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SÃO PAULO – Em uma sessão marcada por notícias de fusões e aquisições pelo mundo, uma em especial marcou o cenário corporativo brasileiro, mexendo diretamente com o setor de educação como um todo.
A Ser Educacional (SEER3) anunciou um acordo para a compra do Grupo Laureate no Brasil, por um valor de cerca de R$ 4 bilhões, uma notícia que pode ter um potencial transformador para a companhia em um cenário já de grandes mudanças para o segmento. As ações reagiram positivamente, com os ativos SEER3 chegando a saltar 14,60% na sessão, ainda que com baixa de quase 40% no ano.
A Laureate é uma companhia americana que detém empresas no Brasil, como a Anhembi Morumbi e a FMU. O acordado entre as duas companhias é de que haverá pagamento em dinheiro e em ações, sendo que a parcela em dinheiro soma R$ 1,7 bilhão. Além disso, a Laureate vai receber 44% das ações da Ser.
Segundo comunicado, a transação elevará o número de alunos da Ser para cerca de 450 mil, mais do que o dobro da base atual. No release de resultados do segundo trimestre de 2020, a Ser informou ter uma base total de alunos de 183,5 mil alunos no primeiro semestre. Passada a operação, o controlador Janguiê Diniz deterá 32,1% do capital da Ser e continuará a ser o acionista controlador. Com a operação concluída, a Ser passará a ser um dos maiores grupos de ensino superior do País, tendo mais de 100 campi e mais de 500 polos de EAD.
Confira os números da junção de Ser e Laureate no Brasil, de acordo com projeções do Morgan:
2021(expectativa) | Ser | Laureate | Ser + Laureate |
Número de estudantes | 184 mil | 229 mil | 413 mil |
Receita | R$ 1,28 bilhão | R$ 2,47 bilhão | R$ 3,75 bilhão |
Ebitda | R$ 362 milhões | R$ 396 milhões | R$ 758 milhões |
Margem Ebitda | 28% | 16% | 20% |
Lucro líquido | R$ 96 milhões | R$ 181 milhões | R$ 182 milhões |
EV/Ebitda | 6,7 vezes | 9,7 vezes | 7,4 vezes |
Porém, vale destacar, o contrato com a Ser prevê que a Laureate tem direito de buscar transações mais vantajosas com terceiros até 13 de outubro de 2020. Neste caso, a Ser pode igualar a proposta apresentada por outra empresa. Caso não faça isso, a Laureate pode fechar a operação, mas terá de pagar multa de R$ 180 milhões para a Ser.
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Com as negociações em aberto, a Yduqs (YDUQ3) afirmou em comunicado que acredita ter condições de apresentar proposta concorrente mais atrativa dentro do prazo estabelecido para o go-shop, apontando “forte potencial estratégico e de geração de valor que as empresas combinadas teriam”. As ações YDUQ3 também saltam na Bolsa, chegando a subir quase 9% – mais precisamente, 8,93%. Contudo, a empresa não deu indicação sobre valores.
Tais desempenhos das ações mostra como os ativos da Laureate, que também está vendendo outras participações na América Latina – na sexta, anunciou a venda de sua operação no Chile e de uma universidade nos EUA, a Walden University, vendida por US$ 1,48 bi para a Adtalem – são importantes.
Conforme destaca a equipe de análise do Morgan Stanley, o negócio é ousado e potencialmente transformador para a Ser, que pode se tornar um player nacional relevante, com marcas fortes nas diferentes regiões do país. O banco acredita que a Ser pode elevar as margens Ebitda da Laureate de 15% a 18% para 25% a 30% em poucos anos. Além disso, o Morgan crê que o acordo pode ser fechado em 8 a 14 meses.
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A Ser poderia triplicar o número de alunos do ensino à distância (de 28 mil a 76 mil ) e cadeiras médicas (de 343 a 1.175) – ainda abaixo dos principais players, mas agora com opção de competir na consolidação dos dois segmentos.
O Morgan destaca que os múltiplos da operação, de 10 vezes o EV (Valor de mercado)/Ebitda de 2020, um pouco acima da estimativa do banco, que era de R$ 3,6 bilhões ou 9 vezes, mas é menos do que o era considerado como razoável no período pré-Covid.
Além disso, conforme ressalta o Itaú BBA, usar múltiplos para analisar esta transação pode ser enganoso, destacando três movidos para isso.
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“Em primeiro, a Laureate opera com uma margem EBITDA de cerca de 19%, que está abaixo dos padrões da indústria; em outras palavras, provavelmente há espaço para melhorias de lucratividade, não apenas por causa da escala maior da nova companhia, mas também por causa de ganhos de eficiência. Em segundo lugar, a Ser mais de uma vez mostrou ao mercado sua eficácia e agilidade na identificação de oportunidades de redução de custos e execução rápida das ações necessárias, o que, a nosso ver, reduz significativamente o risco de execução. E terceiro, vemos um crescimento de primeira linha acelerando no segmento de ensino à distância no médio prazo, apoiado pelo conjunto de marcas de alto calibre da nova corporação”, apontam os analistas do banco.
A Levante Ideias de Investimentos aponta quatro pontos positivos com a operação: i) A Ser possui uma estrutura mais enxuta que os pares de capital aberto no mercado, com posição forte e base crescente de alunos no Ensino à Distância (EAD); ii) os ativos incluem cursos como Medicina, com ticket médio mais elevado, fortes nas duas principais universidades dentro dos ativos da Laureate, Anhembi Morumbi e FMU, ampliando a base de alunos na categoria de Saúde, que já representa 52% da base da Ser; iii) entrada em São Paulo, o maior mercado educacional do país, que deve ter uma recuperação econômica mais acelerada que outras regiões; e iv) O Ebitda também mais que dobrará, passando de aproximadamente R$ 300 milhões a R$ 350 milhões para cerca de R$ 800 milhões por ano, destacam os analistas.
Porém, conforme ressaltado acima, a compra ainda não é um feito, ainda mais por conta da aparente chegada da Yduqs no páreo, o que poderá elevar ainda mais o valor para o negócio. Com maior capacidade financeira, a Yduqs poderia oferecer uma maior parte em dinheiro.
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Por outro lado, um dos pontos que pode definir a disputa é a questão regulatória, com destaque para possíveis restrições do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). No caso da compra da Laureate do Brasil pela Ser, “o acordo pode ativar restrições do Cade nas cidades de Natal e João Pessoa, mas nada que possa impedir o negócio”, avalia o Morgan Stanley.
A Ser adquiriria ativos em regiões nas quais sua presença ainda é tímida, especialmente no Sul e no Sudeste. Já a Yduqs, presente em quase todos os Estados brasileiros, poderia ter mais problemas.
Com os analistas ainda esperando o desfecho pela operação, o que ainda deve levar algumas semanas, as recomendações para a Ser são bastante distintas. De acordo com a Bloomberg, entre onze casas de análise, 5 recomendam compra, 5 recomendam manutenção e 1 recomenda venda.
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Quem tem a visão mais negativa para o papel da Ser é o Morgan Stanley: “continuamos a preferir players defensivos (com maior participação na área médica) e as operações grandes em relação às menores”. Os analistas do banco americano destacaram preferir justamente as ações de Yduqs e do ativo da Afya, negociado na Nasdaq.
Já o Itaú BBA possui recomendação outperform para os ativos SEER3, com preço-alvo de R$ 24 para os ativos. De acordo com a Bloomberg, de 12 casas de análise, 11 recomendam compra e apenas 1 recomenda manutenção, mostrando uma menor disparidade entre as recomendações.
Antes mesmo dessa notícia sobre a Laureate, analistas já destacaram preferir as ações da companhia dentro do setor uma vez que a companhia está conseguindo desenvolver maior eficiência operacional nos pilares que têm sido o foco da companhia no período pós-Fies, que são os investimentos no EAD, o aumento de vagas de medicina, o crescimento orgânico e via fusões e aquisições.
Desta forma, o cenário para a Ser com a compra da Laureate no Brasil é bastante positivo. Contudo, o compasso é de espera com os investidores à espera da oferta (se ela se efetivar da Yduqs).
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