Simpar: “temos a obrigação de analisar a possibilidade de compra dos Correios”

Empresa teve o maior lucro de sua história apesar da pandemia e já avalia novas fusões e aquisições

Ricardo Bomfim

O executivo Denys Marc Ferrez, CFO do Grupo Simpar (crédito: divulgação)
O executivo Denys Marc Ferrez, CFO do Grupo Simpar (crédito: divulgação)

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SÃO PAULO – O Grupo Simpar (SIMH3) teve um lucro líquido recorde no segundo trimestre de 2021, atingindo R$ 392 milhões nesta métrica (alta de 186% na comparação com o mesmo período do ano passado), impulsionado pelas operações da JSL (JSLG3) e da Movida (MOVI3).

Com resultados cada vez maiores e uma agressiva estratégia de fusões e aquisições, os investidores agora olham para a possibilidade da empresa adquirir uma das maiores estatais do Brasil, os Correios.

Na semana passada, a Câmara dos Deputados aprovou a privatização dos Correios por 286 votos a 173 com uma redação que prevê exclusividade mínima de cinco anos da empresa que adquirir a estatal sobre os serviços postais do país. O texto ainda precisa ser votado no Senado antes da desestatização ser realizada.

O assunto entrou na pauta da Simpar quando o presidente da JSL – braço de transporte rodoviário de cargas do grupo – Ramon Alcaraz, disse que a companhia pretende participar da disputa pelos Correios.

Em entrevista ao InfoMoney, o diretor financeiro (CFO) da Simpar, Denys Marc Ferrez, disse que a empresa tem “obrigação de analisar a possibilidade de comprar os Correios”, mas que antes é preciso ter mais clareza sobre o tamanho da operação e suas características para decidir se vale a pena.

“Na primeira vez em que saiu notícia de que estávamos olhando para os Correios os investidores se preocuparam com o impacto disso na nossa alavancagem. Sobre isso, devo dizer que ancoramos nosso desenvolvimento no retorno de dois dígitos e na contínua melhora do retorno sobre o capital investido”, explica.

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De acordo com Ferrez, se o volume financeiro da operação for importante diante do tamanho do grupo, serão analisadas possibilidades como a da Simpar estar presente em caráter associativo. O importante, diz o executivo, é a empresa ter mando para operar da maneira como achar melhor.

“Ganhamos de dezembro para cá dois terminais portuários e uma rodovia. A Simpar conseguiu investir R$ 15 bilhões e mesmo assim melhorou sua estrutura de capital trazendo como sócio o mercado de capitais ao abrir a mercado cada uma de suas operações”, lembra o empresário.

O executivo argumenta ainda que o múltiplo dívida líquida sobre o Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciações e Amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) da Simpar, mesmo com as fusões e aquisições recentes, caiu de 3,7 vezes no primeiro trimestre para 3,3 vezes no segundo.

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“As operações de M&A [fusões e aquisições] não têm afetado tanto a alavancagem. Grande parte da companhia é pouco intensiva em capital, então permite mais geração de caixa. Nossa promessa aos investidores é de sempre terminar um ano com uma alavancagem menor que a do final do ano anterior até chegarmos em 3 vezes”, detalha, lembrando que só no último trimestre a companhia investiu R$ 2,1 bilhões, valor 2,4 vezes maior que os R$ 885 milhões do primeiro trimestre.

Frutos colhidos no 2º trimestre

Ferrez contou que os números positivos da empresa de abril a junho refletem os investimentos realizados ao longo de toda essa década e que a companhia poderia já estar entregando lucros anuais na casa de R$ 1,4 bilhão não fosse o impacto da pandemia. “Esse lucro de quase R$ 400 milhões no segundo trimestre, é maior que o nosso resultado de 2019 inteiro.”

O Ebitda da Simpar no segundo trimestre somou R$ 965 milhões, dado que corresponde a uma expansão de 105,1% em relação ao registrado um ano antes. A receita líquida totalizou R$ 3,149 bilhões, número 43,3% superior ao do segundo trimestre de 2020.

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Segundo o executivo, a Simpar chegou a um novo patamar, no qual mesmo com a crise no setor automotivo o crescimento em logística e aluguel de veículos continua em crescimento.

Na Movida, por exemplo, Ferrez ressalta que o aluguel de carros de longo prazo tem se tornado um ponto forte, algo que compensa a redução nas locações em aeroportos. “Com a incorporação da CS Frotas, a Movida se tornou a segunda maior empresa de terceirização de frota do país”, comenta. A locadora de veículos teve lucro líquido de R$ 173,9 milhões.

Para a JSL, o último trimestre também teve bons indicativos, com um lucro de R$ 93,1 milhões em meio a um processo de aumento da eficiência operacional. “O processo de faturamento antes estava distribuído nas filiais e agora está sendo centralizado para aumentar o foco na ponta com a operação. Também ajuda a otimizar qualquer volume de erro.”

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Outra empresa do grupo Simpar, a CS Brasil, que trabalha com transporte público, limpeza urbana e terceirização de frotas, teve seus resultados puxados pelo aluguel público e pelo portfolio de concessões. A companhia lucrou R$ 33,2 milhões no segundo trimestre.

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Já a Vamos (VAMO3), destaca-se, na opinião de Ferrez, por estar popularizando no Brasil a possibilidade de aluguel de caminhões. “A receita futura contratada do segundo trimestre foi de 5,1 milhões. De 2019 a 2020 a empresa cresceu 50% e só nos últimos seis meses já se expandiu em 64%”, aponta o diretor financeiro. A Vamos lucrou R$ 100 milhões no trimestre.

A concessionária Original, por sua vez, teve lucro de R$ 9,5 milhões no segundo trimestre, e Denys Ferrez avalia que o dado foi positivo, visto que mesmo com a escassez de veículos a companhia conseguiu entregar um retorno acima de 20%. “Revisitamos a estrutura de número de vendedores, back office e manutenção. Estamos fazendo de forma mais otimizada e com uma margem melhor”, revela.

Fechando o grupo Simpar, a BBC Leasing e Conta Digital, braço financeiro da empresa, lucrou R$ 1 milhão no trimestre. “Temos a ambição de permear com crédito todo o nosso ecossistema de carros”, diz o CFO.

Denys Ferrez acredita que, diante de todo o crescimento registrado desde 2018 o mercado ainda não percebeu o quando a companhia pode entregar.

“Percebemos em um gráfico de 2017 que o mercado tem demorado a perceber o valor. Durante muito tempo, nosso valor era a participação da Movida, e isso começou a mudar à medida em que abrimos capitais de outras operações. Hoje, quando fazemos a soma das partes apenas das empresas abertas, temos um desconto de 20% do valor corrente.”

Por fim, Ferrez assegura que a Simpar, mesmo sem mudança no panorama macroeconômico brasileiro, conseguirá entregar rentabilidade em suas operações e desenvolver negócios como JSL, Movida e Vamos.

“A possibilidade de retorno da indústria automotiva, com resolução da escassez de semicondutores, para nós, é um upside risk [surpresa positiva nos negócios], e não uma questão determinante para o nosso crescimento”, conclui.

De acordo com dados compilados pela Refinitiv, as ações ordinárias SIMH3, da Simpar, acumulam sete recomendações de compra, nenhuma neutra e nenhuma de venda entre bancos, corretoras e casas de análise que acompanham a empresa. O preço-alvo médio dos papéis é de R$ 14,10, valor que representa uma queda de 13,39% ante o nível de fechamento da quarta-feira (11).

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.