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Em meio ao cenário de alta alavancagem das companhias de vários setores (principalmente ligados à economia doméstica), mais uma empresa anunciou um desdobramento para reduzir a alavancagem.
Na sexta-feira (3), após o fechamento do mercado, a construtora Tenda (TEND3) anunciou uma venda de R$ 320 milhões de sua carteira de recebíveis, resultando em uma captação líquida de R$ 132 milhões. Mesmo com a notícia, as ações caíram 4,20%, a R$ 4,79, na sessão desta segunda-feira (6). Contudo, analistas veem possíveis gatilhos para a companhia no curto prazo.
A securitização é uma venda de recebíveis não garantidos relativos a unidades em construção (“pró-soluto”) sem qualquer
coobrigação da Tenda. Embora a Tenda possa contabilizar uma perda de R$ 28 milhões com a venda, ela deve receber R$ 132 milhões em caixa no primeiro trimestre, o que certamente é positivo para reduzir a alavancagem. Ela tinha cerca de R$ 800 milhões em dívida líquida no terceiro trimestre de 2022 (3T22), conforme destaca o BTG Pactual.
Conforme destaca a Genial Investimentos, a entrada de caixa de R$ 132 milhões é um alívio para o aperto de liquidez que a Tenda vinha sofrendo, e se soma à expectativa do programa Pode Entrar para gerar um noticiário extremamente positivo para a companhia.
O BTG Pactual também vê que o programa Pode Entrar pode ser um divisor de águas para a empresa. O Pode Entrar é um programa de moradia popular projetado pelo governo municipal de São Paulo, semelhante ao Minha Casa Minha Vida, do governo federal.
Embora ainda não esteja claro (i) quanto a Tenda venderá para o programa e (ii) como os projetos vendidos serão contabilizados (total antecipadamente ou durante a construção), o BTG acredita que isso pode ser muito significativo para a
Tenda, potencialmente reduzindo bastante sua alavancagem.
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Os analistas do banco destacam não ser novidade que a alavancagem da Tenda está alta, com dívida líquida/patrimônio líquido fechando o 3T22 em 55%, tendo que ficar abaixo de 80% no 4T22 e 50 % no 1T24 (de acordo com os
covenants), enquanto esperam que a empresa continue consumindo caixa e apresentando prejuízos neste ano. Porém, a venda de recebíveis + entrada no “Pode Entrar” (se confirmada) pode levar os analistas a revisarem seus números.
Na mesma linha, a Genial ressalta que o aperto financeiro era o principal motivo para a sua recomendação neutra, o que significa que deve rever seus números para fazer jus às entradas extraordinárias de caixa (ainda dependente do resultado do Pode Entrar, que deve sair até o final de março).
Apesar da Genial enxergar a venda da carteira como positiva, destaca o deságio significativo (cerca de 60%) entre o volume de carteira vendido e a entrada de caixa. Este deságio decorre da taxa média da carteira que ficou em CDI +5%, comparado a operações similares da MRV (MRVE3) que são absorvidas pelo mercado a CDI + 3,5%, como pode ser visto no último mês nas aquisições pelos fundos CPTS11 e PLCR11.
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O BTG também tem recomendação neutra para os ativos, mas vê a empresa ganhando impulso à medida que a alavancagem cai.
“A alavancagem da Tenda é a razão número 1 para nossa recomendação neutra na ação, pois deve ser difícil entregar toda a desalavancagem exigida pelos credores. Embora ainda não estejamos fazendo mudanças em nossas estimativas (uma vez que o resultado do “Pode Entrar” ainda é desconhecido), a Tenda parece estar tomando as medidas necessárias para ajustar sua estrutura de capital, um importante gatilho de curto prazo para a ação”, aponta.