Margem pressiona e BrasilAgro (AGRO3) vê lucro cair para R$ 42 milhões no 1º tri da safra 2022/23 

Resultado líquido foi 61% menor do que o registrado em igual período do ano passado e reflete mudança na estratégia de negociação de grãos 

Rikardy Tooge

Fazenda São José, da BrasilAgro, localizada no Maranhão (Divulgação)
Fazenda São José, da BrasilAgro, localizada no Maranhão (Divulgação)

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A BrasilAgro (AGRO3), empresa que atua na produção de grãos e na compra e venda de terras agrícolas, registrou lucro líquido de R$ 42 milhões no primeiro trimestre da safra 2022/23, período que compreende os meses de julho a setembro. O resultado foi 61% menor do que o reportado em igual período da safra anterior, quando a companhia lucrou R$ 107,9 milhões.

O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado foi de R$ 107,1 milhões, com queda de 52% no mesmo comparativo. A receita líquida somou R$ 299,8 milhões, ante R$ 378,1 milhões de igual período do ano passado (-21%). A empresa destaca que o primeiro trimestre do ano fiscal concentra cerca de 30% de seu faturamento anual.

A grande pressão sobre as margens líquidas, que recuaram de 21% para 13%, ajuda a explicar o resultado. Outro fator foi a estratégia da empresa de acelerar as vendas de soja – carro-chefe da empresa – para o último terço do ano safra 2021/22. Segundo a companhia, a negociação do grão foi 68% maior naquele trimestre do que em anos anteriores.

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“Historicamente, nós vendemos cerca de 60% da soja no primeiro semestre [do ano civil] e o restante no segundo semestre. Como os preços estavam muito atrativos, decidimos vender mais cedo que o habitual, deixando uma quantidade pequena para este trimestre”, explica André Guillaumon, CEO da BrasilAgro, ao InfoMoney.

O executivo reforça que a estratégia de “antecipar lucro” fazia sentido e garantiu à empresa o melhor resultado líquido de sua história, de R$ 520 milhões na safra 2021/22. Guillaumon argumenta ainda que a base de comparação estava muito esticada, uma vez que as condições encontradas no ano passado são raras de ocorrer no setor.

“Nós vivemos uma situação ‘mágica’ na safra passada. Nossos custos estavam muito baixos e os preços das commodities em níveis históricos. Foi uma combinação explosiva de eficiência e oportunidade. Tanto é que nossos números de produção estão muito parecidos [com o do ano passado]”, afirma o executivo.

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Pressão de fertilizantes e cana

A principal diferença apontada entre o primeiro trimestre de 2021/22 para este foi o custo de produção. Já estava no radar dos agricultores que a temporada 2022/23 exigiria gastos mais robustos.

O principal entrave foi a crise de abastecimento de fertilizantes durante as compras para o ciclo por conta da invasão da Ucrânia pela Rússia. O preço da tonelada dos adubos passou dos US$ 1.000 em alguns casos, enquanto o habitual seria um valor em torno de US$ 700.

“Agora estamos vendo uma readequação de preços dos adubos a esses patamares, e isso pode ser positivo para nossa safra 2023/24”, avalia Gustavo Javier Lopez, diretor financeiro e de relação com os investidores da BrasilAgro.

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Já um reajuste que foi negativo para a companhia foi o do valor pago pela cana-de-açúcar. Se no ano passado, o produto garantiu margens expressivas, o mesmo não ocorreu neste ano.

A mudança do ICMS sobre o preço da gasolina tirou a competitividade do etanol e fez o valor pago pela tonelada de açúcar total recuperável (ATR, o índice utilizado pelo mercado) cair por volta de R$ 25. “Só nesta diferença, podemos estimar um recuo de R$ 50 milhões de receita”, reforça Lopez.

Até o momento, a BrasilAgro já negociou 55% da produção de soja da safra 2022/23, a um câmbio médio de R$ 5,37. Já 50% da colheita de algodão foi negociada e 25% da produção de milho foi vendida. Enquanto isso, 46% da cana – produto este que é negociado no mercado interno a uma média de R$ 159 por tonelada de ATR – já está comercializada.

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Venda no Paraguai

Do lado positivo, a companhia reportou nesta terça-feira (8) a venda de 863 hectares de terra da Fazenda Morotí, localizada no Paraguai. A transação rendeu US$ 1,7 mil por hectare, ou US$ 1,5 milhão (cerca de R$ 8 milhões na cotação atual) para a companhia – o valor será contabilizado nos balanços futuros.

A cifra é pequena ao considerar que a empresa negociou quase R$ 600 milhões em terras no ano passado, mas André Guillaumon aponta que a negociação é emblemática para estratégia da BrasilAgro. “Foi a nossa primeira venda fora do país, isso ajuda a destravar valor dessa operação e indica ao mercado que temos poder de negociação também fora do Brasil”, diz o CEO.

André Guillaumon, presidente da BrasilAgro (Divulgação)
André Guillaumon: “venda de terra no Paraguai tem potencial para destravar valor” (Divulgação)

Comprada em 2013, a propriedade tem 59,6 mil hectares (sendo 34 mil agricultáveis) e foi adquirida a um preço médio de US$ 314 por hectare, ou US$ 18,7 milhões. Somente na venda anunciada nesta terça, a companhia conseguiu elevar o valor por hectare em US$ 1,4 mil, o que rendeu uma Taxa Interna de Retorno Esperada (TIR) de 27,9% em dólares e 42,2% em reais.

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Além da propriedade no Paraguai, a BrasilAgro possui terras na Bolívia e em sete estados brasileiros (Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Piauí).

Dividendos

Por fim, a companhia confirmou a data de pagamento de seu último dividendo do ano fiscal 2021/22 para o dia 16 de novembro. Serão distribuídos R$ 320 milhões aos acionistas, rendendo R$ 3,24 por ação, com dividend yeld de cerca de 19%.

Nesta terça-feira, as ações da BrasilAgro recuaram 4,34%, a R$ 29,22. Porém, no ano, o papel apresenta valorização de 19,8%.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br