SLC (SLCE3): por que ação caiu 4% após anúncio de compra quase bilionária de terras?

SLC Agrícola comprou terras na Bahia e em Minas Gerais por R$ 913 milhões

Felipe Moreira

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A SLC Agrícola (SLCE3) anunciou na última sexta-feira (14) um contrato com a Agrícola Xingu para adquirir aproximadamente 40 mil hectares na Bahia por R$ 723 milhões, além de cerca de 8 mil hectares (ha) em Minas Gerais por R$ 190 milhões (totalizando R$ 913 milhões), o que representa R$ 32,9 e R$ 36,2 por hectare arável, respectivamente. Na sessão após a notícia, nesta segunda-feira (17), a ação da companhia caiu 3,92%, a R$ 17,89, a maior baixa do Ibovespa.

Vale lembrar que a companhia já opera em ambas as fazendas, mas agora está em transição de um modelo de negócio de área arrendada para uma área própria nessas áreas. Como resultado, o Itaú BBA não é espera nenhum aumento significativo na área plantada ou na contribuição do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da companhia.

O BBA avalia o negócio como um passo positivo na estratégia de longo prazo da SLC para expandir sua área arável enquanto maximiza o valor do acionista. Na visão do banco, a valorização da terra foi, e continua sendo, uma das suposições que sustentam a tese de investimento da SLC. No entanto, as compras de terras geralmente vêm com uma proposta de criação de valor que leva tempo para ser totalmente incorporada à história de capital, potencialmente levando a uma reação negativa das ações no curto prazo.

O Itaú BBA reiterou recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra) e preço-alvo de R$ 25.

Já o Bradesco BBI destaca que as aquisições abaixo dos preços de mercado foram o principal mérito da operação. Incluindo a infraestrutura das fazendas, os R$ 32,9 mil e R$ 36,2 mil que a SLC está pagando por hectare agricultável nas fazendas Paladino (BA) e Pamplona (MG) estão 43% e 37% abaixo da média do portfólio da SLC, e “esta última está indiscutivelmente com um desconto ainda maior para as terras agrícolas da região”.

Segundo o BBI, a propriedade da terra também pode desbloquear investimentos adicionais em irrigação, expandindo assim as áreas de 2ª safra, rendimentos e futuras avaliações de terras agrícolas. Ainda assim, mesmo a preços atraentes, as aquisições de terras são investimentos de longo prazo. Como a SLC não está disposta a se desfazer de fazendas e já opera a maioria das áreas do Xingu, o benefício imediato para a empresa será na forma de menores despesas de arrendamento.

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Assumindo um custo médio de arrendamento em cerca de 13 sacas de soja/hectare arável para essas fazendas, e preços da soja ao redor de R$ 120 por saca, a redução nas despesas de arrendamento soma R$ 42 milhões por ano, o que representa um longo retorno sobre o investimento total de R$ 913 milhões, mesmo que os preços da soja possam se recuperar a partir daqui,e os rendimentos e as áreas potenciais de 2ª safra devem crescer ao longo dos anos.

O BBI manteve recomendação market perform (desempenho igual a média do mercado, equivalente à neutro) e preço-alvo de R$ 22.

A Genial Investimentos, por sua vez, avalia que o pagamento representa do 11% do market cap (valor de mercado) por incremento de 6,5% de hectares no portfólio de terras, ampliando terras próprias (contrário a tese de “asset light”).

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Para a Genial, o destaque fica para a expansão na Bahia, região estratégica para algodão.

Por outro lado, a corretora disse ser incerto presumir se o timing de concretização foi o mais adequado visto que o incremento de rentabilidade pode não ocorrer no primeiro semestre de 2025 (1S25).

A Genial manteve recomendação de compra e preço-alvo de R$ 22.

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O BTG pontua que a aquisição resultará em praticamente nenhuma expansão da área plantada — apenas 500 hectares não estavam sob o controle da empresa.

Após a compra da Sierentz ter adicionado mais 100 mil ha ao portfólio de terras arrendadas, elevando sua participação para 67% da área total da empresa, o BTG avalia como natural esperar que a SLC eventualmente retomasse a estratégia de aquisição de terras próprias – um ponto que a companhia já havia sinalizado em sua última conferência.

“Dessa forma, nossa percepção é que a SLC encontrou uma oportunidade para reequilibrar sua participação de terras próprias dentro do portfólio em um momento de estagnação nos preços de terras e commodities”, comenta o BTG.