempenho Empresarial, apesar de alguma maior rotatividade no Gerenciamento.

O Itaú BBA também destaca a margem bem abaixo do esperado, apesar de ARR e receita em linha. O BBA avalia que a Dimensa trocou a gestão e está reestruturando a operação, o que levou a um impacto na receita (revisão de projetos) e margens. Segundo os cálculos do banco, uma queda de receita da Dimensa em 2024 e uma redução na margem pela metade teriam impacto de até 5% do Ebit (lucro antes de impou 3% no lucro por ação (EPS) desse ano. Apesar disso, o BBA mantém classificação outperform (desempenho acima da média do mercado), pois vê esse resultado mais como uma “pedra no caminho” que um “descarrilhamento do trem”.

Avaliando que mesmo grandes empresas têm dias (ou trimestres) ruins, o BTG Pactual ressaltou que as receitas de da divisão de Gestão e Desempenho de Negócios foram em linha com as suas expectativas (otimistas), enquanto a lucratividade ficou bem abaixo dos seus números. O crescimento e a lucratividade do vertical Techfin também foram abaixo das suas estimativas, resultando em um Ebitda consolidado 9,4% abaixo do que esperava. Assim, o banco apontou, em relatório antes da abertura do mercado, que sendo “vítima do próprio sucesso”, as ações TOTS3 poderiam sofrer, já que os investidores estão acostumados com resultados muito sólidos.

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“Alguma pressão sobre as ações é natural quando há um desafio no caminho. Mas, quando se trata de empresas de qualidade, essa dinâmica geralmente é uma boa notícia para os investidores de longo prazo, pois será uma oportunidade de comprar (a um preço mais barato) uma empresa que vem expandindo consistentemente as receitas e o lucro líquido”, avalia o banco, que segue com recomendação de compra para os ativos, com preço-alvo de R$ 38. A XP Investimentos também mantém recomendação de compra e preço-alvo para o final de 2024 de R$ 39 por papel. O JPMorgan também tem recomendação de compra e preço-alvo de R$ 40.