Selic mais alta: qual o impacto para empresas de shoppings na Bolsa?

Analistas do BBI cortaram o preço-alvo para as ações em cerca de 20%, mas ainda veem pontos de atratividade

Felipe Moreira

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Sob um novo custo de capital (assumindo em 15,5%), o Bradesco BBI cortou os preços-alvo das administradoras de shoppings em 20% para o final de 2025, em média, uma vez que a nova visão para a Selic, com diversas casas revisando para cima a projeção para a Selic terminal, prejudica significativamente a atratividade de curto prazo das ações destas companhias.

Com taxas mais elevadas e atividade ainda forte, o BBI aponta que o Brasil está no ponto do ciclo de investimento oposto ao ponto em que a atratividade das ações de shoppings deve se destacar –quando as taxas de juros estão caindo (bom para nomes de duration longa) e a atividade é moderada (o que destaca os atributos defensivos dos shoppings).

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A alavancagem não é uma preocupação, mas a Selic projetada a 15% deve levar a um crescimento estável do fluxo de caixa operacional no próximo ano, compensando negativamente as perspectivas positivas dos shoppings para os aluguéis (aumento de 6 a 8% em base anual em 2025), mesmo quando considerando as recentes recompras de ações.

Além disso, o crescimento da ABL (área bruta locável) está se tornando cada vez mais caro (M&A, ou fusões e aquisições, e/ou expansões) e a venda de ativos não essenciais também pode se tornar mais desafiadora com a recente deterioração dos FIIs (fundos imobiliários).

Nesse contexto, o BBI ressalta sua pequena preferência pelas ações da Allos (ALOS3), mesmo supondo que a estratégia de desinvestimento de ativos da companhia provavelmente perderá força em 2025, devido a um ambiente desafiador para os compradores habituais.

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O BBI também disse favorecer a alavancagem ligeiramente menor da Allos (1,4 vez a relação dívida líquida/Ebitda, ou lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) em comparação com seus pares (acima de 2,0 vezes) e previsões mais altas para o rendimento de dividendos e recompra no próximo ano (9,2% em comparação com seus pares em 5 a 6%).

A equipe de research do BBI pontua que sua preferência é apenas marginal, já que vê a ação da Iguatemi (IGTI11) com perspectivas de crescimento de aluguel um pouco mais altas (custos de ocupação mais baixos) e valuation deprimido (semelhante à ALOS3 a 7,3 vez P/FFO, ou fluxo de caixa proveniente das operações). Com isso, o banco reiterou recomendação de compra para Alos e Iguatemi, mas reduziu preço-alvo da primeira de R$ 35 para R$ 28 e da segunda de R$ 34 para R$ 26.

Além disso, a Multiplan (MULT3) é negociada com um prêmio de avaliação relativa em relação a seus pares, ainda atraente em termos absolutos (9,3 vezes P/FFO e 10,6% de TIR real).

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Após a recompra de ações de R$ 2 bilhões feita pela Multiplan no 4T24 – que analistas veem como um exemplo de governança e alocação de capital -, “é bastante frustrante ver o aumento das taxas corroendo parcialmente (ou adiando) o valor gerado por esse acordo com a OTPP”.

Para a Multiplan, o BBI também manteve recomendação de compra e diminuiu o preço-alvo de R$ 37 para R$ 31.

O Golmand Sachs, por sua vez, reiterou recomendação de compra para Multiplan e Iguatemi, com preço-alvo de, respectivamente, R$ 29 e R$ 26, pois enxerga um cenário favorável para o crescimento de aluguéis, impulsionado por melhorias no IGPM (projetado para 6,5% em 2024, com impactos em 2025), redução dos custos de ocupação e resultados sólidos de vendas (vendas SS em 12 meses foram de 7,9% para Multiplan e 7,4% para Iguatemi, enquanto os aluguéis SS no mesmo período cresceram +3,36% e +5,3%, respectivamente).

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Para Allos, o Goldman manteve recomendação neutra e reduziu preço-alvo de R$ 28 para R$ 26.