Santander Brasil (SANB11) frustra novamente e ações desabam após balanço do 3º tri: o que decepcionou o mercado?

Mesmo com uma inadimplência relativamente em linha com o esperado, o banco está sofrendo com a tendência de juros e seus impactos na margem

Mitchel Diniz Lara Rizério

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Novamente responsável por abrir a temporada de resultados para os grandes bancos, o Santander Brasil (SANB11) decepcionou com a entrega de um lucro líquido consideravelmente inferior ao consenso, decorrente de uma deterioração da margem financeira combinada com um crescimento robusto do provisionamento para perdas. Com isso, os ativos SANB11 fecharam em baixa de 5,26%, a R$ 28,47 e acabaram impactando o desempenho de outros bancos. Itaú (ITUB4), fechou em baixa de 2,14%, enquanto Bradesco (BBDC4) recuou 4,36% e Banco do Brasil (BBAS3), 3,54%, também repercutindo a proximidade do segundo turno das eleições presidenciais.

O lucro líquido do período finalizou o trimestre em R$ 3,1 bilhões, uma queda trimestral de 23,5% e de 28% na base anual,. O número veio consideravelmente abaixo do consenso de R$ 3,6 bilhões. Com isso, o retorno sobre patrimônio líquido médio finalizou o trimestre em 15,6%, uma queda de 5,2 pontos percentuais (p.p.), e um Índice de Basileia de 14,5, crescimento de 0,3 p.p. em razão de um incremento no patrimônio de referência gerado pelo resultado do período.

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A margem financeira bruta finalizou o trimestre em R$ 12,6 bilhões, uma leve contração trimestral de 1,4%. A queda foi resultante de uma deterioração da margem com clientes de 1,0% para R$ 14,1 bilhões, dado um mix de produtos menos arrojado e, consequentemente, com um spread médio menor, 10,7% – queda de 0,76 p.p.–, em paralelo à estabilização da margem de operações com o mercado negativa em R$ 1,5 bilhão, 2,1% mais negativa do que o último trimestre, mostrando o alto grau de sensibilidade do balanço do banco à tendência de juros, destaca a Levante Ideias de Investimentos.

Sobre os aspectos qualitativos da carteira, houve crescimento de 0,11 p.p. da inadimplência total (acima de 90 dias), finalizando o trimestre em 3,0%. O aumento foi de 0,14 p.p. em PF para 4,3% e 0,11 p.p. em PJ para 1,3%. Vale destacar que o crescimento da carteira de renegociação em 11,7% no trimestre para R$ 35,4 bilhões.

Dessa forma, para manter o seu saldo de cobertura em nível praticamente estável em 226%, +2 pontos percentuais, o banco apresentou um salto trimestral nas despesas de provisão de 8,1% mesmo com um aumento de R$130 milhões na receita de recuperação de créditos baixados para prejuízo, fechando o 3T22 em R$ 834 milhões. O banco ressaltou que realizou venda de carteira em prejuízos.

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Ademais, tivemos uma queda na receita de prestação de serviços e tarifas bancárias de 3,0% no trimestre, fechando o 3T22 em R$ 4,7 bilhões. Dentre os segmentos que mais caíram, destaque para uma piora em cartões de 4,3% para R$1,3 bilhão, em razão das menores receitas com taxas de intercâmbio ocasionadas por menores volumes de faturamento no trimestre, além de quedas de 2,4% em conta corrente e 20,3% em administração de fundos e consórcios gerando receitas de R$0,9 bilhão e R$ 0,3 bilhão, respectivamente.

Além disso, houve crescimento das despesas gerais em 4,8% no trimestre, finalizando o período em R$ 5,7 bilhões. O resultado foi puxado pelo crescimento de 6,3% das despesas de pessoal e PLR, em razão de maiores gastos com remunerações e incidência de impactos do dissídio já no mês de setembro. Dessa forma, foi vista uma deterioração no índice de eficiência do banco, despesas em relação às receitas, que finalizou o trimestre em 37,4%, 3,5 p.p. acima do 2T22.

“Em linhas gerais, o Santander apresentou um resultado decepcionante, novamente. Mesmo com uma inadimplência relativamente em linha com o esperado, o banco está sofrendo com a tendência de juros e seus impactos na margem com o mercado. Em paralelo, a margem com clientes apresentou uma considerável contração de spread, o que está em linha com a estratégia de redirecionamento de carteira do banco, pautada em maior originação de crédito para linhas de menor risco – menos rentáveis -“, avaliam os analistas da Levante.

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Com um aumento de carteira de 6,1% em grandes empresas, o banco vem crescendo a exposição em um segmento que está com nível de inadimplência extremamente abaixo da média histórica, mas que ainda não mostra sinais de incremento na margem. segundo os últimos relatórios do Banco Central.

“Dito isso, para os próximos releases. deveremos acompanhar a manutenção dessa estratégia em detrimento dos spreads e se de fato o banco poderá surfar alguma vantagem por já estar se posicionando em um segmento de menor risco frente a um cenário esperado de crédito mais adverso para o segmento pessoa física”, apontam os analistas da casa.

A XP aponta que os resultados mais fracos do Santander podem ser atribuídos principalmente a uma margem financeira (NII) abaixo do esperado no período, que pressionou seu resultado e levou a um lucro líquido 15% abaixo da projeção da casa e, consequentemente, a uma pior rentabilidade no 3T22.

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“Do lado positivo, a inadimplência manteve-se em níveis controlados (3,0%), levando a um índice de cobertura estável e saudável de 226%”, avaliam os analistas, que já projetavam uma reação negativa das ações, mantendo a visão conservadora em relação ao Santander, com recomendação de venda e preço-alvo de R$ 32.

Para o Bradesco BBI, o Santander Brasil apresentou tendências negativas no 3T22 em várias linhas do balanço, como margem com clientes, devido a uma abordagem de crédito mais conservadora, enquanto as provisões tiveram crescimento ainda significativo no trimestre, refletindo a qualidade dos ativos ainda desafiadora.

Além disso, apesar da deterioração de apenas 10 pontos-base em base consolidada, os analistas acreditam que o índice de inadimplência foi novamente distorcido por volumes significativos de renegociação. Os analistas também destacam a venda de carteira em cerca de R$ 5 bilhões. “Por fim, as despesas operacionais foram pressionadas pelo reajuste salarial, o que levou a uma significativa contração do lucro antes dos impostos”, aponta o banco. O BBI mantém recomendação neutra para SANB11, com preço-alvo de R$ 34, ainda um potencial de alta de 13% frente o fechamento da véspera.

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Para o Citi, os resultados do Santander reforçam a visão de que o período de ROE de 20% do banco ficou para. A principal questão é sobre o novo nível de retorno sustentável para o banco.

“Nós vemos os resultados refletindo um ajuste depois de um longo período de crescimento, o que deve levar a retornos sobre o patrimônio mais baixos. Na nossa visão, o valuation ainda não reflete o novo nível de ROE”, aponta o Citi, justificando a recomendação neutra para o nome, com preço-alvo de R$ 30, ante fechamento da véspera de R$ 30,05.

Executivos defendem qualidade dos ativos

Em teleconferência com analistas sobre os números do terceiro trimestre, os executivos do Santander admitiram que os resultados ficaram abaixo do esperado, mas disseram que a qualidade dos ativos é consistente com as projeções do banco. Segundo Mário Leão, CEO do Santander Brasil, o banco está sendo capaz de “antecipar ciclos econômicos com sucesso”.

Leão afirmou que o ciclo de crédito está em sua fase mais desafiadora. “Reduzimos nosso apetite por risco no quarto trimestre de 2021, mas estamos prontos para acelerar novamente quando nos sentirmos mais confiante”, disse ele.

O controle sobre a qualidade dos ativos é visto como um passo importante para a retomada de expansão de crédito. O CEO destaca que as safras antigas de empréstimos estão perdendo representatividade na carteira do banco e que as novas, mais saudáveis, melhoraram a qualidade do balanço, inclusive em termos de inadimplência.

Mesmo adotando mais cautela na concessão de crédito, os níveis de inadimplência do banco continuaram se deteriorando, ainda que de maneira estável.  Angel Santodomingo, CFO do Santander, explicou que a pressão negativa vem do varejo e de empresas muito pequenas. Por outro lado, esses empréstimos passados estão perdendo relevância, inclusive nas provisões.

Ainda que o Banco Central tenha interrompido o ciclo de aperto monetário, o Santander ainda trabalha com um cenário de juros altos. “Acreditamos que o crescimento da economia no ano que vem vai ser flat, com taxas de juros ainda elevadas. Temos que ter consciência que a economia ainda vai estar mais lenta”, disse Mario Leão.

Ele acrescentou que as carteiras do banco devem voltar a crescer em ritmo mais rápido quando a Selic começar a cair. “Mas já estamos retomando o crescimento em algumas carteiras desde já”.

Enquanto os juros permanecerem altos, as margens com mercado devem continuar sendo impactadas negativamente em 2023, disse o CFO do banco. No terceiro trimestre deste ano, essa margem ficou negativa em R$ 1,545 bilhão.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados