Tarifas de Trump, Nvidia: o que mexeu nos mercados durante o Carnaval com B3 fechada

Dias foram de turbulência no mercado internacional com Trump fazendo valer as tarifas sobre Canadá, México e China, sendo este o grande tema do início da semana

Lara Rizério Agências de notícias

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Os dias de folia com o Carnaval estão acabando e a Bolsa brasileira voltará a operar na Quarta-feira de Cinzas em um pregão reduzido, passando a operar a partir das 13h (horário de Brasília).

E os mercados internacionais tiveram dias movimentados enquanto a Bolsa brasileira esteve fechada, ainda que o índice dos principais ADRs brasileiros – o Brazil Titans 20 – negociado em Nova York não tenha registrado baixas tão expressivas. Na segunda, o índice de empresas brasileiras registrou leve variação positiva de 0,09% e na terça queda de 0,56%, em recuperação após ter caído cerca de 2% nas mínimas do dia.

Boa parte das perdas nos mercados globais nos últimos dias se deu pelos desdobramentos para o mercado depois que o presidente Donald Trump anunciou o início das tarifas de 25% sobre o Canadá e o México no fim da tarde de segunda. Ele também dobrou a tarifa sobre todas as importações chinesas de 10% para 20% – essas taxas se somam às tarifas existentes sobre centenas de bilhões em produtos chineses.

Entre os principais índices americanos, na segunda, o Nasdaq Composto foi o índice mais perdedor, com queda de 2,64%. A Nvidia registrou um dos recuos mais intensos, de 8,69%, encerrando o pregão com o menor preço desde meados de setembro do ano passado. Destaque negativo também para a Amazon (-3 42%). O índice S&P 500 caiu 1,76%, enquanto o Dow Jones fechou em queda de 1,48%.

Na terça, a baixa continuou e se estendeu para outros mercados. Ao longo da sessão, porém, alguns nomes do setor de tecnologia que haviam sofrido mais em pregões anteriores, caso da Nvidia, encontraram espaço para uma leve recuperação e podem ter sido impulsionados pelo aumento nas expectativas de corte de juros pelo Federal Reserve no decorrer de 2025.

O índice Nasdaq recuou 0,35%, para 18.285 pontos. O S&P 500 fechou em queda de 1,22%, aos 5.778 pontos, enquanto o Dow Jones caiu 1,55%, aos 42.520 pontos. No acumulado do ano, todos os índices estão no vermelho, com destaque para o Nasdaq Composto, que registra perdas de 5,71%.

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Conforme havia anunciado, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi em frente com planos para tarifar em 25% as importações de México e Canadá e em 20% os produtos vindos da China. Os governos canadense e chinês anunciaram medidas retaliatórias, enquanto o México fará isso no domingo.

“A decisão do presidente Trump de avançar com as tarifas, somada a mais dados fracos sobre a economia dos Estados Unidos, resultaram em mais busca por segurança nos mercados financeiros” disse Jonas Goltermann, vice-economista-chefe de mercados da consultoria Capital Economics em um relatório. “Isso pode se provar uma reação exagerada – Trump pode facilmente mudar de ideia”, acrescentou.

Na véspera, dados também mostraram uma ligeira queda na produção industrial dos EUA. A pesquisa do ISM mostrou que o PMI do setor industrial caiu para 50,3 no mês passado, de 50,9 em janeiro, enquanto o índice prospectivo de novos pedidos ficou em 48,6 em fevereiro, de 55,1 em janeiro.

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Na última terça, a Nvidia fechou em alta de 1,69%, mas segue operando com valor de mercado abaixo dos US$ 3 trilhões.

Analistas do banco Mizuho apontaram que o declínio recente no preço das ações da companhia ocorre por uma série de motivos, entre eles preocupações com potenciais restrições às exportações de equipamentos de inteligência artificial.

Nem todas as ações de tecnologia, porém, tiveram recuperação na terça. Os papéis da Tesla fecharam em queda de 4,43%, enquanto os da Apple caíram 0,88%.

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Enquanto isso, na Europa, na última sessão, em Londres, o índice FTSE 100 fechou em queda de 1,27%, a 8.759 00 pontos. Em Frankfurt, o DAX recuou 3,53%, a 22.328,91 pontos. O CAC 40, de Paris, caiu 1,85%, a 8.047,92 pontos. Em Madri, o Ibex 35 perdeu 2,49%, a 13.039,60 pontos. Em Lisboa, o PSI 20 registrou baixa de 1,64%, a 6.700,33 pontos, enquanto em Milão, o FTSE MIB marcou variação negativa de 3,41%, a 37.736,16 pontos.

Em análise, o Deutsche Bank menciona que a Europa deve estar pronta para “um grande golpe em seu crescimento já anêmico”, à medida que a política tarifária americana se torna cada vez maior. De acordo com o banco alemão, ainda que a UE esteja menos exposta ao mercado dos EUA do que os vizinhos do país, a pressão tarifária ainda tiraria 1 ponto porcentual do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do continente. “Grandes mudanças na ordem global que influenciarão os mercados e as economias nos próximos anos estão, sem dúvida, surgindo agora”, pontua o Deutsche Bank ao relembrar que os europeus devem ser alvos de tarifas de 25%, assim como os canadenses e mexicanos.

As principais montadoras europeias fecharam em queda, como a Ferrari (-3,95%), Mercedes-Benz (-5,34%), Volkswagen (-2,28%), Stellantis (-10,67%) e Renault (-4,85%). As cotações são preliminares.

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No entanto, de acordo com o Swissquote Bank, apesar dos temores, os investidores têm preferido ações europeias em vez das americanas devido a preocupações com o crescimento mais fraco nos EUA, considerando o impacto das tarifas. Além disso, é esperado que a UE realize mais investimentos no setor de defesa, o que pode dar suporte ao apetite de risco. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, propôs um plano de 800 bilhões de euros, nomeado “REARM Europe”, para fortalecer as defesas.

Criptos e commodities

Já entre as criptomoedas, o início da semana também foi de emoções. Na segunda e durante boa parte da sessão de terça, o bitcoin caiu forte por conta da maior aversão ao risco, isso após um comecinho de semana de altas após anúncio do presidente sobre reserva estratégia de criptomoedas nos EUA.

No fim da tarde de terça, o bitcoin começou a subir cerca de 2%, na casa dos US$ 88 mil. De acordo com o Rabobank, a queda recente do bitcoin aconteceu com os temores da guerra comercial sobre ativos de risco, como a moeda digital. “A notícia diminuiu o apetite ao risco e fez com que o bitcoin recuasse os ganhos do dia anterior depois que Trump anunciou planos para uma reserva estratégica de criptomoeda dos EUA”, escreveu.

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Em análise, a Crypto Macro menciona que a atual estrutura econômica global é “politicamente insustentável”, e apenas medidas drásticas podem produzir mudanças de curto prazo. “Uma guerra comercial causará dor significativa no curto prazo, com consequências imprevisíveis”, apontou.

No mercado de commodities, destaque para o petróleo, que na terça caiu para mínimas de vários meses, após relatos de que a Opep+ planeja continuar com os aumentos de produção em abril, enquanto também sofreram pressão adicional das tarifas impostas pelos EUA.

Os futuros do Brent caíram a US$ 71 por barril. A mínima da sessão foi de US$ 69,75 o barril, o valor mais baixo desde setembro. O petróleo bruto dos EUA (WTI) recuou a US$68 o barril. O índice de referência chegou a cair mais cedo para US$66,77 por barril, no menor patamar desde novembro.

A terça-feira também guardou a expectativa pelo primeiro discurso como presidente dos EUA ao Congresso neste novo mandato, marcado para o fim da noite pelo horário de Brasília. A Casa Branca disse que o tema do discurso será a “renovação do sonho americano”, e se espera que ele apresente suas conquistas desde seu retorno ao governo, além de apelar ao Congresso para fornecer mais dinheiro para financiar sua agressiva repressão à imigração. As suas falas devem repercutir já na manhã de quarta nos mercados.

(com Reuters e Estadão Conteúdo)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.