Reunião da Opep não agrada investidor: como ela deve afetar o mercado de petróleo?

Após acordo para cortes até setembro, Opep+ estende restrições até 2025

Felipe Moreira

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A reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (OPEP+) do último domingo (2) decidiu estender os cortes de produção de 2,2 milhões de barris por dia (bpd) do grupo até o final do terceiro trimestre de 2024 (3T24), com uma eliminação gradual dos cortes voluntários adicionais de produção, a partir de outubro de 2024 até setembro de 2025, bem como a prorrogação do corte oficial de oferta de 3,66 milhões bpd até o final de 2025.

O Bradesco BBI reforça que a decisão da Opep trouxe um sentimento de baixa ao mercado, pois se fala sobre uma reversão dos cortes, o que significa mais oferta para o próximo ano, e adiou as discussões sobre penalidades de quem se desviar dos acordos para o final de junho. Por outro lado, vê que a extensão deve ser otimista para os mercados físicos de curto prazo, desde que os desvios dos acordos não saiam do controle. O dia é de queda do petróleo, com o WTI e o brent em queda de mais de 3% no início da tarde da sessão desta segunda, principalmente por conta dos planos de eliminar gradualmente os cortes voluntários.

O Santander espera cortes globais de produção de 5,66 milhões bpd até setembro, com aumento gradual da oferta a partir do 4T24.

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Na opinião do Santander, a extensão dos cortes voluntários adicionais de produção de 2,2 milhões de barris por dia apenas até o 3T24 e o plano de eliminação gradual dos cortes voluntários adicionais poderiam decepcionar o mercado, pois acredita que uma extensão até o 4T24 era amplamente esperada e o plano de eliminação gradual poderia ser interpretado como uma limitação à margem de manobra da OPEP+ no futuro.

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Diante disso, analistas do Santander acreditam que os fundamentos permanecem favoráveis ​​para o segundo semestre de 2024 (2S24), com uma assimetria positiva no preço do petróleo e o Brent tendo um suporte em US$ 80 por barril, enquanto as ações de energia da América Latina ainda podem se recuperar do recente desempenho abaixo da média do mercado, pois o movimento foi em grande parte dissociado dos fundamentos.

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O Santander explica que fatores micro estão pesando sobre as ações das petrolíferas (por exemplo, mudanças na gestão da Petrobras, atrasos na emissão de licenças ambientais para o PRIO (PRIO3) e discussões sobre a fusão da 3R (RRRP3)/Enauta (ENAT3)) e levaram ao fraco desempenho das ações em geral, além de saídas contínuas de fundos de ações no Brasil.

Embora acredite que a decisão da OPEP+ possa ser interpretada como uma ligeira desilusão, o Santander acredita que o Brent ainda tem um suporte no nível de US$ 80 por barril, o que deverá traduzir-se em fortes resultados para as empresas petrolíferas da América Latina.

No geral, o Santander disse preferir o 3R/Enauta (seguido por PRIO), com uma perspectiva positiva para a nova companhia, apesar das discussões sobre o acordo de acionistas para fusão das primeiras companhias. Também disse gostar da PetroRecôncavo (RECV3) pelo seu rendimento de dividendos de 7% para 2024, mas vê poucos catalisadores. Na América Latina, prefere a YPF à Petrobras (espera um rendimento normalizado de dividendos de um dígito em 2025 para a Petrobras em comparação com o crescimento da produção de xisto e a racionalização de investimentos na YPF).

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O time análise da XP, por sua vez, comenta que o resultado foi efetivamente o que o mercado esperava (uma extensão dos cortes), e disse ter uma leitura neutra do comunicado à imprensa.

Segundo a XP, a perspectiva otimista é que a extensão do corte de produção da OPEP+ demonstra o compromisso do bloco com o suporte dos preços do petróleo. Além disso, a extensão até o final de 2025 foi mais longa do que muitos participantes do mercado esperavam, assim como a eliminação gradual dos cortes voluntários até o 3T25 de setembro (que, segundo o grupo, “pode ser pausada ou revertida” dependendo das condições do mercado).

Por outro lado, a narrativa pessimista argumenta que a eliminação gradual dos cortes voluntários oferece um caminho claro para o aumento da oferta e demonstra o desconforto do grupo com a atual alta capacidade ociosa e a falta de cumprimento por parte de alguns membros.

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De forma geral, a XP disse que continua a ver os mercados de petróleo como gerenciados pelo grupo e espera uma relativa estabilidade de preços em torno do nível atual.

A equipe de research do banco suíço Julius Baer disse que a extensão das restrições de oferta veio acima das expectativas do mercado. “Embora a decisão de eliminar gradualmente os cortes de oferta a partir do final deste ano possa parecer surpreendente, ela simplesmente reconhece que as nações petrolíferas estão receosas de perder participação no mercado”, diz Julius Baer.

Com as últimas reviravoltas na política de petróleo, o banco suíço acredita que os suprimentos devem permanecer abundantes e o humor do mercado deve continuar a esfriar.

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Além disso, Julius Baer prevê que os preços do petróleo cheguem aos US$ 70 por barril ainda este ano. “A geopolítica continua sendo um elemento de ruído que pode ocasionalmente abalar os preços”, acrescenta.

De acordo com o relatório, o mercado de petróleo permaneceu bem equilibrado nos últimos meses, apesar das enormes reduções de oferta das nações petrolíferas. O crescimento da demanda foi compensado pelo crescimento da oferta proveniente de outros lugares, principalmente das Américas e perder participação no mercado não está no interesse das nações petrolíferas. Dessa forma, para analistas, os desafios principais permanecem inalterados.

Alguns membros, como os Emirados Árabes Unidos, investiram em expansões de capacidade e receberam cotas de produção maiores, mas ainda têm potencial subutilizado. Outros aliados, como a Rússia, continuam a ter dificuldades para cumprir as cotas voluntárias. “Ambos podem minar a coesão do grupo no futuro, especialmente em uma fase de eliminação das restrições e em um ambiente de crescimento contínuo da oferta das Américas e de outros lugares”, avalia Julius Baer.