Resultado do Goldman Sachs destoa dos números positivos de bancões em Wall Street e ações caem

Receita do Goldman teve queda anual de 5% no trimestre, a US$ 12,22 bilhões, abaixo do esperado; BofA e BNY Mellon também divulgam seus números

Mitchel Diniz

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As ações dos “bancões” dos Estados Unidos reagem a mais uma leva de resultados do primeiro trimestre de 2023. Os números divulgados nesta terça-feira (18) mostraram mais uma vez que as receitas das instituições financeiras com juros estão sendo impulsionadas pelo ciclo de aperto monetário promovido pelo Federal Reserve. Os lucros dos bancos estão superando as projeções do mercado, mas também há exceções.

O Goldman Sachs ficou para trás em relação a seus pares na atual temporada e está sendo chamado por analistas de “ponto fora da curva”. O lucro do banco caiu 19,3% na comparação com o primeiro trimestre de 2022, para US$ 3,09 bilhões. A queda na linha final do balanço já era esperada e ainda foi mais amena do que a prevista pelo mercado.

A receita líquida do trimestre, por sua vez, caiu 5%, para US$ 12,22 bilhões, ficando abaixo das estimativas (de US$ 12,76 bilhões, segundo consenso da FactSet). Com isso, as ações do Goldman fecharam em baixa de 1,7%, a US$ 333,91, na Bolsa de Nova York.

Um dos maiores bancos de investimento de Wall Street foi impactado pela desaceleração de transações corporativas e receitas de trading mais fracas (que recuaram 7%, para US$ 3,02 bilhões). O Goldman Sachs comentou ainda que houve declínio significativo em operações de fusões e aquisições, o que provocou uma queda de 26% na receita com banco de investimento, para US$ 1,58 bilhão.

Ao contrário de seus principais concorrentes, cujas atividades são mais diversificadas, o Goldman Sachs obtém a maior parte de suas receitas de operações de tesouraria e de banco de investimentos. Como a janela de oportunidades em Wall Street segue estreita, o resultado diminui.

A consultoria internacional Dealogic estima que, no primeiro trimestre de 2023, a atividade global de fusões e aquisições tenha chegado ao seu nível mais baixo em mais de uma década.

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Além disso, o banco não conseguiu ter o mesmo desempenho de receita relacionado à renda fixa como os demais – essa linha do balanço, inclusive, recuou 17% em bases anuais, para um valor abaixo das projeções do mercado (US$ 3,93 bilhões).

Com as receitas de trading e banco de investimentos bem abaixo da performance de um ano atrás, o Goldman Sachs não teve por onde gerar crescimento de receita.

No trimestre, a receita também foi impactada por uma perda de cerca de US$ 470 milhões relacionada à venda da carteira de empréstimos do Marcus, banco digital de varejo do Goldman.

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Desde que estreou, em 2020, a unidade perdeu mais de US$ 3 bilhões.

Por outro lado, o balanço trimestral do banco foi impactado positivamente pela liberação de US$ 440 milhões que estavam provisionados para cobrir empréstimos inadimplentes.

O Bank of America também divulgou seus resultados nesta terça, com um faturamento de US$ 26,39 bilhões no 1T23, acima dos US$ 25,13 bilhões esperados. O lucro por ação foi de US$ 0,94, acima dos US$ 0,82 esperados.

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O Bank of New York Mellon também teve resultado acima do esperado pelo mercado para o primeiro trimestre, beneficiando-se da alta dos juros pelo Federal Reserve que impulsionou a receita da instituição. Em uma base ajustada, o BNY teve lucro de US$ 1,13 por ação ante expectativa de analistas de US$ 1,12, segundo dados da Refinitiv.

Os ativos do BofA subiram no pré-market após o balanço, mas também passou a registrar perdas, de cerca de 1%, enquanto o BNY Mellon avançava cerca de 1%.

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“A temporada de resultados das empresas americanas do 1T23 começou com algumas surpresas positivas. (…) A questão posta pelo mercado é como a turbulência financeira de março afetou os resultados. Relembrando, o Silicon Valley Bank sofreu uma intervenção e foi vendido, ao passo que o SilverGate e o Signature Bank faliram e o First Republic Bank teve de ser socorrido pelos gigantes. Do outro lado do Atlântico, o Credit Suisse foi unido à força ao arquirrival UBS. Porém, os números até agora mostram que os grandes bancos foram beneficiados. Na dúvida, os clientes correram para instituições financeiras maiores, consideradas mais seguras”, destaca a Levante.

Na sexta-feira (14), o JP Morgan Chase superou as expectativas do mercado e divulgou um lucro por ação de US$ 4,32, 26,7% acima da expectativa, que era de US$ 3,41. O faturamento foi de US$ 39,34 bilhões, alta de 25% ante o trimestre anterior. Mais do que isso, o banco alterou o “guidance” de lucro para 2023, elevando a estimativa para US$ 81 bilhões, um aumento de US$ 7 bilhões (ou 8,6%) ante a estimativa anterior.

“Com certeza, vários bancos e empresas de menor porte deverão sofrer. No entanto, as grandes corporações, capazes de manter a economia em movimento, vão bem. O que garante um porto seguro para os investidores esperarem a recuperação total da economia”, complementa a Levante.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados