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Um ambiente para os bancos pior do que o previsto no início do ano. É assim que alguns analistas descrevem o pano de fundo vivenciado pelas instituições financeiras ao longo do segundo trimestre de 2022. Prestes a divulgar resultados referentes ao período, Santander Brasil (SANB11), Bradesco (BBDC4), Itaú (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3) não devem escapar da deterioração da qualidade do crédito.
A escalada da inflação não só corroeu o poder de compra do brasileiro como diminuiu sua capacidade de pagar por seus empréstimos. Segundo indicador da Serasa Experian, o número de inadimplentes bateu recorde no último mês de maio e chegou a 66,6 milhões. Do total, 28,2% foi negativado no segmento de bancos e cartões.
Além de um maior volume de empréstimos não pagos, os balanços dos “bancões” também devem apresentar provisões maiores para créditos inadimplentes. “Acreditamos que empréstimos sem garantias ao consumidor e cartões de crédito vão continuar sob pressão, com a inflação alta e o endividamento das famílias”, escreveu a equipe de análise do JP Morgan.
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Por outro lado, os analistas acreditam que as instituições financeiras podem ter apresentado uma expansão de margens entre abril e junho deste ano. “Os bancos continuam a crescer em segmentos de maior risco, em que conseguem spreads maiores”, afirmam os analistas do Bradesco BBI. A análise da XP também é de melhora na margem financeira bruta das empresas, com o crédito mais caro, em decorrência da elevação de juros. “Destaque para as linhas relacionadas ao consumo e agronegócio”, diz o relatório.
Pelos cálculos do JP Morgan, a receita líquida de juros (NII, na sigla em inglês) dos bancos brasileiros avançou 11% no segundo trimestre na comparação com um ano antes. Já as provisões para empréstimos inadimplentes teve uma alta de 40%. A qualidade do resultado vai depender de quem ganhar essa quebra de braço entre forças antagônicas.
A economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, explica que os índices de cobertura dos bancos, que medem a capacidade da instituição em honrar suas despesas, foram sendo consumidos pelo avanço dos empréstimos não performados (NPL, na sigla em inglês). “A expectativa hoje é de uma deterioração da qualidade de crédito acima da média histórica nos próximos trimestres, por conta do aperto monetário e um cenário de menor liquidez disponível”, afirma.
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Neste sentido, a economista acredita que os bancos mais expostos a linhas de crédito mais arriscadas no varejo devem sentir maiores efeitos, tanto de desaceleração do crédito quanto de inadimplência. Por outro lado, quanto maior o risco, maior é o spread e maior tende a ser rentabilidade da linha.
Veja a seguir o que esperar dos resultados dos “bancões” do Ibovespa no segundo trimestre e quais podem ter enfrentado melhor esse cenário atribulado.
Itaú (ITUB4)
Na avaliação do Bradesco BBI, o Itaú deverá apresentar os melhores resultados entre os bancos de maior porte. A expansão deverá ser conduzida por uma receita de juros robusta, de R$ 21,39 bilhões, 13,9% acima da registrada um ano antes. O número tem potencial para ofuscar o maior volume de provisionamento para empréstimos inadimplentes, que o BBI projeta em R$ 7,21 bilhões, 53,7% a mais que o mesmo período do ano passado.
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Os analistas também calculam que o banco deve apresentar retorno sobre patrimônio líquido (ROE) de 20,4%, estável em relação ao primeiro trimestre e superior aos 18,9% registrado um ano antes. Por fim, o BBI espera que o Itaú apresente lucro líquido de R$ 7,5 bilhões no período.
Na avaliação do JP Morgan, o Itaú tem sido um dos bancos mais “proativos” em termos de transformação de seu modelo de negócios para lidar com um ambiente mais desafiador. Os analistas destacam redução de custos, aquisições oportunas, melhorias de seu canal digital e uma redução de risco do seu portfólio de empréstimos. O JP Morgan espera por um retorno sobre patrimônio líquido robusto assim como sua receita com juros (projetada em R$ 21,6 bilhões), que, na avaliação dos analistas, deve ser levada mais em conta pelos investidores do que o aumento de provisões (estimado em R$ 6,5 bilhões pelo banco).
O Itaú divulgará os resultados do segundo trimestre no dia 9 de agosto. De acordo com a Refinitiv, a média de preço-alvo para ITUB4 é de R$ 30, com recomendação de compra de dez das 16 casas que cobrem o papel.
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Banco do Brasil (BBAS3)
É o preferido do Itaú BBA entre os “bancões” que acompanha. Na avaliação dos analistas da casa, o Banco do Brasil tem conseguido equilibrar ventos contrários, com um braço sólido de crédito corporativo e receitas que crescem de forma acelerada.
O BBA projeta crescimento de lucro de 33% (R$ 6,748 bilhões) para a instituição financeira no segundo trimestre, comparando com um ano antes. As receitas com juros (NII) devem ficar em R$ 16,4 bilhões, ao passo que as provisões para empréstimos inadimplentes devem ficar em R$ 3,09 bilhões, projeta o BBI. A casa também prevê ROE de 17,2% e lucro de R$ 6,682, 33% a mais que no ano anterior.
O Bradesco BBI projeta lucro de R$ 6,5 bilhões para o Banco do Brasil no segundo trimestre, uma queda de 1,9% na comparação com o trimestre imediatamente anterior, “o que pode ser uma surpresa positiva”, segundo a equipe de análise. A casa avalia que, nos resultados, margens mais fortes poderão compensar um aumento de provisões. O ROE projetado é de 17,1%, ante 18,1% no primeiro trimestre e 14,4% no mesmo período do ano passado. Nos cálculos do BBI, a receita com juros do BB deve crescer 4,1% na comparação anual.
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“A maior reprecificação de ativos e mix de crédito devem começar a mais do que compensar a pressão dos custos de financiamento”, afirmam os analistas da casa. Por outro lado, o BBI vê um aumento de 13,4% em despesas com provisões, refletindo a deterioração da qualidade de crédito no período.
Na avaliação do JP Morgan, o Banco do Brasil tem a seu favor a grande penetração geográfica e sua exposição ao meio rural, onde se concentram 29% dos empréstimos da instituição financeira. A equipe de análise prevê receita líquida com juros de R$ 15,72 bilhões e provisões da ordem de R$ 3,8 bilhões.
O Banco do Brasil divulgará os resultados do segundo trimestre no dia 10 de agosto. De acordo com a Refinitiv, a média de preço-alvo para BBAS3 é de R$ 47, com recomendação de compra de 14 das 15 casas que cobrem o papel.
Bradesco (BBDC4)
Na avaliação do Itaú BBA, o Bradesco poderá ver alguma desaceleração no volume de empréstimos inadimplentes (NPL, na sigla em inglês) do varejo, em relação ao trimestre imediatamente anterior, compensando uma pressão negativa do crédito para pequenas e médias empresas.
A casa acredita que o banco deve apresentar lucro praticamente estável em relação a um ano antes, de R$ 6,748 bilhões. A previsão para receita com intermediação financeira (NII) é de crescimento de 9%, na comparação anual, para R$ 17,042 bilhões. O ROE previsto pelo BBA para Bradesco é de 17,5%, ante 17,04% um ano antes.
“Gostamos do fato de que o Bradesco tem uma franquia bancária com posição de liderança, assim como sua diversidade de produtos e de distribuição. O banco opera o maior negócio de seguros do Brasil, e que corresponde a aproximadamente 30% de seus ganhos”, avalia o JP Morgan, destacando também o crescimento das margens da companhia. O banco prevê receita líquida de R$ 28,03 bilhões para o Bradesco no segundo trimestre, sendo R$ 17,05 bilhões advinda de juros. As provisões para empréstimos inadimplentes devem crescer para R$ 5,2 bilhões.
O Bradesco divulgará os resultados do segundo trimestre no dia 4 de agosto. De acordo com a Refinitiv, a média de preço-alvo para BBDC4 é de R$ 24, com recomendação de compra de 12 das 16 casas que cobrem o papel.
Santander Brasil (SANB11)
Para o Bradesco BBI, os resultados do Santander Brasil no segundo trimestre devem refletir aumento de provisões e de despesas operacionais. A casa projeta receita líquida recorrente de R$ 4,25 bilhões, o que representa um aumento de 6,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior e de 1,9% na comparação com o mesmo período do ano passado. O retorno sobre patrimônio líquido (ROE) deve ficar em 21,6%, estável na comparação anual. As receitas com juros (NII) devem avançar para R$ 14,2 bilhões, ante R$ 13,93 bilhões no primeiro trimestre e R$ 13,42 bilhões um ano antes.
“Esperamos que essas receitas com juros continuem se beneficiando com o mix de crédito e custos de financiamento mais baixos. Por outro lado, os ganhos de tesouraria devem piorar, com a alta dos juros no trimestre”, dizem os analistas do BBA.
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Mas a casa também vê riscos baixistas em Santander Brasil, prevendo que os empréstimos inadimplentes assumam uma fatia maior (de 3,1%) no portfólio de crédito do banco. Pelos cálculos do BBA, as provisões para cobrir esse tipo de empréstimo deve aumentar para R$ 4,749 bilhões. “Como resultado, o Santander Brasil provavelmente reportará
uma ligeira contração nos lucros sequencialmente”, escreveram os analistas.
As projeções do Itaú BBA para Santander são piores. A casa prevê queda de 13% no lucro do banco, para R$ 3,608 bilhões e um recuo de 320 pontos-base no ROE, na comparação anual, para 18,4%. No cálculo dos analistas, as provisões do banco devem chegar a R$ 5,37 bilhões, um aumento de 62% em relação ao mesmo trimestre de 2021. “É o nosso principal nome para se evitar, entre os bancos”, declara o BBA.
Já o JP Morgan vê provisionamento praticamente estável na comparação com o primeiro trimestre, de R$ 4,617 bilhões. Nos cálculos do banco, a receita com juros e a receita líquida do Santander Brasil devem crescer, respectivamente, para R$ 14,6 bilhões e R$ 19,619 bilhões. Mesmo sendo mais otimista que o BBA em relação ao banco, o JP Morgan é neutro em relação a SANB11.
“O impulso operacional melhorou com melhores receitas de juros (impulsionadas pela aceleração do crescimento dos empréstimos), taxas e valores de qualidade de ativos. Assim, vemos uma melhora significativa nas métricas operacionais e ROEs. No entanto, a avaliação não é atraente, em nossa opinião, e vemos maiores incertezas em macro e perspectivas políticas do Brasil”, escreveram os analistas.
O Santander Brasil divulgará os resultados do segundo trimestre no dia 28 de julho. De acordo com a Refinitiv, a média de preço-alvo para SANB11 é de R$ 37, com recomendação neutra de 10 das 15 casas que cobrem o papel. Três recomendam compra e duas, a venda.
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