Semana política vai ferver com Lula, Dirceu e volta de parlamentares a Brasília

Fevereiro começa muito quente: há ainda a expectativa das decisões do STF sobre o pedido de cassação de Eduardo Cunha e das contestações de Cunha sobre o rito do impeachment decidido pelo Supremo

José Marcio Mendonça

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Pelo calendário, hoje é a abertura oficial do Congresso Nacional em 2015 e, por isso, em tese, Brasília já deveria estar povoada de deputados e senadores. Porém, é pouco provável que isto aconteça – nunca nas segundas-feiras Câmara e Senado funcionaram inteiramente – e ainda mais numa semana que será cortada pelos feriados de Carnaval.

De toda forma algum movimento haverá, pois para amanhã, também pelo calendário oficial, é o dia da Presidência da República enviar sua mensagem anual ao Congresso, normalmente com um roteiro do que pretende fazer até o fim de dezembro.

Quase sempre é um documento burocrático, porém este ano há a expectativa de que Dilma Rousseff já avance nas propostas de reforma que ela apresentou ao Conselhão (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) quinta-feira passada e cobre do Congresso agilidade e solidariedade. Não só sobre as reformas mas também sobre o retorno da CPMF.

Chegou-se a aventar a hipótese de a própria presidente (sugestão do ex-ministro Delfim Neto) levar o documento ao Legislativo, porém, por precaução, salvo decisão nova de última hora, optou-se pela praxe de ir o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner.

Mesmo com Brasília provavelmente vazia, a semana política deverá ser mais agitada do que foram as últimas, por três razões básicas:

  1. As novas revelações sobre as investigações da Operação Lava-Jato e outras levantadas pela imprensa, agora envolvendo mais diretamente o ex-presidente Lula e sua mulher Marisa Letícia, nos casos de um apartamento triplex no Guarujá e de um sítio em Atibaia. O ex-presidente deu novas explicações para as duas histórias, mas foram apontadas algumas contradições (e/ou omissões) entre as versões anteriores de Lula e as novas.

  A situação preocupa especialmente o Palácio do Planalto. Não apenas pelas ligações óbvias do ex-presidente com a presidente como porque, ainda em baixa política, Dilma é bastante dependente de Lula, da imagem do ex-presidente, e do inegável prestígio que ele ainda desfruta, especialmente junto aos trabalhadores e sindicatos.

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E Dilma está perdendo espaço nesse campo por causa de suas propostas de reformas, especialmente a previdenciária e a trabalhista. O PT e Lula enfraquecidos, acuados, vão ser um problema adicional, embora alguns analistas e políticos venham dizendo que a presidente deveria se afastar do PT para poder aprovar suas medidas estruturais no Congresso e ter mais paz para governar.Reportagem da “Folha de S. Paulo” diz que Dilma cogitou no ano passado licenciar-se do PT e fazer um governo suprapartidário.

O PT critica todas as mudanças nessas áreas e quer mesmo uma guinada na política econômica. Ainda na Folha, a manchete de hoje, dando conta de que o ministro do Planejamento, Valdir Simão, pretende reavaliar todos os programas sociais, (descontinuar os que não têm sentido e valorizar os eficazes), deve agitar ainda mais o PT, os sindicatos e os movimentos sociais.

E mais confusão e adversários para a reforma: informa o “Valor” que a reforma da Previdência deve taxar o agronegócio e o Simples.

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O STF, Cunha e o impeachment

  1. O depoimento (o primeiro) do ex-ministro José Dirceu ao juiz Sérgio Moro, o condutor da Operação Lava-Jato, no qual o petista admitiu, segundo seu advogado, alguns pecados (como usar jatinhos de investigados, pagamento por lobistas de reformas em imóveis dele) e também, de forma indireta, que não assumiu totalmente a nomeação de alguns dos acusados no processo, como o ex-diretor da Petrobrás, Renato Duque.

Não se conhece até agora nenhuma versão do depoimento além das informações passadas pelo advogado de Dirceu, mas por esse pouco sabido o mundo político já se assustou (ou ficou assanhado): ficou a impressão de que o ex-ministro está passando recados para os amigos que não vai pagar a conta sozinho.

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2. A volta dos parlamentares a Brasília, depois de quase dois meses em contato mais direto com suas bases eleitorais e com os prefeitos municipais está sendo aguardada com muita cautela. O governo teme, com razão, que os parlamentes aliados voltem mais rebeldes, influenciados com a insatisfação generalizada, os temores da sociedade de aprofundamento da crise econômica, com mais desemprego e maior queda na renda dos trabalhadores.

Se esse temor de fato se confirmar, o governo sabe que será um combustível para os defensores do impeachment da Dilma, coisa que no momento está totalmente afastada, como admitiu duas vezes semana passada um dos principais “interessados” no caso, o vice-presidente Michel Temer.

Há, ainda, duas pendências a tirar sonos dos políticos num Supremo Tribunal Federal que também volta das férias: o julgamento do pedido de cassação do mandato do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, a definição derradeira do rito do impeachment, uma vez que o mesmo Eduardo Cunha vai contestar algumas decisões sobre o assunto do STF em dezembro.

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Outros destaques dos

jornais do dia

– “[Custo Brasil:] Gastos com logística avançam 30%” (Estado)

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– “Ministro afirma que vai reavaliar os programas sociais” (Folha)

– “Itaú vende R$ 2,2 bilhões de créditos podres de empresas” (Valor)

– “Governo quer abrir controle [para capital estrangeiro] de aéreas” (Valor)

– “Queda nas reservas pode levar Petrobras a não pagar dividendos” (Valor)

 – “Lula confirma que visitou o triplex do Guarujá, mas nega que seja dono” (Globo/Estado)

– “Receita exigirá que offshore declare nome do proprietário” (Estado)

– “Ex-assessor falava do [Palácio dos] Bandeirantes com investigados” (Estado)

– “Política do governo estimulou as tvs piratas” (Folha)

LEITURAS SUGERIDAS

  1. Editorial – “Meticulosamente preparado” (diz que os resultados fiscais de 2015 mostram um país com percurso inverso dos demais) – Estado
  2. Clovis Rossi – “Quando os idealistas se perdem” (pergunta: em que momento de suas ricas histórias Lula e José Dirceu preferiram o conforto ao idealismo?) – Folha
  3. Editorial – “Pacote de crédito é menor do que diz a propaganda” (diz que o impacto do pacote é menor do que sustenta o marketing oficial) – Valor
  4. Gustavo Loyola – “A nova matriz macroeconômica está de volta” (diz que se turbinar o crédito dos bancos públicos fosse uma solução, o Brasil estaria crescendo hoje a um ritmo chinês) – Valor