Mais açúcar, por favor: por que SMTO3 é compra para o JPMorgan e venda para o Morgan?

Bancos estrangeiros tem visões opostas para preços do açúcar e, por consequência, para a recomendação de São Martinho

Camille Bocanegra

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Para o Morgan Stanley, o papel da São Martinho (SMTO3) tornou-se um nome amargo, que deve ser vendido, pelo momento atual do açúcar. Para o JPMorgan, o papel é doce e outperform (acima da média do mercado, similar a compra). Ambos também divergem sobre os rumos dos preços de açúcar e etanol e vem daí a visão para a São Martinho.

Para o JPMorgan, açúcar é a principal aposta e deve apresentar preços futuros positivos. O banco estrangeiro está 23% acima do consenso em suas projeções para a commodity em 2025/26, ainda que investidores sigam cautelosos.

O argumento é que a colheita menor no Brasil, com expectativas anteriores de cerca de 42 milhões de toneladas sendo revisadas para baixo, já é sentida e, por isso, as cotações para açúcar sobem cerca de 20% já no mês. A previsão seguida é de Tracy Allen, que sustenta déficit global de açúcar ainda maior para 2024/25 de 4,4 milhões de toneladas. O Morgan Stanley, por sua vez, acredita em superávit de 2,9 milhões de tonelada para o ano-safra de 2024/23 e preço sob pressão ainda em 2024/25. A visão fez o banco cortar a recomendação para São Martinho para equivalente à venda.

O otimismo do JPMorgan recai também sobre o preço do etanol, que em período de entressafra mais longo, pode apresenta equilíbrio mais apertado entre oferta e demanda. Isso tudo faz com que o banco estrangeiro reveja suas estimativas para a São Martinho.

Na visão do JPMorgan, o nome combina avaliação atraente, fluxo de notícias negativas limitado e os pontos positivos da projeção positiva sobre o preço do açúcar e etanol. A queda dos papéis de 6% desde o começo do ano levou o valor da empresa sobre lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (EV/Ebitda) para cerca de 3,0 vezes em 2025. Mesmo considerando o efeito que os incêndios que ocorreram em instalações da empresa, o banco entende que o pior já passou e que os danos já foram avaliados.

“A única mudança até agora foi na mistura, que agora esperamos que fique em torno de 49% de açúcar (em comparação com 50% anteriormente), dado que a produção de etanol deve aumentar no curto prazo como resultado dos incêndios. Em termos de custos, os incêndios podem, de fato, levar a um aumento nos custos de pessoal e transporte, mas ainda é cedo para dizer”, afirmam os analistas.

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O banco entende que, mesmo com previsões otimistas para a commodity, os preços mais fracos que o esperado no acumulado do ano podem refletir negativamente sobre a avaliação da companhia. Em especial considerando que o gasto de capital (capex, em inglês) será mais alto, de acordo com a orientação da empresa. A São Martinho informou que aumentou em R$ 70 milhões o gasto em manutenção, o que é um valor pequeno comparado com o montante integral de R$ 2 bilhões já previsto. Ainda assim, o preço alvo foi reduzido para R$ 35 por ação, dos R$ 38 anteriores. Mesmo com corte, o papel ainda apresenta potencial de alta de 30%.