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O terceiro trimestre de 2023 deve ser mais um período marcado como fraco para as varejistas brasileiras, com o cenário macroeconômico ainda influenciando negativamente os resultados das companhias. Contudo, vale destacar a amplitude do setor, que envolve empresas de e-commerce, vestuário, farmacêuticas, entre outros, alguns segmentos devem ter maior resiliência do que outros.
“Antecipamos um terceiro trimestre desafiador para o setor de varejo, em meio a uma demanda ainda fragilizada e margens afetadas, tanto pela base de comparação com trimestres anteriores quanto pelo aumento da competitividade e altos níveis de alavancagem”, comenta a equipe da XP Investimentos, liderada por Danniela Eiger.
“Não há dúvida de que as varejistas estão altamente correlacionadas com o cenário macro. Mas os mercados se recuperaram em meados de 2023, com os investidores considerando que o segundo trimestre seria o pior momento para a maioria dos nomes que cobrimos. Isso provou ser verdade na maioria dos casos, mas o terceiro trimestre deverá apresentar uma tendência mais fraca do que o esperado em comparação com as expectativas de alguns meses atrás”, fala o time do BTG, liderado por Luiz Guanais.
Em algumas companhias, como de consumo discricionário, os juros altos são os maiores vilões, impedindo o acesso ao crédito. Para outras, como as de alimentos, o processo de desinflação é que impacta os resultados, levando as pessoas a comprar em menores quantidades.
Confira as projeções da Refinitiv para as companhias do setor de varejo:
Companhia | Ticker | Receita líquida | Ebitda | Lucro líquido |
Grupo Casas Bahia | BHIA3 | – | – | – |
Magazine Luiza | MGLU3 | R$ 9,18 bilhões | R$ 2,4 bilhões | R$ – 137,6 milhões |
Grupo Soma | SOMA3 | R$ 1,3 bilhão | R$ 232,7 milhões | R$ 109,2 milhões |
Arezzo | ARZZ3 | R$ 1,3 bilhão | R$ 210,7 milhões | R$ 104,9 milhões |
Vivara | VIVA3 | R$ 450,3 milhões | R$ 97,9 milhões | R$ 72,3 milhões |
Lojas Renner | LREN3 | R$ 3,2 bilhões | R$ 354 milhões | R$ 192,8 milhões |
Guararapes | GUAR3 | – | – | – |
Assaí | ASAI3 | R$ 16,7 bilhões | R$ 1,18 bilhão | R$ 159,7 milhões |
Carrefour | CRFB3 | R$ 26,5 bilhões | R$ 1,29 bilhão | R$ -111,8 milhões |
Grupo Mateus | GMAT3 | R$ 6,9 bilhões | R$ 485,8 milhões | R$ 301,4 milhões |
Grupo Casas Bahia, Magazine Luiza e Mercado Livre
No e-commerce, o faturamento deve continuar sendo afetado, com as famílias ainda consumindo pouco por causa dos juros elevados. Além disso, as companhias do setor – principalmente Grupo Casas Bahia (BHIA3), antiga Via, e Magazine Luiza (MGLU3) – devem sofrer também por conta de suas alavancagens, com os juros mais altos impulsionando o custo das dívidas.
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Para o Grupo Casas Bahia, que passa por uma reestruturação após uma série de prejuízos e queimas de caixa, alguns bancos e casas de análise preferiram não soltar projeções devido à falta de visão sobre o futuro.
“O Grupo Casas Bahia deve apresentar outro conjunto de resultados afetados, com dinâmicas fracas de valor bruto de mercadoria (GMV, na sigla em inglês) e rentabilidade impactada”, fala a XP.
A empresa, em meio ao seu processo de reestruturação, anunciou o fechamento de lojas físicas e a descontinuidade de categorias, duas questões que devem impactar negativamente o faturamento, já que com menos pontos e menos produtos, haverá menos vendas. Além disso, as margens também devem ser afetadas, por causa de promoções.
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“Quanto à rentabilidade, a margem bruta deve ser o ponto baixo do trimestre, caindo 450 pontos-base ano após ano, para 26,2%, afetada pela estratégia do Grupo Casas Bahia de reduzir agressivamente os níveis de inventário, levando a margem Ebitda [Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês] a cair 290 pontos-base ano após ano, para 2,7%”, menciona a corretora.
Para o Magazine Luiza, as perspectivas são de que o GMV irá crescer, apesar do cenário macro.
“Esperamos que a Magazine Luiza apresente resultados mistos no trimestre em questão, com um desempenho fraco na receita, mas margens ligeiramente melhores. O GMV total deve aumentar 4% na base anual principalmente apoiado pelo desempenho do marketplace (3P), enquanto o e-commerce (1P) e as lojas físicas devem permanecer afetados (com queda de 6% e estável ano após ano, respectivamente)”, explica a equipe de Eiger.
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No que tange à rentabilidade, com exceção do Grupo Casas Bahia, que apresenta em seu resultado um impacto adverso da reestruturação, o setor de consumo discricionário tem apresentado margens melhores.
Os juros mais elevados elevaram o custo de capital e tornaram a competição mais racional, com todas as companhias cobrando preços maiores dos seus clientes. Mas analistas ainda tentam entender, por exemplo, qual será o impacto das mudanças do Difal, que é a diferença de alíquota sobre uma mercadoria determinada entre o estado de origem da mercadoria e o de destino, nas margens.
“Vemos a margem bruta expandindo 90 pontos-base ao ano, para 28,8%, graças à maior penetração de serviços compensando o impacto negativo da reintrodução do DIFAL. Reconhecemos os esforços da empresa para melhorar a eficiência, mas a desalavancagem operacional provavelmente compensará parcialmente o ganho de margem bruta, resultando em uma pressão de margem Ebitda de 20 pontos-base ao ano para 5,8%”, debate a equipe do Itaú BBA, que tem à sua frente Thiago Macruz, sobre o Magazine Luiza.
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O Mercado Livre (MELI34), por fim, deve ser o destaque positivo do trimestre.
“Provavelmente apresentará novamente resultados fortes em ambas as divisões, tanto de comércio quanto na de fintech. Antecipamos um crescimento de 25% ao ano no GMV, com Brasil e México sendo os melhores desempenhos, impulsionados pela aceleração do 1P, e um crescimento de 40% ao ano no TPV (Valor Total de Pagamento, na sigla em inglês)”, diz o banco, sobre a operação da companhia argentina.
Na mesma linha, o Bradesco BBI aponta que entre os destaques do trimestre, espera que o Mercado Livre entregue, novamente, os melhores resultados da sua cobertura (maior combinação de crescimento e rentabilidade), enquanto projeta que o Grupo Casas Bahia imprima os resultados mais pressionados, marcados por já conhecidos de seu plano de transformação.
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No discricionário, alta renda deve continuar sendo destaque
No consumo discricionário (sensível aos ciclos econômicos), quem deve continuar sendo destaque são as companhias voltadas mais ao público de alta renda, que não é tão afetado pelos juros elevados e continua consumindo.
“Os varejistas de vestuário e calçados expostos a famílias com renda mais elevada deverão continuar apresentando um desempenho superior no trimestre em questão, apesar do crescimento mais lento das receitas, semelhante aos trimestres anteriores”, comenta o BTG Pactual.
O Grupo Soma (SOMA3), para o banco, deve ser o destaque negativo do trimestre, com as vendas excluindo a Hering aumentando 5,3% no ano. As vendas da marca recém-adquirida devem crescer 1,5%.
O BBA segue na mesma linha. Contudo, defende que o setor não é “à prova de balas”.
“Arezzo (ARZZ3), Track & Field (TFCO4) e Vivara (VIVA3) provavelmente apresentarão resultados positivos, com a primeira sendo o destaque com um ganho de margem Ebitda de 150 pontos-base ano a ano”, menciona.
“Em contraste, o Grupo Soma provavelmente mostrará 230 pontos-base ano a ano de pressão na margem, principalmente devido a tendências de vendas mais suaves (desacelerando trimestre a trimestre) resultando em alguma desalavancagem operacional no trimestre e à pressão na margem bruta da Soma (excluindo Hering) por maiores reduções de preço”, diz o banco.
Empresas do setor de vestuário voltadas ao público de menor renda, por outro lado, não devem ter a mesma sorte, já que seu público-alvo continua afetado.
“Esperamos que a Lojas Renner (LREN3) reporte outro conjunto de resultados fracos, já que a demanda continua a sofrer com os desafios macroeconômicos enquanto a Realize (braço financeiro da companhia) permanece afetada pelos ainda elevados níveis de inadimplência”, comenta a equipe da XP, sobre a varejista.
Para a Guararapes (GUAR3), dona da Riachuelo, a corretora usa palavras similares: “Deve apresentar resultados fracos, com desempenho tímido na receita principal, mas ainda com margens afetadas na operação de varejo”.
O Itaú BBA vai na mesma linha.
“Esperamos que o terceiro trimestre tenha sido mais um período desafiador para a Lojas Renner. Na divisão de varejo, esperamos apenas 1% de crescimento nas Vendas nas Mesmas Lojas (SSS), refletindo o cenário macroeconômico adverso, a desaceleração na concessão de crédito e a temporada de inverno mais curta do que o esperado”, fala.
“A Guararapes apresentará números suaves em um cenário desafiador de cima para baixo. As tendências de vendas no varejo provavelmente serão um destaque em uma base relativa, com um aumento de 6% nas Vendas nas Mesmas Lojas (SSS); no entanto, alguma atividade promocional provavelmente reduzirá a margem bruta”, adicionam.
Para o varejo de alimentos, a palavra-chave é deflação
Se as companhias de e-commerce e de moda têm os juros como seu principal vilão, ao analisar o varejo mais ligado a necessidades básicas, o principal obstáculo é a deflação.
Com os preços avançando pouco – ou até mesmo recuando – os consumidores deixam de fazer compras maiores para evitar a inflação, diminuindo o faturamento.
Além disso, essa desvalorização dos preços causa um efeito negativo para as varejistas e atacarejistas: os seus estoques também passam a valer menos, gerando um efeito contábil negativo. O produto adquirido um mês atrás pode, por exemplo, valer menos no momento da sua venda.
“A deflação de alimentos continua sendo um vento contrário. No varejo de alimentos, esperamos que o crescimento negativo das Vendas nas Mesmas Lojas (SSS) continue, impulsionado pela inflação dos alimentos, dinâmicas de volume afetadas pela baixa renda disponível e aumento da concorrência, enquanto a rentabilidade deve ser impactada pelos robustos planos de expansão das empresas e pelo processo de maturação das lojas”, comenta a XP.
Para o Assaí (ASAI3), a equipe da corretora vê o terceiro trimestre de maneira semelhante ao segundo, com as vendas nas mesmas lojas (SSS, na sigla em inglês) caindo por conta da dinâmica de preços. No entanto, a receita deve avançar, por conta da expansão da companhia, que adquiriu unidades do Extra.
“Esperamos um trimestre suave para o Assaí, primariamente devido às dinâmicas de deflação de alimentos, que podem resultar em uma queda de 2% nas Vendas nas Mesmas Lojas (SSS). No entanto, antecipamos um aumento de 22% ano a ano na receita total, impulsionado pelo plano de conversão e expansão”, expõe o BBA, sobre a rede de atacarejos.
No caso do Carrefour, a XP Investimentos prevê um terceiro trimestre desfavorável. Além da deflação alimentar e da integração do BIG, que devem impactar negativamente as receitas, as vendas consolidadas, segundo eles, podem cair 5% em comparação anual, com desempenho negativo tanto no Atacadão quanto no varejo Carrefour devido ao aumento da concorrência.
Neste ano, a concorrência passou a ser uma questão para os dois atacarejos, que atuam principalmente na região Sudeste. Especialistas apontam desde o início de 2023 que as vendas poderiam ser impactadas por uma espécie de “canibalismo”.
O Grupo Mateus (GMAT3), por outro lado, vem aparecendo como favorito – e justamente porque tem menor exposição a essa região, com suas unidades concentradas no Norte e no Nordeste.
“Esperamos um trimestre relativamente positivo marcado por tendências consistentes na receita principal. O crescimento de 5% nas vendas nas mesmas lojas (SSS) e a abertura de 7 lojas no trimestre devem contribuir para uma alta de 18% no faturamento na base anual”, diz o BBA.
O aumento de lojas de atacarejo, no entanto, deve causar a diminuição de 40 pontos-base (bp) na margem bruta na base anual, para 21,8%, já que esse modelo, normalmente, tem margens menores.
“Embora ganhos de eficiência e a maturação da nova rota logística sejam esperados, eles podem não ser suficientes para compensar completamente o crescimento das despesas. Como resultado, esperamos uma pressão de 70 pontos-base na margem Ebitda, para 6,4%”, concluem.