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SÃO PAULO – Apesar de aparentemente haver um desânimo dos investidores com o Brasil, em meio ao descolamento do mercado externo com a recente queda da Bolsa e alta do dólar, dois dos grandes gestores de recursos do país estão otimistas com o curto prazo e veem os acontecimentos recentes como positivos, mas fazem alertas para o cenário de longo prazo para a economia nacional e também sobre as oportunidades que ainda existem no mercado.
Em palestra na noite da última terça-feira (26) no evento Latin America Investment Conference (LAIC), do banco Credit Suisse, Luis Stuhlberger, CEO da Verde Asset, e Rogério Xavier, fundador da SPX, mostraram alívio com a recente ata do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, que tirou do texto o forward guidance (que sinalizava manutenção dos juros, atualmente em 2%, por um longo período de tempo), vendo assim um sinal para elevação da Selic.
“O Brasil sempre foi capaz de me surpreender pelo lado negativo mas, nos últimos sete dias, apareceu uma luz no fim do túnel e não um trem na minha direção. A primeira notícia positiva foi a ata do Copom, que recebi com enorme satisfação. Sempre fomos muito críticos ao nível de juros que se chegou no Brasil, 2% ano não é taxa de equilíbrio e gera várias distorções”, disse Xavier.
O gestor ainda destacou outras duas boas notícias: caso a eleição para as presidências da Câmara e do Senado tenha um desfecho positivo para o governo com a vitória, respectivamente, de Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG), é muito provável que haja a aprovação de uma proposta de emenda à constituição (PEC) importante, sendo a PEC emergencial a mais provável, o que garante uma melhora do cenário no médio prazo.
Outro ponto destacado como positivo por ele foi o aval do governo para que o setor privado possa ser incluído no processo de vacinação contra o coronavírus: “com o setor privado apoiando setor público, a chance de engrenar vacinação aumenta muito”.
De acordo com o fundador da SPX, o primeiro trimestre de 2021 será fraco com a vacinação lenta, perda de momentum da economia, com o aumento das restrições de mobilidade em meio ao aumento de casos de Covid-19. Mas, olhando um pouco mais para frente, a perspectiva é positiva. “Por incrível que pareça, vejo o cenário muito melhor do que via dias atrás, [estou] bastante construtivo que esses fatores conjugados possam animar o mercado e, assim, os preço dos ativos possam ter uma melhora importante”, avalia.
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Stuhlberger destacou “concordar 100%” com a avaliação recente sobre a política monetária, destacando também se opor à política recente implementada pelo Banco Central. Segundo o gestor, o juro real negativo acabou tendo efeitos negativos para o Brasil: “o valor justo do dólar hoje deveria ser de no máximo R$ 4,30, como estamos tão longe?”. De qualquer forma, não vê os juros voltarem aos patamares que estavam antes, na casa dos dois dígitos.
Os dois gestores ainda apontaram não estarem tão preocupados com uma extensão do auxílio emergencial, que deve ser por um período menor do que em 2020. “Se tiver, não será por um longo período de tempo, de dois a três meses por conta do atraso da vacinação no país”, aponta o CEO da Verde Asset.
Stuhlberger ainda destacou as implicações do cenário atual para a sua estratégia de investimentos, apontando ver com otimismo o ambiente para este ano e que “cogita até vender S&P e comprar Brasil”. E complementou: “Mesmo com problemas de longo prazo, no curto prazo estará bem”. Atualmente, a Verde possui alocação de 21% em ações de empresas brasileiras e 15% no exterior, principalmente em companhias dos EUA.
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Apesar do otimismo no curto prazo, Stuhlberger reforça o ambiente desafiador no longo prazo para o Brasil, levando em conta principalmente a necessidade de resolver os problemas estruturais e as desigualdades.
“Todo mundo diz que o Brasil flerta com o abismo mas não cai. É uma verdade que não será verdade por todo tempo”, apontou.
Conselhos para investidores e visão do cenário global
Quando questionados sobre conselhos de investimentos para pessoas físicas, Stuhlberger ressaltou a necessidade em fazer o que chamou de uma “diversificação eficiente”, entre bons gestores e fundos diferentes, além de ter um olhar crítico com fundos de investimentos com excesso de alavancagem.
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Já Xavier apontou que, com os juros baixos, o Banco Central acabou por “empurrar” as pessoas a tomarem um risco em ativos que ele considera saudável, mas ponderando que a velocidade foi rápida demais – além disso, o movimento pode ser parcialmente revertido. “O movimento vai desacelerar porque haverá uma volta para renda fixa com o juro maior, o que levará [o investidor] a fazer uma migração numa velocidade mais adequada”, avalia.
Ao olhar para o cenário global, Stuhlberger apontou também estar otimista, destacando que a recuperação já seria forte se não fosse anunciado o estímulo fiscal pelo governo democrata de Joe Biden. Assim, a projeção de PIB dos EUA com crescimento de 6,5% pode de fato se materializar. “O grande problema é o que está no preço”, aponta.
Na mesma linha, Xavier tem uma visão positiva para a economia dos EUA, com a vacinação acelerada por lá, enquanto China e Ásia em geral não enfrentaram tantos problema. Já a Europa segue patinando, mas deve ser puxada pelo restante do mundo.
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“A perspectiva é muito boa para mundo. Os emergentes, no geral, vão sofrer mais que os desenvolvidos, mas também serão puxados pela China e o crescimento asiático”, avalia Xavier, ressaltando que a força dos asiáticos leva a uma melhora nos termos de troca dos produtos exportados para esses países, o que também beneficia o Brasil.
Para o fundador da SPX, o grande problema é olhar para o preço dos ativos: “não digo que estamos numa bolha, mas não são atrativos como no passado”.
Ele ressalta, contudo, ser possível sempre fazer stock picking. Ou seja, fazer uma seleção de ativos que podem ter um desempenho acima da média do mercado. “Os mercados apresentaram crescimentos exuberantes nos últimos meses e não estão de graça, mas alguns nomes específicos podem ser explorados”, destacou.
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Sobre o mercado de juros, ele apontou que o movimento de volta à normalidade não começou, com as curvas de juros pelo mundo ainda parecendo “muito pouco inclinadas”. “Quando veja a curva de juros no mundo, dá vontade de tomar todas as inclinações (…) Parece que as inclinações ainda estão muito baixas. Os juros não estão correspondendo à inflação implícita. Ainda têm um bom espaço para andar”, ressalta.
Outro mercado a ser acompanhado com cuidado pelos investidores é o de câmbio, avalia Xavier, apontando que não é necessariamente óbvio que o ciclo de dólar fraco vai perdurar, ainda mais levando em conta a grande possibilidade dos Estados Unidos elevarem os juros antes da Europa. “Não está claro que vai ser uma ‘barbada’ se posicionar em euro contra o dólar”, avalia.