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SÃO PAULO – Tamanho é documento? “Oui” (sim em francês) diria o BNP Paribas. Comemorando 20 anos de atuação no Brasil, a presidente da matriz brasileira disse que pretende aumentar cada vez mais sua base de ativos, seja de maneira orgânica ou via novas aquisições. “Se você quer ser bem sucedido no Brasil, precisa ter tamanho” disse a presidente-executiva da unidade brasileira, Sandrine Ferdane, em evento com jornalistas realizado na sede do banco em São Paulo.
O banco estuda um aumento de capital em sua unidade no Brasil, com o objetivo de impulsionar o crescimento nas atividades de banco de investimento e transações bancárias no país. A discussão está no tamanho e na extensão do plano, que preferencialmente deve ser feito por meio de um aumento de capital próprio. “Queremos acelerar essa área de acumulação de ativos, por que tamanho é importante. Vamos crescer, sim, a forma como vamos crescer é o que ainda não sabemos, mas queremos ter mais ‘market share’. Não somos varejo e não queremos ser, mas queremos crescer nas outras áreas que atuamos”, diz a executiva francesa.
Sandrine explica tamanho otimismo nos números recentes apresentados pela filial brasileira: no primeiro semestre de 2016, o BNP Paribas teve no Brasil um lucro líquido de R$ 86,95 milhões, um recorde para a companhia e 152% maior do que o visto no mesmo período de 2014 – ano em que a executiva tornou-se “chef” do Brasil. O total em ativos do banco acompanhou essa evolução e atingiu R$ 39,4 bilhões, o dobro do que era visto dois anos atrás. O segredo para o sucesso do BNP está condicionado a dois fatores: ter uma gestão “positiva” e foco no cliente.
Durante momentos de crise, os bancos em geral substituem as “boas ideias” por diminuição de tamanho, fechamentos e demissões. Não foi o caso do BNP: “nosso primeiro ponto foi tomar decisões ‘positivas’, que trouxeram resultados positivos e nos impediram de tomar medidas contracionistas”, diz Sandrine, ressaltando a importância de ter paciência quando um gringo chega ao Brasil. “Muita gente de fora do Brasil acha que aqui é o ‘Eldorado quick and easy’, mas é muito difícil operar no Brasil. É preciso ter isso em mente e ter paciência”, complementa. O foco no cliente, por sua vez, é importante pela ponte que o BNP faz para o importantíssimo mercado brasileiro: “todas as empresas listadas no CAC 40 (principal índice de ações da Bolsa de Paris) têm atuação no Brasil, e muitas delas têm o País como principal fonte de receita. Para acompanhar esses clientes, precisamos estar aqui”.
Para crescer, é preciso contratar (com parcimônia)
Em linha com a estratégia de expansão dos negócios, Sandrine mostrou que o banco está com portas abertas para trazer novos colaboradores. Contudo, antes que o anúncio empolgue tanto os estatísticos do governo quanto a população brasileira, a executiva coloca uma ressalva ao processo: “Contrataremos, mas com parcimônia. Crescer é bom, mas crescer contratando menos pessoas é melhor ainda. Contratar no Brasil ainda é muito caro”, explica. Para 2016, o BNP brasileiro deve trazer 60 novos funcionários; para 2017, o número deve ficar em torno de 50 contratações.
As contratações, explica a presidente, são mais qualitativas, trazendo peças individuais que, sozinhas, podem fazer a máquina do banco funcionar melhor. Ela citou como exemplo a contratação sênior feita na área de M&A (Fusões & Aquisições, na sigla em inglês) e de um brasileiro que morou na Alemanha por muito tempo para liderar a equipe que fará a conexão com clientes da principal economia europeia. Um novo executivo também chegou para a área de Private Equity, a qual deve mostrar uma volta do apetite do investidor, “principalmente porque tem muita coisa a ser feita aqui”.
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Diversificação e “orgulho de ser brasileira”
Ainda sobre “coisas a fazer no Brasil”, Sandrine diz que o BNP Paribas pretende investir no desenvolvimento de novos produtos aos seus clientes, como os já citados fundos de private equity e os fundos de infraestrutura. “Temos nossos fundos de renda fixa reconhecidos com prêmios, mas queremos ter mais produtos a disposição. Os fundos de infraestrutura almejam se aproveitar das oportunidades em concessões – como aeroportos – e no setor de energia, em especial de renováveis”, explicou a executiva.
Questionada sobre o desenrolar político importante que tivemos no Brasil – que culminou no afastamento da presidente Dilma Rousseff -, Sandrine falou sobre a difícil tarefa de explicar para o estrangeiro um processo que nem mesmo os brasileiros sabiam falar com clareza, mas enfatizou a satisfação que sentiu pelo desfecho maduro da sociedade para o traumático episódio.
“Passamos por uma transformação que sacudiu o País, e tudo foi feito de forma madura. Eu, como brasileira que sou desde 2003 [ano que ela começou a trabalhar no Brasil], senti muito orgulho de como as coisas aconteceram”, disse a “franco-brasileira” Sandrine.
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Economia: 10 cortes na Selic e previdência aprovada
Mostrando total alinhamento ao otimismo da “chefe”, o economista-chefe para América Latina do BNP Paribas, Marcelo Carvalho, traçou um cenário de recuperação bem mais próspero do que o consenso do mercado. E ele aponta três motivos que sustentam seu viés otimista: “temos o diagnóstico correto dos nossos problemas, temos um verdadeiro ‘dream team’ na condução da economia e das principais empresas do País, e temos uma política correta, já que é a 1ª vez em anos que teremos a chance de aprovar reformas estruturais”, explicou Carvalho.
Marcelo Carvalho, economista-chefe para AL do BNP Paribas
Carvalho coloca em suas contas a reforma da previdência sendo aprovada ano que vem, PIB crescendo 2% em 2017, inflação convergindo pra meta até o fim do ano que vem e a taxa básica de juros caindo 500 pontos-base até dezembro. “Fazendo uma conta de guardanapo: se a inflação convergir para a meta e o juro real voltar para a faixa de 5% (que era o nível do começo da década), teremos que ter uma Selic perto de 9%”, comenta o economista.
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Nas projeções de Carvalho, o Copom (Comitê de Política Monetária) cortaria os juros nas 10 reuniões que teríamos entre outubro de 2016 e dezembro de 2017, com a expectativa de redução de 50 pontos-base em cada reunião. Ele explicou ainda que, mesmo que o Copom iniciasse o ciclo de juros com um corte de 25 pontos-base (o que de fato aconteceu no último dia 19), há chances do comitê acelerar as quedas ao longo de 2017, com cortes de 75 pontos-base.
Questionado sobre quais as projeções do BNP para a disputa presidencial em 2018, Carvalho disse que era muito cedo para fazer qualquer previsão, mas mesmo sem resposta apontou aí mais uma “boa notícia” para o Brasil: só de já conseguirmos pensar em 2018 já é uma boa notícia: estávamos acostumados até pouco tempo atrás a pensar nas próximas semanas ou meses. Ver que estamos pensando em 2018 reflete esse ambiente de maior previsibilidade”, conclui o otimista economista do banco.