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Sem Nvidia e grandes companhias de tecnologia, Bolsa americana não encanta tanto

Setores ligados à "economia real" - ou seja, sem uso intensivo de tecnologia em seus produtos e serviços - sofrem os efeitos dos juros elevados e desaceleração da economia

Vitor Azevedo

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O S&P 500, um dos índices acionários mais seguidos do mundo e que reúne as maiores empresas de capital aberto dos Estados Unidos, vem renovando suas máximas históricas. Esse desenvolvimento, porém, não atinge o mercado acionário americano com um todo, mas apenas uma parte dele.

Isso porque esses recordes estão sendo quebrados, basicamente, pelas empresas de tecnologia, as Big Techs, especialmente a Nvidia, que surfa o crescimento do uso da inteligência artificial. Ou seja, sem essas companhias, o desempenho do S&P 500 não estaria, assim, tão glamoroso.

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De acordo com um levantamento feito pela XP Investimentos a pedido do InfoMoney que considera a performance do S&P 500 até a tarde desta terça-feira (25), sem o peso das gigantes de tecnologia o índice acumularia em 2024 uma alta de menos de 5%.

Com as Big Techs e Nvidia, porém, o avanço é de mais de 14% – o que determina o recordes recentes.

S&P 500 com e sem as empresas de tecnologia. Na linha do gráfico em preto está o índice com toda sua composição; em amarelo, sem as Big Techs e Nvidia. Fonte: XP Investimentos

Juros elevados e desaceleração nos EUA

“É a teoria dos mercados em K, ainda. De um lado, empresas de tecnologia (em especial as ligadas à Inteligência Artificial) seguem crescendo seus lucros e capturando o fluxo de capitais. Do outro, há setores mais ligados à economia real, que sofrem os efeitos de uma economia americana desacelerando num ambiente de juros ainda altos”, fala Paulo Gitz, estrategista global da XP.

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O especialista explica que desde 2020 a letra K, com uma perna para cima e outra para baixo, vem sendo usada para ilustrar os caminhos opostos de diferentes partes da economia.

Em 2020, os juros mais baixos — impostos em meio à pandemia para manter a economia “girando” — impulsionaram as companhias tech, com investidores optando por essas empresas, que usualmente oferecem maior possibilidade de crescimento.

O movimento se explica pelo maior potencial de retorno que essas empresas oferecem, bem pelo fato de que, nesses momentos, o custo de financiamento fica reduzido.

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Ao mesmo tempo, o recuo da “economia real’ com os lockdowns, impactou negativamente ações de setores como o de energia, de serviços e por ai vai. Essas companhias, com potencial menor de crescimento, tem suas teses mais ligadas aos resultados de curto prazo e contam com valuations menos esticados.

Com a alta dos juros, era esperado que a diferença recuasse. Quando os juros sobem, investidores deixam as chamadas “ações de crescimento” de lado, optando por papéis que entregam mais resultados. Mas não é o que vem acontecendo.

Inteligência artificial muda cenário

A Nvidia, por exemplo, vem em uma sequencia de altas, tendo tomado o posto de companhia mais valiosa do mundo. Ela foi impulsionada, como já se sabe, por todo o hype da inteligência artificial, uma vez que, até então, é a principal produtora das placas que podem processar a nova tecnologia.

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“Os números são, claro, muito influenciados pela performance da Nvidia, dado o rally de 2024. Porém, nos chama bastante atenção que desde o dia 15/05, quando foram divulgados os dados de inflação e vendas no varejo nos EUA, a disparidade entre todos esses índices se acentuou”, comenta.

Com inflação e varejo enfraquecendo, a visão do mercado é de que a atividade econômica está desacelerando, o que impacta as empresas mais ligadas à “economia real”.

No entanto, essa visão também alimenta a perspectiva de que os juros podem cair, com o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) ganhando espaço para ser mais brando, e leva novos investimentos para as empresas de crescimento (as tech).

Paula Zogbi, gerente de Research da Nomad, explica que as grandes empresas de tecnologia norte-americanas causaram uma espécie de distorção no principal índice do país, sendo que, hoje, elas representam 30% do S&P.

“A média de capitalização de mercado das 500 participantes do índice hoje está próxima de US$ 31 bilhões, enquanto as três maiores companhias, Microsoft, Apple e Nvidia, valem aproximadamente 10 vezes mais”, contextualiza.

Essa diferenciação pode ser acompanhada por meio do S&P 500 Equal Weight, um índice que remove a ponderação dos ativos por capitalização de mercado e acompanha o desempenho médio das companhias participantes do benchmark.

Fazendo essa ponderação, portanto, em 2024, a valorização do S&P 500 Equal Weight é de apenas 6%, contra 15% do S&P 500, pontua Zogbi.