Quais ações são vistas como oportunidades pelos analistas em meio à volatilidade das commodities?

Enquanto ações de diversos segmentos sofrem volatilidade entre sinais de desaceleração econômica e restrições de oferta, algumas ganham espaço nas carteiras

Lara Rizério

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Sinalizações de recessão diminuindo perspectivas de demanda e levando a quedas de preços em um dia. No dia seguinte, sinalizações de oferta apertada e de retomada da China levam a um avanço das cotações.

As últimas semanas têm sido marcadas por volatilidade para as commodities de mais diversos segmentos. Após duas semanas seguidas de queda em meio a preocupações com recessão, que levou o contrato do barril brent para os US$ 110 na semana passada, o petróleo chegou a voltar para a casa dos US$ 120 em meio à preocupação com oferta durante esta semana. Contudo, o noticiário de médio prazo leva os analistas a revisarem suas projeções para o mercado olhando mais à frente.

O minério de ferro, por sua vez, chegou a atingir mínima em 16 semanas no último dia 22, com o spot negociado no porto de Qingdao chegando a US$ 112,50 devido ao aumento das preocupações com excesso de oferta de aço na China: além das preocupações com os lockdowns e seus impactos na atividade, as fortes chuvas em algumas partes da China também levaram ao acúmulo de estoques, levando as siderúrgicas a paralisar os altos-fornos para reduzir as perdas. Contudo, impulsionado principalmente pelas menores restrições na China anunciadas com a diminuição dos casos de lockdown, o minério voltou para a casa dos US$ 125 no início desta semana, reanimando as expectativas de retomada na segunda maior economia do mundo.

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Enquanto isso, no final da semana passada, notícias de reajuste para cima nos preços de celulose levaram ações do setor a registrarem ganhos, mas incertezas no médio prazo sobre a demanda da commodity, que também tem a China como grande consumidora, também geram maior cautela ao otimismo com as companhias do setor.

Neste cenário de bastante volatilidade e com a dicotomia entre temores de recessão com alta de juros versus oferta apertada e os sinais de retomada em alguns mercados (principalmente chinês), crescem as dúvidas sobre quais ações são boas opções de investimentos.

As visões são diversas, mas alguns ativos são apontados como oportunidades mais claras entre os agentes de mercado.

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Na última semana, na sequência do anúncio da Suzano (SUZB3) de aumento nos preços de celulose de fibra curta em US$ 20 por tonelada para a Ásia, US$ 30 para Europa e US$ 40 para a América do Norte, o Bradesco BBI reforçou o papel da companhia como top pick (ou preferido) do setor. Os reajustes entram em vigor em 1º de julho e ocorrem após aumentos sequenciais ocorridos nos meses anteriores.

Os analistas destacam que a dinâmica do mercado internacional de celulose permanece amplamente positiva, principalmente devido à oferta muito restrita da commodity e da esperada recuperação na demanda chinesa, enquanto os mercados dos Estados Unidos e da Europa permanecem saudáveis.

Além disso, espera-se, na visão dos analistas, que os gargalos logísticos desapareçam apenas em meados de 2023, enquanto os fabricantes de papel ainda estão lutando para reconstruir os estoques de celulose esgotados, avaliam, o que deve apoiar os volumes em 2023).

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“Os agentes dos mercados também acreditam que os principais projetos da indústria devem apresentar atrasos adicionais: (i) MAPA (Modernização e Ampliação da Planta Arauco) com novo atraso, indo além de setembro; e (ii) Paso de los Toros com atraso previsto para o 3T23 (em linha com nossa visão)”, apontam.

Os analistas esperam que os preços da celulose superem amplamente as expectativas do mercado (as estimativas do BBI de preço de celulose de fibra curta estão em US$ 775 e 730/tonelada em 2022 e 2023, respectivamente, contra um consenso ao redor de US$ 700 e US$ 600/tonelada no mesmo período), enquanto os ativos de empresas do setor parecem precificar quase US$ 300 de correção nos preços de celulose a partir do 2º semestre deste ano – algo muito pessimista na visão dos analistas.

As ações da Suzano são a principal recomendação do BBI, com preço-alvo de R$ 80 (ou um potencial de valorização de 64% frente o fechamento da véspera), mas também recomendam a compra das units da Klabin (KLBN11), com preço-alvo de R$ 37,00 (upside de 83,5%).

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O Itaú BBA, em revisão de sua carteira de estratégia, apontou que, mesmo num cenário de queda de preços, muitas empresas de commodities estão negociando a valuations atrativos. Assim, aumentou a exposição de seu portfólio a companhias do segmento, incluindo entre as ações a Suzano.

Com isso, optaram por incluir e Suzano e retirar WEG (WEGE3) e Intelbras (INTB3) de seus portfólios.

Os estrategistas apontam que a inclusão das empresas tem racionais parecidos, à medida que ambas estão negociando a múltiplos atrativos, abaixo de sua média histórica, e sua presença na carteira reduz a exposição à atividade econômica local.

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“Ambas as ações tiveram performances negativas durante o mês de junho e acreditamos que estão num bom ponto de entrada”, apontam. SUZB3 acumula perdas de 8,7% em junho, enquanto GGBR4 tem baixa de 20%.

Para a Suzano, os estrategistas do BBA veem a companhia como um bom veículo para aumentar a exposição a commodities, visto um cenário ainda favorável de preços, além de ser uma empresa que pode se beneficiar em um ambiente de maior volatilidade, com o dólar se fortalecendo em relação ao real, ajudando nas exportações da companhia.

“Além disso, gostamos da alocação de capital da empresa que, apesar de não ter pago muitos dividendos, tem investido em projetos eficientes para aumento de capacidade no futuro”, avaliam os analistas.

A Suzano também está entre os investimentos da Verde Asset, por ser considerada uma das mais competitivas do segmento de celulose, com menores custos e maiores oportunidades na economia verde – além de estar historicamente barata. Seus múltiplos, segundo Luiz Parreiras, sócio e gestor da estratégia de fundos multimercados da Verde Asset, refletem um preço de celulose à metade das cotações correntes.

O BofA também conta com recomendação de compra para a Suzano no setor. Os analistas apontam que, apesar da recente fraqueza para as ações em geral de commodities, os mercados de celulose continuam muito apertados com restrições logísticas e gargalos na cadeia de suprimentos ainda aparentes, prazos de entrega estendidos, baixos estoques de celulose e um nível recorde de interrupções no fornecimento suportando preços muito altos. Embora as margens apertadas dos fabricantes de papel na China possam gerar algum atrito de preços nos próximos meses, principalmente porque o mercado está atravessando um período sazonal mais fraco (junho-agosto), o atual patamar dos preço das ações parece baixo.

Gerdau: boa dinâmica de resultados e bons dividendos

Entre as empresas de mineração e siderurgia, o Itaú BBA escolheu a Gerdau para a sua carteira estratégica. O banco aponta gostar da forte dinâmica de resultados da empresa, que tem mostrado margens (rentabilidade) recordes na operação dos Estados Unidos nos últimos trimestres diante de um mercado favorável. Também acreditam que o fato de a empresa não ter uma exposição direta ao minério de ferro pode ser um fator positivo frente a seus pares setoriais.

O BBI reforça, dentro do setor de mineração e siderurgia, preferência pela Gerdau, também particularmente impulsionada pelas operações nos Estados Unidos, que vêm apresentando margens impressionantes trimestre a trimestre, na visão dos analistas do banco. Eles ainda projetam pagamento de R$ 10 bilhões por ano em 2022 e 2023, totalizando R$ 20 bilhões neste dois anos.

O banco possui atualmente preferência pelas siderúrgicas às mineradoras. O banco possui atualmente preferência pelas siderúrgicas às mineradoras. Nesta semana, ao comentar a redução das restrições pela China após Pequim e Xangai não relataram novas infecções do Covid-19 transmitidas localmente na segunda-feira, os analistas destacaram que, embora seja improvável que as restrições se dissipem totalmente no curto prazo, acreditam que o governo chinês adotará uma abordagem mais pragmática para fornecer um crescimento razoável do PIB em 2022 (por exemplo, testes em massa e lockdowns mais direcionados e mais curtos).

Além disso, medidas de estímulo devem fornecer infraestrutura de suporte, habitação e produção industrial no 2º semestre, dando suporte à demanda por aço e outras commodities em relação aos níveis atuais.

“Nossa análise para a demanda de aço chinesa aponta para um crescimento de 10 a 15% no segundo semestre na demanda por aço e os principais fatores devem ser infraestrutura (+14% no semestre), manufatura (+17%), automotivo (+45%) e imobiliário (+2%)”, avaliam os analistas do BBI. Ao mesmo tempo, a produção de aço chinesa deve crescer apenas ao redor de 1% no período, pois já vem se recuperando desde março e com o governo chinês mais uma vez visando um crescimento de produção zero ano a ano.

Além de Gerdau, os analistas do BBI seguem com recomendação equivalente à compra para Usiminas (USIM5) e CSN (CSNA3). As mineradoras, “menos preferidas” pelos analistas, caso de Vale (VALE3) e CSN Mineração (CMIN3), contudo, também seguem com recomendação de compra.

Cabe ressaltar que o BBA também mantém em sua carteira os ativos VALE3. “Embora tenhamos preocupações com a atividade econômica global em um cenário de taxas de juros crescentes, ainda gostamos da Vale, com forte geração de fluxo de caixa e negociação com um valuation atrativo”, apontaram os estrategistas do banco.

Os analistas do Morgan Stanley, por sua vez, revisaram na semana passada para baixo as projeções para os ADRs (na prática, as ações das empresas brasileiras negociadas na Bolsa americana) da Vale e para as ações CMIN3, ambos com recomendação equalweight (exposição em linha com a média do mercado, ou equivalente à neutra). Os preços-alvo para os ADRs VALE foram reduzidos de US$ 22 para US$ 16 (upside de 5,33%), enquanto para CMIN3 foi reduzido de R$ 6,50 para R$ 5,30 (upside de 28,6%).

Na visão dos analistas do banco americano, o crescimento global ainda enfraquecido continuará a pesar nas ações de mineração um pouco mais, antes que a aceleração econômica na China mude o cenário.

Além de diminuir as expectativas de crescimento, eles apontaram que os recentes lockdowns na China por conta da política da Covid zero, aumentaram consideravelmente os estoques de aço e minério.

“Os metais básicos se desconectaram do complexo de commodities mais amplo, pois os bloqueios na China (que compra de 50 a 60% da produção da maioria dos metais) impactaram a produção industrial e na demanda final, enquanto a produção de aço e alumínio continuou”, explicaram os analistas do banco americano.

Petróleo: oferta restrita dá suporte aos preços

Em meio à volatilidade do mercado de petróleo e às quedas nas duas últimas semanas por conta do temor de recessão, a expectativa ainda é de que a commodity tenha os seus preços apoiados pelo cenário de dificuldades para elevação da oferta.

Nesta semana, as sinalizações de que os principais produtores Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos não devem conseguir aumentar significativamente a produção deram suporte aos preços, enquanto os governos ocidentais concordaram em explorar maneiras de limitar o preço do petróleo russo.

Contudo, cada vez mais o cenário de uma desaceleração econômica global se desenhando tem entrado nos modelos dos analistas de mercado.

Olhando para as chances cada vez mais altas de desaceleração econômica, o Morgan Stanley fez uma análise sobre o impacto do petróleo e aponta que ele pode ter um desempenho superior em uma desaceleração econômica mais ampla se os fundamentos do segmento forem construtivos.

Os analistas do banco examinaram os períodos de recessão nos EUA  desde a década de 1960. Entre os períodos, o desempenho do setor é misto, sendo mais resiliente às recessões em 1969-70 e 1980 e ficando para trás em 1981-82 e 2020.

Já ao olhar para o futuro, os analistas veem este ciclo como diferenciado para a commodity pela demanda ainda em recuperação (reabertura da China e aumento das viagens aéreas, cuja combinação pode adicionar mais de 2 milhões de barris por dia de demanda de petróleo no terceiro trimestre). Isso, aliado à oferta restrita de anos de subinvestimento e do conflito Rússia/Ucrânia, deve continuar a sustentar o mercado de petróleo, mesmo com o crescimento econômico em desaceleração, apontam.

“Dito isto, a magnitude da desaceleração econômica é fundamental para a análise de cenários”, reforçam. Os analistas do banco projetam o barril do tipo WTI a US$100 o barril em 2022 e US$ 90 o barril em 2023, ante cotação de US$ 112 no fechamento da véspera.

Olhando para o mercado de ações, nos últimos meses, o Morgan Stanley tem reforçado a sua preferência, entre as companhias brasileiras, pela 3R Petroleum (RRRP3) e pela PetroReconcavo  (RECV3), que acreditam “fornecer uma história mais limpa com um valuation pouco exigente”, em relação à cases estatais como a Petrobras (PETR3;PETR4). A recomendação para o ADR da estatal segue equalweight, destacando principalmente os riscos políticos, ainda mais elevados com a proximidade das eleições.

Atento ao noticiário doméstico, mas também ao possível cenário de maior fraqueza dos preços do petróleo, o BBI revisou recentemente as suas preferências para o setor de óleo e gás, também citando distribuidoras de combustíveis.

A equipe de petróleo e gás do Bradesco BBI prevê preços mais baixos do petróleo em US$ 95/barril para 2022 e US$ 90 em
2023 contra preços à vista para o brent ao redor de US$ 120 o barril.

Assim, de forma a buscar proteção ante a potencial estagflação nos Estados Unidos (junto com uma desaceleração na China) e a proximidade da eleição presidencial do Brasil, os analistas colocaram a Vibra (VBBR3) como a top pick do setor. Isso devido a uma ligeira mudança de setores cíclicos globais para cíclicos domésticos (proteção contra uma desaceleração americana/chinesa) e também porque a ação poderia se beneficiar de uma possível mudança de governo.

A “segunda preferência” é pelas ações da 3R. Embora a empresa tenha que garantir o financiamento para adquirir o Polo Potiguar em meio a condições econômicas mais difíceis, a ação teve um desempenho muito fraco recentemente e seu valuation agora é barato, na visão dos analistas, enquanto o BBI também vê um impulso operacional e de governança positiva.

O BBI também destaca gostar de PetroRio (PRIO3). “Porém, sob o risco de uma possível retração nos preços do petróleo, preferimos nomes mais baratos”, aponta o banco, vendo o valuation para 3R como menos esticado.

Por fim, as ações PN da Petrobras foram retiradas da lista de top picks, ainda que sigam com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) e preço-alvo de R$ 50 (upside de 78%), destacando principalmente a volatilidade com a proximidade das eleições.  Ainda assim, Falanga e Sadka veem oportunidades para o ativo, com riscos fortemente enviesados para o lado positivo.

O BBA, por sua vez, segue com as ações da Petrobras em sua carteira estratégica e nesta semana reforçou recomendação equivalente à compra para os ativos. “Apesar de sermos sensíveis ao fluxo intenso de notícias sobre a empresa, ajustamos nossas lentes para focar nos fortes fundamentos da empresa e no sólido desempenho operacional”, pontuaram Monique Greco e equipe em relatório a clientes

Esses fatores, segundo eles, combinados com os atuais altos preços do petróleo e volumes de produção crescentes, “provavelmente resultarão em geração de fluxo de caixa forte demais para ser ignorada, especialmente no curto prazo”.

Agrícolas: ações promissoras na alta e na queda das commodities

Também no caso de commodities agrícolas, as visões são bastante diversas. Para a OhmResearch, a SLC (SLCE3), produtora de commodities agrícolas, com foco na produção de algodão, soja e milho, negocia a patamares atrativos.

Ainda que com ganhos de cerca de 20% no ano, no último mês os papéis caíram cerca de 15%. Caio Farme, analista da casa, avalia que a recente queda das ações se deve às baixas recentes dos preços das commodities agrícolas diante dos temores de recessão mundial. De meados de junho até a semana passada, o preço do trigo caiu cerca de 12%, enquanto algodão teve baixa de 28% e o milho teve queda mais modesta, de 3%.

“Contudo, em nossa visão, apesar de tais temores, vemos resiliência na SLC Agrícola já que o real tende a seguir enfraquecido, o que é positivo para a empresa. Isso sem contar que a companhia já avançou na aquisição dos insumos para a atual safra, assim como na posição de hedge de commodities e cambial. Por último, o seu ramo de atuação (alimentos) está entre as necessidades essenciais da população”, avalia Farme.

A recomendação é de compra para SLCE3, com preço justo por ação de R$ 99,29 (ou um potencial de valorização de 112,5% em relação ao fechamento da véspera).

O BBI, por sua vez, tem recomendação de venda para as ações de SLC, com preço-alvo de R$ 35 (ou um valor 25% frente o fechamento da véspera).

Os analistas estão pessimistas com as cotações das commodities agrícolas, apesar dos riscos climáticos e geopolíticos com a continuidade da guerra na Ucrânia. Para Leandro Fontanesi e Victor Romano, os fatores que estão pesando sobre os preços devem continuar.

São três pontos: (i) aumento das taxas de juros nos Estados Unidos, com pelo menos sete aumentos esperados para 2022; (ii) a demanda da China decepcionante, com as margens da indústria de suínos em dificuldades sugerindo que os preços dos grãos precisam cair até 25% para que as margens retornem ao ponto de equilíbrio; e (iii) a equipe de petróleo e gás do banco prevendo preços mais baixos do petróleo para 2022 e 2023, o que é historicamente baixista para os preços das commodities agrícolas.

Além de SLC, mais especificamente sobre o setor de açúcar e álcool, os analistas do BBI possuem visão cautelosa sobre a São Martinho (SMTO3), para a qual possuem recomendação neutra com preço-alvo de R$ 38. Além dos fatores domésticos, os analistas projetam em seu modelo um excedente de açúcar de 1-4 milhões de toneladas para a safra 2022/23, já que a Índia e a Tailândia aumentam a produção e a piora da lucratividade do etanol no Brasil pode forçar as usinas de açúcar e etanol a aumentar a produção de açúcar vs. etanol adicionando ainda mais estoques mundiais de açúcar.

Entre as empresas de açúcar e etanol, o Bank of America também tem recomendação neutra para São Martinho, enquanto tanto BBI quanto o BofA tem preferência no setor pela Raízen (RAIZ4).

“A Raizen é nossa única ação [do segmento] com recomendação de compra, dadas as perspectivas de crescimento da empresa no etanol de 2ª geração (E2G), enquanto nossa visão neutra na São Martinho é explicada por um valuation menos atraente e crescimento limitado dos lucros”, apontam os analistas do BofA.

Nesta última semana, os analistas revisaram a visão para as empresas do segmento. O preço-alvo de RAIZ4 foi reduzido de R$ 11 para R$ 9, mas ainda com um potencial de valorização de 87,50% frente o fechamento da véspera. Já para SMTO3, o preço-alvo foi reduzido de R$ 57 para R$ 47 (upside de 22%). Jalles Machado (JALL3) teve o target reduzido de R$ 10 para R$ 9 (upside de 18%), tendo uma visão mais cautelosa para o papel com recomendação underperform (desempenho abaixo da média do mercado) pelo fluxo de caixa limitado devido ao capex mais alto.

Na outra ponta, analistas têm destacado cada vez mais ações que podem ser boas oportunidades de ganhos se o cenário de queda das commodities agrícolas prevalecer. O BBI aponta a produtora de alimentos processados BRF (BRFS3), a fabricante de cerveja Ambev (ABEV3) e a fabricante de massas e biscoitos M.Dias Branco (MDIA3) como beneficiárias, uma vez que esse cenário sugere redução de custos de insumos.

A XP iniciou cobertura para Camil (CAML3) com recomendação de compra e preço-alvo para o fim de 2023 de R$ 14 (upside de 41%) destacando que, embora não seja a maior entusiasta da estratégia de precificação da empresa, que limita sua capacidade de arbitragem em momentos de alívio nos preços de commodities, como o atual, tem uma visão positiva para a ação.

Isto visto que (i) a Camil tem margens resilientes dado que a empresa atua em categorias quase essenciais para o consumidor brasileiro, mantendo marcas icônicas e top-of-mind; (ii) a diversidade de produtos complementares traz ganhos de escala para a Camil tanto na negociação com os clientes quanto na otimização de sua logística e ampla rede de distribuição; (iii) mercados internacionais e novos segmentos (Massas e Café) são importantes vias de crescimento para a empresa, em nossa opinião.

Já para a M.Dias Branco, a recomendação é neutra, com preço-alvo para o fim de 2023 de R$ 30,30 (upside de 14%). “A perspectiva de preços mais baixos de commodities deveria ser a principal razão para otimismo, mas o aumento na volatilidade à medida que o mercado digerir uma possível recessão no médio prazo, juntamente com o clima sendo um problema para a maioria das commodities, sugere que devemos esperar para ver”, avalia.

Do lado positivo, a equipe de análise destaca que a empresa atua principalmente nas regiões Nordeste e Norte, sendo as demais regiões uma zona de ataque para a empresa, representando uma avenida de crescimento sólido, especialmente a região Sudeste (maior PIB no Brasil); (ii) seu processo produtivo verticalizado permite que a empresa tenha preços mais competitivos nas categorias em que atua, permitindo à empresa arbitrar preços em períodos de alívio nos preços das commodities; e (iii) as aquisições recentes também representam um caminho de crescimento sólido, pois a empresa provou ter sucesso na integração e no aumento das marcas adquiridas.

Para os analistas, ambas as empresas devem desfrutar de uma melhora nos resultados, mas devido às diferentes estratégias de preços e poder da marca, veem mais vantagens para CAML3.

“Se os preços das commodities caírem mais do que o esperado, especialmente trigo e óleos vegetais, a MDIA3 pode nos surpreender, mas a empresa precisa pressionar por melhores margens e ainda diminuir sua capacidade ociosa. No entanto, acreditamos que a CAML3 seria favorecida em uma queda suave nos preços das commodities devido às suas marcas sólidas e icônicas e diferenciada presença comercial”, reforçam.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.