TIM, Vivo e Claro unidas por operação móvel: o que isso significa para a Oi – e qual delas pode se sair melhor

Analistas do Credit Suisse destacam que a TIM pode ser a principal beneficiária da operação, enquanto BBI destaca ótimo passo para a Oi

Lara Rizério

Loja da Oi Móvel/Oi telecomunicações em São Paulo (Foto: Paulo Fridman/Corbis via Getty Images)
Loja da Oi Móvel/Oi telecomunicações em São Paulo (Foto: Paulo Fridman/Corbis via Getty Images)

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SÃO PAULO – TIM (TIMP3), Vivo (VIVT4) e Claro unidas por um mesmo objetivo? Isso aconteceu com a proposta tão esperada pela unidade móvel da Oi (OIBR3;OIBR4), em recuperação judicial, feita pelas operadoras no último sábado através de oferta conjunta divulgada no último sábado (18).

O comunicado era bastante esperado pelo mercado, uma vez que já havia negociações para uma oferta para a área móvel da Oi. Mas, mesmo assim, não deixou de surpreender, já que também contou com a união da Claro, controlada pela América Móvil, com TIM e Vivo, o que não estava sendo considerado inicialmente.

A oferta conjunta está sujeita a algumas condições – uma delas é o reconhecimento de que as três empresas são as primeiras proponentes, o que permite que elas tenham o direito de cobrir outras propostas que eventualmente forem feitas.

A Oi estabeleceu um preço mínimo de R$ 15 bilhões pelos ativos móveis – a companhia quer usar os valores da venda para financiar o crescimento da sua banda larga de fibra ótica e infraestrutura e pagar dívidas, tentando escapar da proteção de insolvência. A empresa tem mais de 350 mil quilômetros de cabos de fibra no país, além de cerca de 43 mil quilômetros de dutos para cabos de telecomunicação.

A notícia foi bastante bem recebida pelo mercado, com as ações da Oi chegando a subir quase 20% na máxima do dia (contudo, vale ressaltar o baixo valor de face dos ativos; assim, uma variação de centavos leva a uma forte variação percentual), para depois amenizarem. Os papéis OIBR3 fecharam em alta de 9,09% (R$ 1,32), enquanto os OIBR4 subiram 8,84% (R$ 1,60). Os ativos da TIM e da Vivo também registraram uma disparada, com destaque para os papéis TIMP3, com salto de até 10,55%, para fecharem em alta de 6,13%, a R$ 16,80. Enquanto isso, VIVT4 subiu 5,99%, a R$ 53,41, após avançar até 8,10% na máxima do pregão. Com ganhos mais modestos, a América Móvil avançou 3,14% na bolsa mexicana.

Conforme destacam analistas que cobrem o setor, a concretização do interesse de Claro, TIM e Vivo é uma excelente notícia para a Oi à medida em que a venda de seus ativos móveis é um dos passos mais importantes para o sucesso de seu “turnaround” e uma possível saída do estado de recuperação judicial, segundo aponta análise da Levante Ideias de Investimento.

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Os analistas apontam que havia um receio de que as três companhias se organizassem em uma espécie de cartel e obrigassem a Oi a aceitar uma oferta ruim e hostil, desfavorável diante da eventual ausência de outras propostas. No entanto, as declarações das companhias têm sido no sentido de respeito à recuperação judicial e celeridade, sem demonstrarem a intenção de pagarem abaixo do valor justo pelos ativos. Vale destacar que, segundo o jornal espanhol El Confidencial, a oferta seria de cerca de R$ 16 bilhões (ou cerca de 2,6 bilhões de euros), acima do preço mínimo estabelecido.

Além disso, a Oi afirmou que recebeu “mais de uma proposta vinculante” de interessados na aquisição da Oi Móvel. A respeito de outras propostas, a empresa afirma que não dará mais detalhes, por motivos de confidencialidade e interesse comercial, até o fim do processo competitivo.

Para os analistas do Bradesco BBI, a oferta em conjunto das três operadoras de telefonia é um ótimo sinal, reforçando a credibilidade da atual administração da Oi.

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“Dada a oferta, agora existem poucas dúvidas sobre o valor estratégico das operações móveis da Oi ou sobre a capacidade da Oi levantar caixa por meio dessa venda, o que levará a uma redução da alavancagem da empresa”, disseram os analistas do banco, liderados por Fred Mendes.

O Bradesco BBI espera ainda que essa oferta facilite a aprovação do novo plano de recuperação judicial pelos credores.

TIM, Vivo ou Claro: qual se sairia melhor?

Como pode ser observado através da alta das ações no setor, a notícia é positiva para a Oi e também para as demais companhias. Contudo, caso a operação seja concluída, há quem possa ser ainda mais beneficiada, conforme avalia o Credit Suisse.

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Segundo destacam Daniel Federle, Felipe Cheng e Juan Pablo Alba, analistas do banco suíço, a TIM deve ficar com maior parte da rede móvel caso vença o leilão com a Vivo e a Claro. Enquanto a TIM ficaria com 54% da operação, Vivo teria 24% e a Claro teria 22%. A expectativa é de um ganho de participação de mercado de 9 pontos percentuais para a TIM e 4 pontos para Claro e Vivo.

A subsidiária da companhia italiana Telecom Itália também teria a maior parte dos espectros – ou a divisão de frequências – da Oi, com cerca de 60%, enquanto Vivo e Claro teriam, respectivamente, 30% e 10%. “Esta composição deve levar a um melhor balanceamento de assinaturas no mercado”, avaliam os analistas.

Já para o Morgan Stanley, há quatro benefícios que podem ser observados para a Telefônica Brasil, dona da Vivo (alguns se aplicando para o setor como um todo), em um contexto de: i) consolidação da indústria, ii) melhora do fluxo de caixa apoiados pela demanda reprimida por conexão premium; iii) implantação da reforma do setor de telecomunicações, iv) melhoria operacional via acordos de compartilhamento de rede e v) o fato de ser um negócio defensivo com 7,5% de dividend yield (indicador calculado pelo dividendo pago por ação dividido pela cotação do papel).

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Em relação ao setor como um todo, os analistas do banco americano, liderados por Cesar Medina, destacam que, com a oferta conjunta, ao invés de um único participante capturar a maioria dos benefícios de fusões e aquisições, a consolidação móvel deve levar a melhores ventos para o setor como um todo com uma concorrência mais racional e maior disponibilidade de 4G.

“Além disso, com a América Móvil se unindo à Vivo e TIM para a aquisição, vemos uma consolidação mais ordenada e coordenada, com menos obstáculos regulatórios”, avaliam.

Eles destacam ainda que a maioria dos clientes fora das três principais operadoras apresenta tais características: possui alta taxa de cancelamento (churn), baixa receita média por usuário (ARPU, na sigla em inglês) e planos pré-pagos.

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Atualmente, a Claro possui uma participação de mercado de 26% no setor de telefonia móvel no Brasil, a Oi possui uma participação de 16% e a TIM e a Vivo possuem ações de 23% e 33%, respectivamente. Cerca de 66% da base de clientes da Oi é pré-paga.

Diferentes preferências no setor

Sem incorporar a negociação com a Oi, o Credit Suisse destaca a TIM como top pick do setor, com preço-alvo de R$ 20 em 12 meses, alta de 27% em relação ao pregão de sexta-feira, enquanto a Vivo também segue com recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 67, ou potencial de alta de 21% em relação ao mesmo fechamento.

O Bradesco BBI, por sua vez, possui recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para a TIM, com preço-alvo de R$ 18,50 (upside de 17%) e neutra para os ativos VIVT4, com preço-alvo de R$ 60 (alta de 19%).

A preferência no setor, contudo, vai justamente para os ativos OIBR3, com preço-alvo de R$ 2,10 (ou um potencial de alta de 74%), destacando que a Assembleia Geral de Credores em 17 de agosto deve ser justamente um gatilho de curto prazo para os ativos.

“O fato de a administração ter em mãos uma oferta formal para a sua área móvel para apresentar à reunião deve ajudar na aprovação [do pedido de aditamento ao plano de recuperação judicial que foi aprovado pelos credores da companhia em dezembro de 2017]”, destacam os analistas do BBI. Além disso, apontam, como a Oi continua a entregar uma expansão no segmento de fibra ótica (124 mil residências conectadas em maio), eles apontam ver um caminho claro em direção à sustentabilidade da companhia.

Vale destacar ainda que, em paralelo, também no último fim de semana, a Highline do Brasil apresentou uma oferta pelos ativos de telecomunicação outdoor e indoor de transmissão de radiofrequência da Oi por R$ 1,076 bilhão.

Os analistas da Levante ainda apontam que, na semana passada, a Oi já havia anunciado duas notícias positivas. A primeira é que a companhia quer liquidar o saldo devedor das suas dívidas com os bancos e com as agências de crédito à exportação (ECAs) com descontos de 60% no valor de face. A segunda é que a empresa quer reduzir em 50% o valor da sua dívida com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), cujo montante devido é de aproximados R$ 12 bilhões.

“O processo de renegociação de dívidas e venda de ativos é essencial para a Oi recuperar a sua capacidade de investimento. A companhia busca se tornar a maior provedora de infraestrutura de telecomunicações do Brasil a partir de investimentos em fibra óptica, o que – em tese – daria à companhia um papel relevante na massificação do 5G no país”, ressaltam os analistas da Levante.

Cabe apontar que, de acordo com compilação feita pela Bloomberg com 6 casas de análise, 3 possuem recomendação de compra para os ativos ON da companhia, 2 recomendação manutenção e 1 recomenda venda. Para os ativos PN, a divisão também ocorre: 2 recomendam compra, 2 recomendam manutenção e 3 recomendam venda.

Assim, a oferta apresentada pelos seus ativos móveis na última semana parece um bom passo para isso, mas há ainda quem esteja cético com o papel, principalmente após os anos difíceis da companhia. Porém, os caminhos para a empresa aparecem como mais positivos depois de anos turbulentos – e com potencial para beneficiar o setor como um todo.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.