Sanções contra Rússia podem abrir espaço para exportação de aço do Brasil aos EUA

Siderúrgicas pretendem negociar extinção ou aumento das cotas de vendas para o mercado norte-americano

Alexandre Rocha

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As sanções econômicas impostas contra a Rússia pela invasão da Ucrânia podem abrir espaço para o aumentos das exportações de aço do Brasil para os Estados Unidos.

“Com o fechamento das relações [comerciais entre os EUA e a Rússia], certamente um espaço vai se abrir para nossas negociações com os Estados Unidos em relação à Seção 232”, disse nesta segunda-feira (7) o presidente executivo do Instituto Aço Brasil, representante do setor siderúrgico, Marco Polo de Mello Lopes, em coletiva de imprensa da Coalizão Indústria, iniciativa que reúne 14 entidades do setor industrial.

Ele ressalta que o Brasil é o maior exportador de placas de aço para os EUA e a Rússia vem em segundo lugar. “Rússia e Ucrânia são grandes produtoras e exportadoras de produtos siderúrgicos. Com as limitações colocadas pelos efeitos da guerra é evidente que haja uma inversão dos fluxos de comércio relacionados aos siderúrgicos”, declarou Lopes, que é também coordenador da Coalizão indústria.

Representantes das associações que compõem a iniciativa se reuniram em São Paulo para discutir os efeitos na indústria da redução de 25% do Imposto sobe Produtos Industrializados (IPI) e da invasão da Ucrânia.

A Seção 232 é um instrumento adotado pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump para reduzir as importações de aço. A norma impõe cota às exportações Brasileiras. As vendas de semimanufaturados de aço do Brasil aos EUA foram imitadas a 3,5 milhões de toneladas anuais. Em 2017, antes da medida, o embarques para o mercado norte-americano tinham chegado a 4,7 milhões de toneladas.

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De acordo com Lopes, o setor pleiteia a exclusão das exportações brasileiras de aço semiacabado aos EUA do sistema de cotas. “Não faz nenhum sentido para a indústria americana – que precisa das placas para poder produzir – que o aço brasileiro fique dentro desta restrição”, afirmou. Ele acrescenta que o tema já foi alinhado com a diplomacia brasileira, e uma missão deve ser organizada para negociar com as autoridades norte-americanas.

Caso não haja possibilidade de suspender a limitação, o Brasil pretende pedir a ampliação da volume. “Aí entra a questão que eu mencionei da Rússia”, disse o executivo. Segundo ele, o país eslavo chegou a exportar 2 milhões de toneladas aos EUA em 2018, mas houve redução desde então em função também das cotas.

Aumento de preços

O receio mais imediato dos industriais é com os efeitos da invasão da Ucrânia e das sanções contra a Rússia nos preços dos combustíveis, como petróleo e gás, e insumos industriais, como commodities metálicas.

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Além da redução da oferta internacional, com a interrupção do fornecimento de produtos russos e ucranianos, a guerra interfere no transporte mundial de mercadorias e nos valores dos fretes. Isso ocorre num momento em que os gargalos criados pela pandemia de Covid-19 começavam a desaparecer.

Nesse sentido, a tendência inflacionária internacional, que já vinha em movimento, ganhou mais força. Desde o início da invasão, em 24 de fevereiro, houve aumento nos preços do alumínio, minério de ferro, aço, níquel e paládio, itens exportados pela Rússia e Ucrânia, e outros metais. O “boom” nos preços das commodities, que havia arrefecido no final de 2021, voltou a avançar.

De acordo com informações divulgadas pela Coalizão Indústria, o Índice de Commodities Brasil (IC-Br), medido pelo Banco Central, teve variação positiva acumulada de 39,3% de janeiro de 2021 a fevereiro de 2022. O IC-Br dos metais avançou 41,1% na mesma comparação e só perde para o indicador de energia, que inclui petróleo e gás, que avançou 78,3%.

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O índice global medido pelo Commodity Research Bureau (CRM) registrou aumento de 27,9% no mesmo período. Ou seja, os impactos da guerra ocorrem num momento de preços já elevados.

A avaliação é que tal escalada irá pressionar os preços dos produtos industrializados. “O Brasil produz quase todo o metal que consome. Aço, por exemplo, importa pouco, e a maioria vem da China. Nós não temos dependência de matérias-primas [metálicas] da Rússia. O problema é [o impacto] no preço”, observou José Velloso, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

Os efeitos do conflito na logística internacional prometem contribuir ainda mais com o aumento dos preços das mercadorias. “A tendência, se o conflito continuar, e com os preços já explodindo, é que haja algum repasse aos custos do frete, colocando mais lenha na fogueira da inflação mundial”, declarou Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit).

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O presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Roriz Coelho, acredita que a redução do IPI anunciada recentemente pelo governo “pode mitigar um pouco” a pressão dos insumos nos valores do produtos finais.

Sem desabastecimento

Os representantes da indústria não esperam impactos imediatos da guerra no abastecimento, inclusive em setores que importam matérias-primas da Rússia ou da Ucrânia.

“Não vejo problemas para suprir a demanda física no curto prazo”, comentou Coelho. “O impacto em curto prazo será pequeno, não devemos sofrer mais do que já sofríamos”, destacou o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato.

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Diversos segmentos da indústria sofreram durante a pandemia com a falta de semicondutores produzidos na Ásia, principalmente na China. O problema foi causado por paralisações em fábricas chinesas e congestionamentos nos portos.

Agora Barbato teme que uma guerra prolongada possa afetar a oferta de dois insumos essenciais para a produção de chips, o gás neônio e o metal paládio, exportados por Ucrânia e Rússia. Ele acrescenta que, por enquanto, há estoques para abastecer a produção, mas é difícil prever quanto eles vão durar.

Na siderurgia, há um tipo de carvão utilizado, chamado PCI (sigla em inglês para Carvão Pulverizado para Injeção), que no Brasil é 100% importado da Rússia, segundo Lopes. Ele garante, no entanto, que as empresas estão buscando fornecedores alternativos. Na Austrália, por exemplo. “E temos estoques”, ressaltou.

Para Velloso, a substituição de importações torna-se uma questão estratégica. Como a busca por fornecedores alternativos de insumos tende ser um movimento global, este é mais um fator de pressão sobre os preços.

Os executivos destacam que, se os preços continuarem a aumentar no Brasil, não é culpa do mercado interno. “Não existe perspectiva de inflação de demanda. Nós temos uma capacidade ociosa de 40%, estamos preparados para atender qualquer nível de demanda que seja”, observou Lopes.

Os líderes empresariais acrescentam que as avaliações feitas até agora sobre os impactos da guerra são preliminares e que, apesar do cenário incerto, os setores representados na Coalizão Indústria “não compartilham das perspectivas negativas que vêm sendo apresentadas para 2022”.

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Alexandre Rocha

Jornalista colaborador do InfoMoney