Taxas futuras de juros sobem com alta dos yields dos Treasuries e receios com fiscal

Dados sobre as contas públicas divulgados pela manhã vieram dentro do esperado, mas continuaram demonstrando um cenário fiscal de dificuldades no Brasil

Reuters

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SÃO PAULO (Reuters) – As taxas dos DIs fecharam a quinta-feira em alta, em especial entre os contratos de janeiro de 2026 a 2028, com a curva a termo refletindo o avanço dos Treasuries no exterior e preocupações dos investidores com o equilíbrio fiscal no Brasil.

Na ponta curta, a curva passou a precificar chances ainda maiores de o Banco Central subir a Selic em 50 pontos-base em novembro, e não em 25 pontos-base.

No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 — que reflete as apostas para a Selic no curtíssimo prazo — estava em 11,038%, ante 11,006% do ajuste anterior.

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A taxa para janeiro de 2026 estava em 12,27%, em alta de 4 pontos-base ante o ajuste de 12,228%, e o vencimento para janeiro de 2027 marcava 12,335%, com elevação de 6 pontos-base ante 12,271%.

Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 12,37%, ante 12,346%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 12,31%, ante 12,297%.

Os yields dos Treasuries sustentavam ganhos desde a primeira metade da sessão, após dados fortes do setor de serviços dos EUA reforçarem previsões de um corte de 0,25 ponto percentual na taxa de juros na reunião de novembro do Federal Reserve, um ajuste menor do que em setembro.

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Além do impulso trazido pelo exterior, as taxas dos DIs encontraram sustentação novamente na desconfiança dos investidores em relação à capacidade do governo de equilibrar as contas públicas.

O diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, chamou atenção para o fato de a elevação da nota de crédito do Brasil pela Moody’s, no fim da tarde de terça-feira, ter trazido certo alívio nos prêmios da curva na quarta-feira, mas com as taxas seguindo bem acima dos 12% na maioria dos vértices. Nesta quinta-feira, destacou Faria Júnior, a desconfiança com o fiscal voltou a pressionar a curva.

“Com a decisão da Moody’s, tinha que ter havido um alívio maior na curva, com o (janeiro) 2031 mais baixo. Mas o mercado não diminuiu tanto o risco fiscal”, comentou. “Nunca tivemos um ‘upgrade’ de agência de risco com uma resposta tão horrível”, acrescentou.

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Dados sobre as contas públicas divulgados pela manhã pelo Tesouro Nacional vieram dentro do esperado, mas continuaram demonstrando um cenário fiscal de dificuldades no Brasil.

O governo central — que reúne Tesouro, Banco Central e Previdência Social — registrou déficit primário de 22,404 bilhões de reais em agosto, ante um saldo negativo de 26,730 bilhões de reais no mesmo mês do ano passado. O resultado veio em linha com o saldo negativo de 22,4 bilhões de reais projetado por analistas em pesquisa da Reuters.

No acumulado dos oito primeiros meses do ano, o governo central acumulou um déficit primário de 99,997 bilhões de reais, 9,1% menor que o observado no mesmo período de 2023. Em 12 meses as contas do governo central acumulam déficit de 227,5 bilhões de reais, o equivalente a 1,98% do Produto Interno Bruto (PIB).

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O avanço maior das taxas dos DIs nos vencimentos do “miolo da curva” permitiu que as taxas longas tivessem altas menores. No trecho mais curto da curva, por sua vez, aumentaram as apostas em uma alta maior da Selic, hoje em 10,75% ao ano.

Perto do fechamento a curva brasileira precificava 83% de probabilidade de o BC subir a Selic em 50 pontos-base em sua próxima decisão e 17% de chance de elevação de apenas 25 pontos-base. Na véspera os percentuais eram de 71% e 29%, respectivamente.

Às 16h49, o rendimento do Treasury de dez anos — referência global para decisões de investimento — subia 6 pontos-base, a 3,846%.