Temporada de resultados do 3T24 é destaque: veja ações e setores para ficar de olho

Analistas veem temporada positiva, com destaque para empresas voltadas à economia doméstica

Lara Rizério

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A temporada de resultados do terceiro trimestre de 2024 (3T24) no Brasil começa com a perspectiva de dados positivos para o período e empresas voltadas à economia doméstica sendo destaques, mas atenção para as teleconferências das empresas por conta das possíveis sinalizações futuras em um cenário de juros altos por aqui.

Para o 3T24, o consenso espera um crescimento anual para a receita, Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciações e amortizações) e lucro por ação (LPA) em altas respectivas de 10%, 6% e 12%.

Na avaliação do Bank of America, empresas de proteína, utilities (serviços públicos, como energia e saneamento) e financeiro podem ser os principais catalisadores para a expansão do lucro por ação.

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Para os analistas, excluindo commodities, o LPA do Ibovespa deve se expandir pelo 5º trimestre consecutivo. O crescimento anual do Ibovespa ex-commodities para receita, Ebitda e lucro por ação 3T24 é esperado para ter alta de 9%, 20% e 23% (comparado com o crescimento anual de 9%/21%/38% no último trimestre).

“Continuamos a ver uma recuperação dentro dos setores atrelados ao consumo no Brasil, especialmente levando em conta as bases de comparação mais fáceis em 2023”, avalia o banco. Os analistas esperam que o 3T24 seja positivo para varejistas de vestuário (clima relativamente mais seco e frio pode impulsionar as vendas), bancos (crescimento sólido do NII, ou margem financeira, do cliente e qualidade de ativos estável), saúde (melhoria operacional contínua devido a reajustes de preços mais altos), comunicação (forte crescimento das receitas), processadores de carne (baixos custos de grãos, fortes exportações e demanda sólida) e shoppings em menor extensão.

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O Santander, dentro do seu universo de cobertura, também projeta uma boa temporada, com os lucros indo de queda anual de 4% no 2T24 para alta de 17% no 3T24. “Isso também pode ser um gatilho positivo para as ações brasileiras no curto prazo”, aponta o banco.

Para o seu universo de cobertura do Brasil, o Santander espera um aumento médio de cerca de 7% na receita líquida, 2% no Ebitda e 17% no lucro líquido para o 3T24, tudo em uma base na base anual. “Vemos os setores domésticos postando outro conjunto de resultados positivos: estimamos um aumento médio anual de 22% no lucro líquido no 3T24, após subir 23,4% no 2T24”, avalia.

Alguns aspectos ajudam a explicar melhor o quadro na base anual esperado para os lucros trimestrais das empresas brasileiras sob a cobertura do banco, como (i) atividade resiliente, (ii) inflação relativamente controlada e (iii) uma taxa Selic menos restritiva do que a observada no ano passado (mas com discussões agora sobre qual pode ser o impacto da alta de juros pela frente).

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Na visão do Bradesco BBI, de forma consolidada, o Ibovespa deve apresentar um crescimento anual dos lucros de quase 20% no terceiro trimestre, liderado pelos setores industriais. “Notavelmente, esperamos que 70% das empresas do índice relatem lucros maiores em comparação ao mesmo período em 2023”, aponta o BBI.

As empresas brasileiras, segundo o banco, desfrutarão de um benefício duplo de: (i) uma economia local muito forte, que relatou crescimento trimestral do PIB em 5,9% anualizado; juntamente com (ii) redução das pressões de custo, já que tanto as taxas de inflação quanto a Selic estão mais baixas em bases anuais. Isso pode catapultar um aumento nas margens líquidas (excluindo as commodities) de 8% para 10%.

Destaques de empresas e setoriais

O Itaú BBA aponta que, dentre os setores domésticos, pode destacar: i) empresas de varejo de vestuário, que devem se beneficiar de um bom momentum de vendas e resultados melhores nas divisões financeiras; ii) setor de Construção Civil, que apresentou boas prévias operacionais, com melhoras nas vendas e números melhores de geração de caixa, comparados a trimestres anteriores; iii) empresas de Bens de Capital, que devem continuar com bom momentum de resultado visto nos últimos trimestres, com destaque para rentabilidade das companhias.

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Para o varejo, o Santander espera que a temporada de lucros do 3T24 mostre tendências de melhora, tanto no crescimento da receita quanto nas melhorias de lucratividade. Também acredita que nomes discricionários, especialmente varejistas de moda, Renner, C&A (CEAB3) e Guararapes (GUAR3) devem se destacar tanto no desempenho de vendas quanto nas melhorias de margem. “Esperamos que os destaques desta temporada de lucros sejam CEAB3, GUAR3, LREN3, GMAT3, SMFT3 e NTCO3, e os pontos baixos sejam PETZ3 e CRFB3“, afirma.

Além disso, nos setores domésticos, o setor de saúde deve mostrar tendências parecidas com as do 2T24, diz o BBA, mostrando melhora sequencial e crescimento anual, especialmente nas empresas mais líquidas. No setor de Energia Elétrica, espera resultados melhores para as empresas de distribuição, impulsionadas por demanda crescente, enquanto empresas de geração deve ser impactadas negativamente por hidrologia e curtailment (restrições impostas pela ONS), e empresas de transmissão devem refletir receitas maiores no novo ciclo, mas não espera surpresas em pagamentos de dividendos.

No setor de varejo alimentar, os resultados de empresas mais expostas as regiões sul/sudeste do país devem ser impactados por competição/canibalização e inflação de alimentos mais fraca.

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Já no setor financeiro, o BBA espera que os bancos com exposição a varejo devem mostrar os melhores resultados, impulsionados por um cenário macro favorável para crédito (inflação controlada, atividade forte, e baixo desemprego), enquanto empresas de seguros devem mostrar bons resultados (mas vindo de uma base fraca no último trimestre) e empresas ligadas ao mercado de capitais devem mostrar resultados resilientes.

Na visão da XP, a temporada deve manter as tendências observadas no 2º trimestre. Para os bancos incumbentes, as carteiras de crédito estão crescendo dentro do guidance, levando a melhores margens financeiras de clientes. No entanto, os NIIs do mercado provavelmente mostrarão volatilidade à medida que as taxas de juros subam novamente. Em relação à qualidade de crédito, espera-se que a maioria dos bancos apresente NPLs (taxas de inadimplência) estáveis, enquanto o Custo do Risco pode sofrer alguma volatilidade devido à deterioração no setor do Agronegócio. No geral, esses fatores devem resultar em melhora sequencial nos resultados, principalmente para Bradesco, Itaú e Santander (SANB11).

O Santander espera que o mercado receba bem os resultados do Bradesco no 3T24, pois acredita que a combinação de forte crescimento da margem financeira e custo de risco estável pode levar os resultados a superar o consenso neste trimestre. Por outro lado, prevê que o Banco do Brasil reporte lucro líquido estável no 3T24 na base trimestral e que os investidores possam enfrentar decepções, dados os problemas relacionados ao segmento do agronegócio e a importância dos ganhos de tesouraria e dos resultados da Patagonia. No entanto, espera que o banco relate uma recuperação nos desembolsos de crédito do Plano Safra durante o 4T24 e o 1T25, o que deve beneficiar a receita de crédito daqui para frente.

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No setor financeiro não-bancário, projeta que a BB Seguridade (BBSE3) relate resultados mistos neste trimestre, com riscos de queda para as metas de prêmios emitidos (crescimento de 8-13% em 2024), o que também pode levar a uma tendência possivelmente mais fraca no futuro, dependendo da dinâmica rural. Apesar dos prêmios emitidos mais fracos, não esperamos impactos nos prêmios ganhos no curto prazo. Quanto à B3 (B3SA3), vê despesas aumentando no 3T24 devido a: (i) despesas com pessoal (acordo coletivo de trabalho); (ii) despesas vinculadas à receita (taxas de incentivo relacionadas ao produto cripto); (iii) D&A (depreciações e amortizações, relacionadas à Neurotech); e (iv) processamento de dados. As despesas devem ser parcialmente compensadas por um resultado financeiro de R$ 51 milhões, devido ao maior saldo de caixa e taxas de juros, em nossa visão.

Já no setor de commodities, o BBA projeta resultados mais fracos, com queda no crescimento de Ebitda comparado ao 2T24, à medida que os resultados serão afetados por preços mais baixos, sendo parcialmente compensados por dinâmicas melhores de volume em alguns casos. O setor de mineração e siderurgia deve ser o mais afetado, mostrando contração no resultado em base anual e sequencial.

O Santander espera, no cenário de commodities, por sua vez, que as siderúrgicas brasileiras registrem fortes resultados trimestrais no 3T24, com base em alguma recuperação de margem e bases de comparações fáceis, enquanto os resultados das empresas de mineração e papel e celulose devem ser impactados principalmente por preços realizados trimestrais mais fracos no trimestre. “Em nossa opinião, o Ebitda das siderúrgicas latino-americanas deve aumentar em 12% no trimestre. Quanto às empresas de mineração, esperamos um declínio médio do Ebitda de 3% no trimestre, com a Vale (VALE3) entregando um Ebitda consolidado de US$ 3,5 bilhões (-6% no trimestre) no trimestre”, avalia.

As apostas em ações

Em termos de empresas específicas, os estrategistas do Santander esperam que Bradesco (BBDC4), Lojas Renner (LREN3) e Vibra (VBBR3) possam ser os destaques positivos do 3T24. O BBDC4 deve ter margens com clientes em expansão, beneficiando-se da expansão do crédito, enquanto a margem com o mercado deve seguir a níveis mais baixos, afetada pela curva de juros. Para LREN3, a visão é de aceleração da receita e com uma acomodação da concorrência internacional, enquanto a Vibra deve registrar margens melhores, com uma competição mais saudável e possíveis impactos das medidas regulatórias.

Por outro lado, antecipa que Banco do Brasil (BBAS3), Suzano (SUZB3) e Carrefour (CRFB3) podem ser os pontos baixos desta temporada. Para o BB, a visão é de que a seca dos últimos meses adiou o plantio da safra de 2025 e, como consequência, também adiando a contratação de empréstimos via Plano Safra. Como resultado, espera ver uma desaceleração nos empréstimos do agronegócio, pressionando as receitas relacionadas ao crédito. No caso de Suzano, vê que as empresas de celulose e papel devem apresentar resultados trimestrais fracos, devido à queda dos preços da celulose e projeção de baixa de 8% trimestralmente para a empresa. Já no caso do Carrefour, após a forte aceleração das vendas nas mesmas lojas na divisão do atacarejo, espera uma desaceleração no 3T24.

Para o Morgan Stanley,  4 nomes que podem trazer possíveis catalisadores positivos. São elas: Eletrobras (ELET3;ELET6), JBS (JBSS3), Lojas Renner (LREN3) e Ser Educacional (SEER3); enquanto isso, acha que a Fleury (FLRY3) pode decepcionar no 3T24.

O Itaú BBA, por sua vez, ressaltou algumas ideias para operar no 3T24. O banco destaca ficar comprado em bancos de varejo, como Bradesco e Nubank (BDR: ROXO34). Outra ideia é a compra em WEG (WEGE3). Além disso, entre as construtoras, recomenda compra em Direcional (DIRR3) e no varejo vê números positivos também para Renner (LREN3), além de C&A (CEAB3), Guararapes (GUAR3) e Vivara (VIVA3). Para as empresas de energia, está comprado em distribuidoras e vendido em geradoras. O banco vê melhores resultados para as empresas de distribuição, impulsionadas pelo aumento da demanda, enquanto as empresas de geração devem sofrer com maiores impactos de redução e pior hidrologia.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.