Rússia será retirada da carteira do MSCI de emergentes e Itaú BBA questiona: hora de a América Latina “brilhar”?

Para os estrategistas do banco, esse pode ser um momento para a região voltar a ganhar participação no índice, após perder relevância nos últimos anos

Lara Rizério

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Em comunicado na noite da última quarta-feira (2), o Morgan Stanley Capital International (MSCI), fornecedor global de ativos financeiros, anunciou a retirada da Rússia da composição de seu índice de mercados emergentes, com o cerco fechando-se mais uma vez contra o país após a invasão da Ucrânia.

O MSCI informou que a decisão foi tomada após ouvir os grandes investidores institucionais mundo afora, em uma consulta que teve início na última segunda-feira (28).

Dessa forma, a Rússia será considerada um mercado standalone ou “mercado autônomo”. Os índices MSCI Standalone Market não estão incluídos no MSCI Emerging Markets Index ou no MSCI Frontier Markets Index, o que significa que perdem bilhões de dólares de investimento provenientes de fundos passivos que rastreiam esses índices, que estão entre os mais importantes do mundo.

A medida passa a valer a partir da próxima quarta-feira (9).  A decisão da MSCI ocorreu pouco antes de o fornecedor de índices FTSE Russell anunciar que excluiria os papéis russos de seus índices de ações.

O Itaú BBA destacou em relatório chamado “Hora da América Latina brilhar?” que, com a Rússia sendo reclassificada, poderá haver uma migração de recursos para a América Latina, com maiores fluxos para a região

No fechamento de quarta-feira, a Rússia representava 1,47% do índice MSCI EM (ante 4,97% do Brasil, 2,02% do México, 0,43% do Chile, 0,25% do Peru e 0,19% da Colômbia). Essa ponderação mostra uma perda significativa de participação desde a última revisão trimestral do índice, em 22 de fevereiro, quando o peso do país era de 3,41%.

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Parte do impacto da decisão do MSCI de praticamente retirar o país do índice já foi sentido, avalia o BBA. No entanto, a participação atual de 1,47% resultaria em mais saídas de US$ 5,9 bilhões de investidores passivos e US$ 21,2 bilhões de investidores ativos.

“Normalmente, analisamos apenas os fluxos de investimento passivos, pois eles devem seguir os pesos atuais do índice,
enquanto os investimentos ativos não precisam. Mas, dado que a Rússia será praticamente removida do índice, acreditamos que é importante mostrar também os fluxos potenciais ativos”, avaliam os estrategistas.

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Se assumir que o peso atual da América Latina no índice de emergentes for mantido, a região poderá ver entradas de cerca de US$ 2,12 bilhões. Atualmente, a região representa 9,33% do índice e, levando em conta que os fluxos sejam divididos , o Brasil receberia cerca de US$ 1,34 bilhão (US$ 292 milhões de investidores passivos, US$ 1,05 bilhão de ativos), o México teria US$ 547 milhões (US$ 119 milhões passivos, US$ 428 milhões ativos), o Chile contaria com US$ 116 milhões (US$ 25 milhões passivos, US$ 91 milhões ativos), Peru com US$ 67 milhões (US$ 14 milhões passivos, US$ 53 milhões ativos) e Colômbia teria US$ 51 milhões (US$ 11 milhões passivos. US$ 40 milhões ativos).

Catalisador ou sem tanto peso?

O BBA também questiona se esse fluxo poderia ser como um catalisador para a região. Isso em um cenário em que, nos últimos 22 anos, tanto o Brasil quanto o México e a África do Sul, foram claramente perdedores em relação a outros mercados emergentes no índice MSCI.

Já China, Taiwan e Índia ganharam mais participação, com o mercado chinês chegando a impressionantes 24,7% de participação nos últimos 22 anos e agora com um peso do índice de 31%, enquanto o Brasil e o México perderam juntos 13% de participação no mesmo período.

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A China tem hoje um peso 12,7% superior à média dos últimos 22 anos, enquanto Taiwan e Índia estão com pesos superiores em 4,0% e 4,8%, respectivamente. Brasil e México estão menores em 5,1% e 3,2%, respectivamente.

“Claro, isso significa que a comunidade de investimentos parece ter favorecido os países asiáticos em relação aos latinos, o que tem sido a norma nos últimos dez anos. Dito isto, acreditamos que pode haver um argumento a favor da América Latina, que agora tem uma oportunidade interessante de reconquistar participação”, avaliam os estrategistas.

Eles apontam que não é apenas a Rússia que está sendo reavaliada à medida que esta tempestade atinge a comunidade de investimentos – a China e outros países asiáticos também apresentam alguns novos riscos.

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O BBA aponta que não apresenta a América Latina como uma “região livre de riscos”, sendo que há vários deles, principalmente políticos, com eleições, reformas constitucionais e até com novas constituições no radar.

No entanto, olhando para os pesos e os valuations dos países, avaliam que não podem deixar passar despercebida a oportunidade que a região apresenta.

“O Brasil está negociando a apenas 7 vezes o preço sobre o lucro, enquanto a América Latina está sendo negociada a 8,7 vezes. O México se apresenta como o nome mais caro do região (que acreditamos ser merecido), com lucro de 13,7 vezes, mas esse múltiplo ainda está abaixo da sua média histórica. Quando comparamos essas avaliações com as dos outros países já mencionados, vemos uma possibilidade notável de a América Latina não apenas passar por uma reavaliação, mas também recuperar o peso no índice”, avaliam.

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Em comparação, eles destacam que a Índia está sendo negociada a 20,7 vezes o preço sobre o lucro, enquanto a Arábia Saudita e Taiwan estão em 19 e 14 vezes, respectivamente. A avaliação atual da China é de 11 vezes o preço sobre o lucro.

Assim, concluem, no atual cenário geopolítico, a atenção dos investidores pode se deslocar para a região da América Latina, que não só oferece avaliações baratas, mas está abaixo do seu peso histórico já há algum tempo.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.