Shiba Inu (SHIB): o que está por trás da disparada repentina de quase 400% da criptomoeda

De Elon Musk a fim de gastança na Índia, saiba tudo o que pode ter influenciado no desempenho da criptomoeda que mais subiu na semana

Paulo Barros

Cachorro da raça Shiba Inu (Jaycee Xie/Unsplash)
Cachorro da raça Shiba Inu (Jaycee Xie/Unsplash)

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SÃO PAULO – O Bitcoin (BTC) sobe quase 30% em uma semana no que parece um crescimento expressivo quando comparado ao mercado de ações, mas não passa de um suspiro no mundo bizarro das criptomoedas.

No mesmo período, uma criptomoeda desconhecida chamada Shiba Inu (SHIB) não só disparou 13 vezes mais, como desbancou ativos digitais conhecidos como UniSwap (UNI) e Avalanche (AVAX) no ranking global de criptomoedas com maior valor de mercado, passando a ocupar a 12ª colocação.

A Shiba Inu é uma criptomoeda que surgiu do mesmo meme da Dogecoin (DOGE) – é uma espécie de meme do meme, mas com criadores totalmente anônimos. Embora tenha origem em uma piada, o projeto decolou no começo do ano e chegou a parar a Binance pela demanda de endereços de Ethereum, blockchain na qual é baseada.

Dessa vez, seu volume de negociações cresceu tanto a ponto de torná-la a criptomoeda mais negociada nas exchanges Coinbase, Binance e Huobi nos últimos dias. Quem colocou, por exemplo, US$ 1.000 no ativo em 1º de outubro, transformou a quantia em US$ 3.830 na máxima alcançada nesta quinta-feira (7) – um lucro de aproximadamente R$ 15,6 mil.

Por outro lado, chama a atenção a aparente falta de motivos por trás da disparada de preço do ativo, já que o anúncio de uma exchange descentralizada (DEX) e de uma carteira próprias vieram há semanas, sem impacto visível no preço.

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Além disso, a listagem da moeda na corretora Coinbase, algo que costuma impulsionar preços, ocorreu há um mês e chegou a registrar seu evento de alta de mais de 40% em um dia, mas já perdeu efeito.

Não é só Elon Musk

A primeira pista dos motivos por trás do episódio surgiu quando usuários descobriram, por meio de um serviço no Twitter que monitora a atividade de baleias (investidores com grande capital em determinado ativo) que alguém havia comprado 6 trilhões de unidades da criptomoeda, avaliadas em US$ 43,8 milhões, no dia 30 de setembro.

Pouco depois, o CEO da Tesla (TSLA34), Elon Musk, publicou no Twitter a foto de um cachorro da raça Shiba Inu, no que teria sido um “sinal de compra” acompanhado pela comunidade e servido de catalisador para o movimento de alta.

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A compra em si não chegou a afetar o preço imediatamente, mas se tornou muito lucrativa depois que Musk divulgou a imagem. Os 6 trilhões de SHIB renderam ao investidor misterioso, até aqui, um lucro de mais de US$ 150 milhões.

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No entanto, não é possível precisar de onde começou o tsunami. Em movimentos de alta do Bitcoin, por exemplo, monitores de mercado conseguem identificar quando a pressão de compra vem da Coinbase, que é muito usada por investidores institucionais. Quando a corretora americana é a fonte da demanda, a moeda tende a ficar mais cara ali, gerando um prêmio em relação a outras plataformas.

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Mas, nada disso foi notado com a Shiba Inu. Mesmo movimentando grande volume, as transações foram pulverizadas em diversas exchanges, apontando para uma possível adoção em massa por investidores de varejo – no jargão do Twitter e das comunidades do Telegram, eles são chamados de “Shib Army”, usuários dispostos a comprar e segurar a moeda na crença de que ela irá multiplicar ganhos mais na frente.

Ações coordenadas do tipo são proibidas no mercado regulado de capitais, mas costumam prosperar no submundo das comunidades de criptomoedas. É também ali onde costumam surgir indícios do que teria motivado a iniciativa.

Tokens queimados

Além de acompanhar a baleia, os integrantes do “Shib Army” parecem ter mirado na expectativa de maior escassez da moeda. De um lado, a ação beneficente Crypto Covid India, de combate à pandemia na Índia, anunciou a liquidação de todos os 50 trilhões de SHIB doados por Vitalik Buterin, fundador do Ethereum, em maio – ou seja, menos pressão de venda.

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De outro lado, os usuários apostam no sistema de queima de tokens, que retira unidades da moeda de circulação automaticamente a cada transação. Desse modo, a própria demanda pelo ativo pode ter criado um ciclo que se retroalimentou e impulsionou o rali dos últimos dias.

Há ainda um elemento final pescado por quem ficou de olho nas notícias sobre o projeto nesta semana: na terça-feira (5), um dos líderes do projeto anunciou que a Shiba Inu ganhará sua própria coleção de criptoarte em formato de tokens não-fungíveis (NFT).

“10.000 criaturas amáveis estão a caminho. A empolgação por trás dessa distribuição de NFT eclipsou tudo que poderíamos ter imaginado, e estamos muito animados para apresentá-los a você na próxima semana (ou antes)” contou em um post de blog o usuário conhecido pelo pseudônimo Shytoshi Kusama.

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Os criadores da Shiba Inu querem surfar na onda dos NFTs, que coleciona histórias de pessoas que encontram itens digitais raros e vendem em leilões embolsando lucros na casa das centenas de vezes. Para comprar um NFT é preciso ter LEASH, uma outra criptomoeda do mesmo ecossistema.

Riscos

Subidas repentinas costumam atrair investidores buscando lucro rápido, mas especialistas alertam que movimentos de manada como esse, que se alimentam do medo de ficar de fora (FOMO, na sigla em inglês), são um prato cheio para amargar prejuízos.

A principal armadilha é a alta volatilidade, que pode corroer o capital do usuário em poucas horas. Após alcançar uma máxima local de US$ 0,00003473 por volta das 10h desta quinta-feira (7), a Shiba Inu já passa por forte correção e recua para US$ 0,00002406 às 16h30 – quem comprou de manhã, já perdeu mais de 30%.

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Paulo Barros

Jornalista pela Universidade da Amazônia, com especialização em Comunicação Digital pela ECA-USP. Tem trabalhos publicados em veículos brasileiros, como CNN Brasil, e internacionais, como CoinDesk. No InfoMoney, é editor com foco em investimentos e criptomoedas