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À espera dos rumos dos juros nos Estados Unidos e no Brasil, a volatilidade no mercado de câmbio atingiu neste mês de março o seu menor patamar localmente em cerca de dez anos. Esse movimento, contudo, não acontece só no Brasil, mas também com outras moedas.
E uma possível reversão dessa baixa volatilidade, recente, pode ser desencadeada durante essa Super Quarta, do dia 20, quando o Fomc e o Copom, respectivos comitês de política monetária dos EUA e do Brasil, se reúnem para discutir as novas taxas de juros.
Mesmo que as apostas majoritárias de analistas e economistas sejam de que o Fomc irá, novamente, manter seus juros inalterados e o Copom reduzir em 0,5 ponto porcentual, investidores ficarão atentos às pistas que virão dos comunicados e das falas das autoridades monetárias.
Por que a Super Quarta é importante?
Segundo o trader Vasco Mamede, da XP, a importância dos eventos dessa Super Quarta encontra-se na sinalização de como deverá ficar o diferencial entre as taxas de juros do Brasil e dos EUA nos próximos meses.
Caso o comunicado da decisão do Fomc e as falas do presidente do Fed, Jerome Powell, que concede entrevista, a partir das 15h30, logo após a decisão, sejam mais “hawkish”, ou seja, duras no combate à inflação, a tendência é de que esse diferencial se estreite, ao longo dos próximos meses.
Em resumo, atualmente, os juros nos EUA estão entre 5,25% e 5,50%, enquanto no Brasil devem cair para 10,75%, nesta quarta-feira.
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Segundo o CME Fed Watch, há 93% de chances de o Fed manter novamente os juros inalterados, em maio, e uma aposta de 40% de manutenção também em junho e de 24% no final de julho.
Enquanto isso, 55% dos traders, consultados pela ferramenta da CME, projetam o primeiro corte de juros nos EUA em junho. Para julho, a aposta é de 49,5%, para o primeiro corte.
O analista João Lucas Tonello, da Nomos, destaca que as expectativas de início do ciclo de corte se alteraram drasticamente, desde o final do ano passado.
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De acordo com ele, houve uma alta volatilidade no final de 2023, com máximas históricas das bolsas, porque o mercado interpretou que os juros poderiam ser cortados agora nessa reunião de março.
“Mas os dados de janeiro e de fevereiro (da economia americana) mostraram que a inflação ainda não estava controlada”, ressaltou.
Assim, neste momento, segundo Tonello, assets e fundos estão em compasso de espera, aguardando as sinalizações de juros, “para tomar alguma atitude”, já que “não é fácil fazer grandes giros de carteiras, alocar e desalocar” os recursos.
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Como o Copom pode mexer?
Agora, considerando que o Fed mantenha os juros inalterados até o meio do ano, e o Copom aplique mais dois cortes de 0,5 ponto percentual, a Selic chegaria no meio do ano em 9,75%.
Ou seja, o diferencial de juros entre os dois países seria ainda menor. E qual é a consequência?
“Os juros nos EUA estão em um patamar bem atrativo, para exposição à renda fixa. E o Brasil está no movimento contrário, na contramão, com a queda dos juros. Então, ficamos menos atraentes para o fluxo cambial externo. Se perde a atratividade de venda do dólar para a compra do real”, diz Vasco.
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Pelo lado do Copom, conforme o trader da Clear, Rafael Perretti, as sinalizações em relação a “antever” um corte ou dois cortes com as mesmas magnitudes nas próximas reuniões irá fazer toda a diferença.
“No Brasil, o grande ponto é de até onde podemos cortar nossos juros, visto que se o spread dos juros brasileiro ficar muito curto em relação aos juros dos EUA, poderemos ver uma fuga de capital pelo risk-off país e consequentemente o aumento do valor do dólar. Por enquanto o boletim Focus está com a expectativa de que a Selic termine o ano em 9%, enquanto o DI está negociando a 9,94%”, disse.
Volta da volatilidade?
Portanto, conforme Perretti, nesta quarta-feira, poderemos ter alguma sinalização para essas questões e assim ter um movimento de “maior tendência” para o dólar.
Isso, como consequência, deverá trazer um aumento da volatilidade na negociação do dólar e do Ibovespa.
Vasco pontua que, assim como no Brasil, onde a volatilidade está baixa, no mercado de câmbio em geral, com outros pares, que também negociam com dólar, a situação é semelhante.
“Essa menor volatilidade é mundial. Não é específica e exclusiva aqui do Brasil”, diz.
O que é operar vendido? Como isso acontece no mercado
Essa prática é comumente utilizada em diferentes mercados, como no de ações e futuros
B3 e S&P lançam “VIX brasileiro”, índice que mede volatilidade, nesta terça
Conhecido como “índice do medo” nos Estados Unidos, indicador leva em consideração opções do Ibovespa para calcular volatilidade
Rompimento “caixote”
Dessa forma, a expectativa fica para o rompimento do “caixote” do dólar, que são as diferenças entre as máximas (resistência) e as mínimas (suporte) durante determinado período de tempo gráfico.
Essa situação gera uma redução da volatilidade dos ativos, dificultando operações de curtíssimo prazo, com day trade de contratos cheios e de minicontratos de dólar futuro.
Veja no gráfico abaixo que, desde meados de janeiro, o dólar futuro oscilou apenas entre a região dos 4,928 pontos (suporte) e dos 5.054 pontos (resistência).
A maior volatilidade do câmbio aconteceu exatamente nessa semana, véspera da Super Quarta, quando a moeda rompeu os R$ 5,00.
Ajuste de posições
O trader da XP ressalta que, essa situação de baixa volatilidade, que vem ocorrendo, levou a um aumento do VAR (Value at Risk) por parte dos fundos, que ficam mais alavancados.
Dessa forma, explica, quando o dólar “romper” esse “caixote”, seja numa direção de alta ou de baixa, recuperando alguma tendência, “players alavancados”, tomados em posição contrária, podem elevar a volatilidade, em busca de novas posições.
Gestoras, por exemplo, vem ajustando suas posições, prevendo um real menos forte. O último levantamento realizado pela XP mostra crescimento de casas que reduziram posições vendidas em dólar frente ao real.
“Além do dólar, observamos uma redução do consenso na tese de desvalorização do euro. Também houve um aumento considerável no posicionamento neutro em iene japonês e posições vendidas em moedas emergentes”, aponta.
E para onde vai o dólar?
Segundo José Faria Júnior, sócio da Wagner Investimentos (WIA), a manutenção da ideia de mais cortes de juros por aqui, de 0,50 pontos porcentuais, com inflação acelerando, e Fomc mantendo juros seria ruim para o real.
“A curva de juros dos Estados Unidos está descartando as chances de corte em junho e reduzindo rapidamente as chances de corte em julho. Se o corte não vier até julho, o dólar deverá ganhar força contra o real devido ao diferencial de juros bem mais reduzido”, afirma.
Júnior reforça, porém, antes das decisões da Super Quarta, que o dólar superando os R$ 5, como agora, está mais ligado também a fatores internos do que externos.
Posição semelhante tem Tonello. Para ele, uma valorização maior do dólar, rompendo a região dos 5, 5,05, pode vir mais por gatilhos internos.
“Uma maior intervenção do governo na Petrobras, indicações na Vale e Braskem, e iniciativas ligadas à tributação, como de dividendos, podem levar à uma alta do dólar.”
No sentido contrário, de uma valorização do real frente ao dólar, recuando abaixo da região de 4,90, ocorreria com alguma sinalização de Powell, de corte dos juros.
“Powell deve continuar com discurso neutro, mesmo que a situação não esteja tão boa. Ele não deve agredir o mercado, dizendo que vai manter os juros altos até 2025”, avalia Tonello.