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SÃO PAULO – Já em meados dos anos 2000 e já um dos homens mais ricos do mundo, Eike Batista resolveu entrar no “melhor negócio do mundo”, como ele mesmo destacou em sua biografia: petróleo. Nascia assim a OGX Petróleo (OGXP3), o projeto mais importante da história do empresário – e que o tornou conhecido, de vez, pelo público. Público esse que abraçou a OGX com força: é uma das empresas mais populares na bolsa, com 51 mil minoritários pessoas físicas.
Assim como os Rockfeller, Eike também queria ser um “barão do petróleo”. E a mídia já o chamava disso, mesmo antes de extrair uma única gota do ouro negro. Com isso em mente, a OGX foi formada rapidamente em junho de 2007, para disputar a nona rodada de licitações da ANP, com um capital inicial de US$ 1,3 bilhão, que veio diretamente do bolso de Eike e de outros investidores qualificados, como o Ontario Teacher’s Pension Plan.
Rodolfo Landim, chamado de braço-direito do megaempresário, comandou a estruturação: trouxe executivos principalmente da Petrobras, para formar uma miniatura da estatal no Brasil – que almejava crescer tanto a ponto de se tornar a maior petrolífera do Brasil. Assim, ela abriu o capital em abril de 2008, se tornando a maior de todas as captações de Eike na bolsa aparecia, levantando R$ 6,71 bilhões – o maior IPO da Bovespa até então -, com 63,46% de toda a quantia vindo de investidores estrangeiros.
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Nasceu a mini-Petrobras
Dono de uma “mini-Vale”, a MMX Mineração (MMXM3), Eike agora podia dizer que era dono de uma “mini-Petrobras”. Com uma diferença: enquanto a Petrobras produzia 2,5 milhões de barris de petróleo por dia, a OGX, até então, não tinha tirado uma única gota do “ouro negro” da terra ou do mar. Era, até então, um projeto, uma mera apresentação de Power Point e um sonho na cabeça do seu controlador.
Um sonho agressivo, já que em 2019 a expectativa era produzir 1,05 bilhão de barris de petróleo, cerca de 2,89 milhões de barris por dia, sem contar a produção de gás natural – que também não era desprezível. A companhia demoraria 11 anos para conseguir superar a produção da Petrobras, então com 55 anos de história.
E isso só contando os projetos presentes no prospecto – muitos outros viriam, já que a companhia certamente arremataria mais concessões nas rodadas de licitação da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Bicombustíveis), extraindo ainda mais riquezas do solo. Assim, a “mini-Petrobras” de Eike Batista tinha um objetivo só: ser uma petrolífera eficiente em um país que contava com uma gigante estatal, que Eike tinha para si como uma empresa ineficaz economicamente.
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Para Eike, a história poderia ficar ainda melhor, já que nenhum poço que a OGX exploraria era da região do pré-sal – ou seja, eram poços de “tecnologia simples” e custo de extração baixo. No inicio das operações, havia um certo ceticismo do mercado, com alguns dos principais bancos e corretoras mostrando dúvidas sobre as operações da companhia e os enormes riscos que montar uma petrolífera obteria.
Mas havia sempre um otimismo velado por parte de vários investidores, por parte de todos: uma petrolífera novata em um País que prometia se tornar uma nova Árabia Saudita era algo que provavelmente não daria errado. E os investidores embarcavam juntos com Eike: ao longo dos primeiros anos, Eike conseguia facilmente o apoio de outros investidores se tentasse e, por muito tempo, conseguiu emitir títulos de dívida para suas empresas quando precisava de financiamento – conseguindo mais dinheiro para tocar seus projetos, embora endividando as companhias. Através dessa euforia, o mercado sinalizava, nesse período, confiança total que Eike Batista conseguiria tirar seus projetos do papel.
Melhor momento da carreira empresarial
Com isso, o megaempresário vivia agora o melhor momento da sua vida empresarial, seu nome e seu passado na TVX (que teve uma história de sucesso, mas com ressalvas) permitiram que Eike tivesse uma excelente entrada no mercado acionário algo que ele mesmo compreendeu em sua biografia. “Havia um crédito muito farto à minha espera e eu não me refiro a recursos financeiros, mas a uma boa vontade e uma disposição para ouvir o que eu tinha a apresentar”, afirmou, em livro que foi lançado em 2011, quando Eike ainda era tratado como um empreendedor infalível.
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Vendedor nato (que havia trabalhado como vendedor de apólices de seguros), Eike conseguiu capitalizar em cima desse talento: foi, talvez, o melhor “vendedor” de sonhos que a bolsa nacional já teve, tanto para os próprios brasileiros quanto para os estrangeiros. Ele nunca gostou da pecha de “vendedor de sonhos”. “Meus sócios não são loucos, não rasgam dinheiro com sonhos”, disse, publicamente.
Os comandantes do navio
Para comandar a empresa, Eike trouxe nomes de peso de outras empresas. Isso começava pelo seu co-fundador e primeiro presidente, Luiz Rodolfo Landim, que tinha tido uma carreira de 26 anos na Petrobras, chegando a ser CEO (Chief Executive Officer) da Petrobras Distribuidora. Na diretoria de Exploração e Produção, Paulo Mendonça, com bagagem de 30 anos na Petrobras, A julgar pelo que a OGX dizia, ele era bom no que fazia: a companhia destacava que ele havia sido responsável por encontrar 9 bilhões de barris de petróleo nos anos anteriores à sua ida para a OGX.
No corpo técnico da OGX, Mendonça era uma espécie de queridinho de Eike, que destacou que ele era “diferenciado, fora da curva”, em sua biografia. Além disso, no conselho de administração, destaque para Francisco Gros, que havia sido presidente da petrolífera entre 2002 e 2003. Principal executivo do grupo, Landim foi um nome especialmente importante. Além da MMX e da OGX, ele também co-fundou a OSX e novamente assumiu como primeiro diretor-presidente da companhia.
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Com um corpo técnico contratado a peso de ouro e motivado com gordos planos de opções sobre ações, havia quem acreditasse que as empresas de Eike teriam caminho fácil para sucesso. A vontade de ganhar dinheiro, que atraiu muitos investidores, também foi o principal motivo que trouxe vários desses executivos. Na época em que deixou a BR Distribuidora, Landim, descrito por muitos como uma máquina incansável, era um dos principais executivos da Petrobras e gozava de prestígio até mesmo com a futura presidenta Dilma Rousseff, que havia sido ministra de Minas e Energia. E o fez, provavelmente, por achar que conseguiria mais dinheiro no setor privado. E ganhou.
Landim, o braço direito
Muito do que se tornou o grupo EBX na bolsa de valores se deve à Landim. Ele e Eike começaram sua parceria em 2006, em um voo para os Estados Unidos – quando Landim contou de seu projeto de criar uma “mini-Petrobras”, aproveitando-se dos frequentes leilões de concessões que a ANP vinha promovendo. No ato, Eike chamou Landim para trabalhar no grupo – e, em pouquíssimo tempo, ele já era o principal executivo do grupo.
Outra parte importante da história também aconteceu também em um avião. Em 2006, Landim e Eike voltavam de Londres, onde os dois haviam participado de um roadshow, isto é, uma reunião com investidores para apresentar a empresa. Eike, empolgado, escreveu um bilhete para Landim, onde prometia fundos e mundos para seu braço direito: “Gostaria de convidá-lo a fazer parte da minha holding; como cavaleiro da ‘távola do sol eterno’, fiel guerreiro e escudeiro, um grande amigo! Ao invés de uma bela espada, você receberá 1% da holding mais 0,5% das minhas ações da MMX”. Uma promessa e tanto.
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Mas quando a fase de estruturação do grupo estava para terminar, com quase todas as empresas já em bolsa, Eike e Landim começaram a se desentender. Isso ocorreu em 2009, quando as ações despencavam na Bovespa, fruto da crise de 2008. Eike resolveu culpar um “desalinhamento” entre riscos do investidor e a política de ganhos dos principais funcionários das companhias, praticamente pedindo, de forma indireta, que os executivos abrissem mão de suas ações. Isso provocou a ira em muita gente dentro do EBX, fazendo com que vários nomes de peso saíssem do grupo.
Landim ficou mais algum tempo, mas saiu do grupo no final de abril de 2010. Eike fez questão de dizer publicamente quanto Landim ganhou durante o período em que trabalhou para o EBX, nos mínimos detalhes: R$ 165.628.144, já descontados os bônus cancelados por “resultados ruins”. Não foi uma boa despedida para Eike e Landim resolveu acioná-lo na justiça por não cumprir com a promessa feita no bilhete.
Na corte, a defesa de Eike assumiu que o bilhete havia sido apenas um “devaneio” do megaempresário, argumento vitorioso em primeira instância – embora a disputa ainda esteja tramitando. Capitalizado, Landim resolveu montar sua própria petrolífera, a Ouro Preto, que, ironicamente, pode vir a assumir algumas concessões que a OGX ganhou e posteriormente desistiu.
A primeira queda ninguém esquece
Mesmo com toda a euforia gerada pelo projeto houve uma forte queda das ações nos meses posteriores à abertura de capital da OGX, que levou o ativo a recuar dos R$ 13,80 para R$ 2,50 – pouco mais de 80% de queda, em preços ajustados. Depois de uma leve recuperação nos últimos dois meses daquele ano, a ação da petrolífera terminou 2008 com queda acumulada de 60,89%.
Era a primeira queda extraordinária de alguma ação Eike Batista na Bovespa. Nesse momento, era o ambiente econômico que ditava a queda: a bolsa, como um todo, estava experimentando quedas. Era o auge da crise do subprime, que havia começado a minar a confiança dos investidores no desenvolvimento da economia mundial, fazendo-os fugirem das aplicações mais arriscadas. MPX e MMX também sofreram do mesmo destino: a primeira viu as ações caírem 86,39% em 2008, ao passo que a segunda recuou 86,22%.
A agonia de Eike na Bovespa, daquela vez, foi bastante curta – não foi refletida no ranking anual da Forbes de 2009, que foi divulgado quando as ações do megaempresário já haviam se recuperado ou iniciado o processo de recuperação. Nessa época, as ações ainda eram restritas à poucos investidores. Para vender parte de suas empresas apenas aos “qualificados”, todas as empresas de Eike viram suas ações estrearem na bolsa valendo centenas de reais, fazendo com que o investidor tivesse que desembolsar uma quantidade muito grande de dinheiro para comprar 100 ações dessas empresas, o lote em que ações são, usualmente, negociadas.
Com isso, a OGX oscilou entre R$ 250 até R$ 1.700 nos dois primeiros anos, sendo necessários entre R$ 25 mil e R$ 170 mil para comprar um único lote de ações. A baixa liquidez impedia que pessoas físicas comprassem ações individuais, já que não havia praticamente ninguém negociando ações fora de um lote de 100 – e quando estes faziam, vendiam com um preço fora do “normal”.
A empresa, porém, aprovou um desdobramento de ações algum tempo depois – que foi o que permitiu que as pessoas físicas começassem a investir nessas empresas. A OGX decidiu transformar uma única ação da empresa em 100 no dia 18 de dezembro de 2009. As ações, que no dia anterior valiam R$ 1.580, passaram a valer R$ 15,80 – mas cada investidor que as detinham agora possuíam outras 99, fazendo com que o valor total da posição de cada acionista permanecesse o mesmo.
Diversas empresas realizam esse tipo de operação – ou o seu oposto, um grupamento -, geralmente para manter os preços em uma faixa de preço tida como “atrativa”. A Petrobras, por exemplo, fez dois desdobramentos em 2005 e 2008 depois que fortes valorizações a tornaram”inacessível” para o pequeno investidor da bolsa. Os desdobramentos serviram para atrair esse tipo de investidor novamente – e facilitar as negociações com esse papel.
Início das operações
O início efetivo das operações foi bom. Com muito dinheiro e uma boa equipe técnica, houve um grande sucesso na rodada de concessões disputada: na abertura de capital a OGX já era a maior empresa privada em termos de área marítima de exploração no Brasil, com 21 concessões – operando 14 delas. O próprio prospecto falava que a companhia já tinha identificado cerca de 20 bilhões de barris de óleo equivalente (em petróleo ou gás natural) em estimativas médias.
E mais: a companhia detinha algumas áreas de concessões com risco baixo para o investidor, que já haviam sido previamente exploradas, e destacava que a equipe exploratória da OGX, era muito boa, com uma taxa de sucesso de 53% quando trabalhou na Petrobras, o dobro da média nacional. Eike, onde quer que fosse, não perdia a oportunidade de ressaltar sua extrema confiança em gerar valor para os minoritários da petrolífera.
Nesta época, o mercado acreditava em um fabuloso sucesso para a petrolífera de Eike Batista. “Tudo isso permite antever um dos maiores êxitos de que sem notícia no mundo de negócios”, escreveu em sua biografia. Errou: a petrolífera fundada por ele, na verdade, se tornou o epicentro da queda do empresário, a parte mais triste desta história. Mas ninguém pode acusar de falta de otimismo.
OGX: o bilhete de loteria
Para os investidores, encontrar petróleo era uma questão de tempo – e também um tiquete de loteria sem tamanhos. Havia já na época da abertura de capital a percepção de que seria a OGX a empresa que transformaria Eike no homem mais rico do mundo, enriquecendo muita gente junto com ele.
Mesmo com os riscos bem delineados no prospecto, havia uma euforia que acompanhava Eike conforme o investidor “escalava” o ranking de bilionários da Forbes – todos queriam estar do lado do ídolo, que passava a chamar cada vez mais atenção. E esta euforia era inflada “oficialmente” pela própria companhia, que durante sua campanha exploratória soltou 105 comunicados ao mercado detalhando cada avanço em cada poço, muitos deles com um nada leve tom de ufanismo e euforia.
Eram comunicados que detalhavam cada nova informação sobre os poços e, via de regra, tinham o poder de fazer as ações responderem bem na Bovespa. Se a própria companhia se declarava otimista, Eike era talvez a figura que melhor personificava isso. O seu otimismo era claro e facilmente percebível por suas cada vez mais frequentes aparições na mídia. “A história do petróleo brasileiro vale US$ 1 trilhão. E está logo embaixo do nosso nariz”, disse Eike a um programa da TV norte-americana chamado “60 seconds”.
Para o Brasil, Eike via um futuro glorioso. “Em oito anos estaremos produzindo 6 milhões de barris de petróleo por dia, o que nos tornará o terceiro ou quarto maior produtor do mundo”, afirmou nesta mesma entrevista. A OGX, garantia ele, seria uma gigante nesse futuro: aproveitaria a abundância de petróleo no Brasil e se tornaria uma Petrobras “eficiente”, capaz de ser responsável por um terço da produção nacional no término desse período, produzindo cerca de 2 milhões de barris.
Nessa época, Eike já chamava a OGX de “sucesso” publicamente, mesmo não tendo extraído uma única gota de petróleo do oceano. Muito do otimismo vinha de seu corpo executivo, que era chamado de “Dream Team” por Eike. Vindos da Petrobras, muitos executivos eram técnicos excelentes – mas que tinham medo de confrontar o “chefe”, que demandava notícias boas com frequência e se irritava com as antigas.
Paulo Mendonça: o otimista ou o bode espiatório?
Talvez o executivo que melhor exemplificou esse otimismo que contaminava a OGX foi o próprio Paulo Mendonça, que chegou a ser diretor-presidente da companhia, com as saídas de Francisco Gros e Rodolfo Landim do cargo e do grupo. Em 2013, mais de um ano depois da saída do executivo da empresa, a OGX mandou um comunicado à CVM dizendo que diversas declarações de Eike a respeito das reservas tinham sido feitas por acreditar em informações dadas por Mendonça.
Encontrava-se assim, um bode expiatório para o excesso de otimismo. Tirando Eike, Mendonça talvez tenha sido a grande face do otimismo da OGX publicamente, por um período. Já como presidente da companhia, chegou a afirmar em entrevista ao portal Exame.com, em que a petrolífera era a mais certeira do mundo – e que o sucesso era só uma questão de tempo. E assumiu que era a fonte das perspectivas de sucesso. “O otimismo do Eike não é dele. Nós é que passamos. Eu não estou otimista com esse projeto, estou encantado. Eu levo o Eike a ser entusiasta porque acredito nessa empresa”, disse o executivo na época.
A reserva de 10,8 bilhões de barris
A entrevista coincidiu com o período em que as ações despencavam em reflexo a um relatório de reservas da DeGolyer & MacNaughton, que nas palavras de Mendonça era “conservador”, e ajudou a ação a operar em alta já naquele pregão. A própria OGX disse ter uma “reserva” gigantesca de petróleo após a divulgação do relatório da D&M. E depois de receber o último relatório, em abril de 2011, a companhia declarou ter “recursos potenciais” 10,8 bilhões barris de óleo equivalente (que conta tanto petróleo quanto gás natural), o que ajudou a aumentar a confiança do mercado no projeto da petrolífera de Eike Batista.
Uma reserva de 10 bilhões de barris ao preço de US$ 80 por barril, quantia usada pela companhia, fazia com que as reservas da empresa atingissem o valor de US$ 800 bilhões – quase um trilhão de dólares, portanto. Essa, porém, era uma estimativa conservadora: o petróleo é uma commodity muito demandada e o preço, antes da crise de 2008, estava em franca ascensão com o aumento da demanda, principalmente chinesa.
Caso a pujança econômica mundial fosse retomada, muita gente no mercado acreditava que um barril poderia alcançar o valor de US$ 150 ou até mesmo US$ 200. A história era empolgante, se não fosse boa demais para ser verdade. Uma leitura mais cuidadosa do relatório de 2011 mostra que a OGX não tinha uma reserva de 10 bilhões de barris. A quantidade na verdade poderia ser muito menor: 102 milhões de barris. Os 10 bilhões só seriam alcançados com uma leitura muito otimista do relatório.
No jargão da D&M, o termo reserva só aplica para acumulações que não possuem apenas avaliações geológicas,mas também sobre a viabilidade comercial da exploração desse petróleo. Até 2011, a D&M nunca usou a palavra “reserva” em um relatório sobre a OGX. O petróleo dela, portanto, ou entrava na classificação de “recursos contingentes” ou de “recursos prospectivos”.
A primeira classificação contabilizava a maior parte dos recursos estimados pela companhia e diz respeito a reservatórios onde poços já tenham sido perfurados e tenha sido encontrado petróleo. Porém, o relatório não dá o número exato de petróleo que existe nos poços furados nessa primeira classificação, dá três estimativas: 1C, a mais conservadora, 2C a intermediária e 3C, a mais otimista. Elas variam a respeito do tamanho do reservatório: cada número significa um raio maior, a partir do poço perfurado, onde se estima haver petróleo.
No caso da projeção 1C para a exploração da OGX na Bacia de Campos – a única região onde a OGX já havia obtido resultados concretos de perfurações de poços -, os números estimados eram de apenas 102 milhões de barris, enquanto a escala 2C mostrava uma estimativa de 667 milhões e a mais otimista, 2,995 bilhões de barris, que fora escolhida para as projeções oficiais da companhia. Além do mais, a OGX ainda somou 1,3 bilhão de barris de recursos estimados em “áreas de delineação”, que ficavam próximas onde já existiam esses “recursos contingentes”, o que na prática significava que a empresa estava criando uma classificação 4C por conta própria.
Outro 1,4 bilhão de barris na classificação de “recursos prospectivos” na Bacia de Campos foram adicionados – apesar do aviso da D&M de que esses valores não poderiam ser somados pela natureza da exploração: essa classificação contabiliza as estimativas recebidas por testes sísmicos e não através de poços perfurados, o que traz um nível de incerteza muito diferenciado em relação aos próprios “recursos contingentes”.
Fora da Bacia de Campos, a companhia só havia “recursos prospectivos”: 1 bilhão de barris de óleo equivalente na Bacia de Parnaíba, onde a extração era de gás natural, 1,1 bilhão de barris na Colômbia, 1,8 bilhão de barris na Bacia de Santos, 800 milhões no Espírito Santo e 400 milhões na bacia de Pará-Maranhão, totalizando os 5,1 bilhões de barris restantes. Com isso, a OGX fechou a conta em mais de 10 bilhões de barris de óleo equivalente, que era considerado o seu “cenário base” – embora os números utilizados tenham sido os mais otimistas possíveis.
Para se ter uma noção de quão grande eram essas estimativas, o Brasil só tem uma reserva de 15,3 bilhões de barris provada até hoje, de acordo com números da BP – embora o número tenda a crescer bastante nos próximos anos. Talvez pelo nuance das reservas, o relatório da D&M não foi bem recebido pelo mercado, que penalizou as ações da OGX naquela semana – com uma queda superior à 20%.
Paulo Mendonça, na época presidente da petrolífera, usou sua entrevista na Exame.com para criticar o relatório: o chamou de “conservador” e disse que Eike chamava o documento de Benjamin Button, pois já havia nascido velho – sem contabilizar as recentes descobertas. Anos mais tarde, a companhia “esclareceria” o problema em relação aos números e estimativas: Eike havia dado declarações não baseadas nos relatórios e sim no que o seu corpo de executivos havia lhe dito na época.
O início da produção
Embora um ano atrasada – por prometer iniciar a produção em 2011 – a companhia passou algum tempo sem grande incidentes, até 2012. Nenhum evento foi tão importante em determinar que as coisas não iam bem para o grupo EBX do que o comunicado de produção de 25 junho daquele ano: ao contrário do fluxo esperado de cerca de 20 mil barris de petróleo por dia, a companhia estava produzindo apenas 10 mil – 5 mil de cada um dos poços instalados em Tubarão Azul, o que prejudicava toda a avaliação a respeito da companhia por parte do mercado.
Essa notícia foi um dos maiores eventos para a empresa desde o início: fez a ação despencar cerca de 25% no pregão seguinte, fazendo Eike despencar para a 42ª posição entre os homens mais ricos do mundo, e fez com que a empresa convocasse uma teleconferência com o mercado para tentar explicar a situação.
Nessa teleconferência, o próprio Eike junto com Paulo Mendonça, que na época já era presidente da companhia e Paulo Monteiro, que ocupava a diretoria financeira, viram afirmar que os números não prejudicavam a companhia – eram naturais. Foi esse evento que marcou a mudança. “A produtividade dos poços não está abaixo do esperado, mas precisamos injetar água para manter níveis aceitáveis”, afirmou Mendonça, lembrando de uma das técnicas que haviam sido prometidas para aumentar a produtividade dos poços – e que nunca conseguiram realizar uma mudança significativa.
Analistas de mercado começaram a ficar céticos com a companhia depois desse dia. “Acreditamos que o baixo nível de produção em relação às expectativas coloca em dúvida todas as premissas por trás de todo o programa de crescimento da OGX”, escreveram Frank McGann e Conrado Vegner, que na época formavam equipe de análise do Bank of America Merrill Lynch em relatório logo após o incidente. “Até em relação às nossas expectativas, que tem sido consistentemente entre as mais conservadoras, o anúncio é um grande choque. Vemos isso como um grande desapontamento que provavelmente terá um longo efeito sobre as avaliações feitas sobre a OGX”, completaram – cortando a estimativa de preço das ações de R$ 19,50 para R$ 7,50.
Toda essa movimentação fez com que a companhia declarasse que o mercado estava vendo a situação de maneira “errada”. A produção, na verdade, seria após a utilização das técnicas. Um dos poucos bancos a continuarem recomendando a OGX depois desse evento foi o HSBC, que publicou um relatório logo depois contrariando a maioria dos analistas, ao afirmar que o risco era inerente do setor de petróleo e gás e que o histórico de exploração da companhia, até aquele momento, era bom e dava crédito.
Infelizmente, a maioria acertou – Tubarão Azul nunca mostrou uma quantidade adequada de produção, mesmo depois da instalação do terceiro poço, em janeiro de 2013. Durante o tempo em que foi explorado pela OGX campo foi marcado por problemas operacionais, se tornando um grande desapontamento. No início de julho de 2013, o golpe fatal: a companhia anunciou que desistia de seu único campo produtivo, e que cessaria as atividades em 2014, abrindo mão dos campos de Tubarão Tigre, Tubarão Gato e Tubarão Areia, adjacentes da região onde a OGX optou começar a produzir petróleo.
Os problemas com dívidas
Possivelmente o mais “visível” dos erros de Eike tenha sido se alavancar demais. Após alcançar sucesso na fase exploratória, a OGX de Eike optou por um novo tipo de financiamento: dívidas. A companhia praticamente não devia nada para ninguém no início de 2012, mas um ano depois e já com alguma produção de petróleo, contava com dívidas já tidas como impagáveis, em US$ 3,6 bilhões. Nesse período, a nota de crédito da companhia despencou: na Standard & Poor’s ele caiu de “B” para “D”, após deixar de pagar juro de dívida em outubro de 2013. Na Moody’s, a queda foi de “B1” para “Caa2” no mesmo período – indicando que a empresa estava prestes a não pagar as suas dívidas.
Um dos setores mais arriscados da economia é o de petróleo & gás – principalmente para as empresas sem produção ou com produção iniciante, como foi o caso da OGX. É possível que não se encontre petróleo algum – o que não foi o caso da OGX – e é necessário muito dinheiro para começar a produção. E os problemas operacionais na hora de extrair petróleo podem fazer com que a empresa volte a escala zero do dia para a noite – o que acabou acontecendo com a OGX, após junho de 2012.
A produção fraca fazia com que a companhia não conseguisse gerar caixa suficiente para pagar as dívidas e o seu juro. A única saída seria a injeção de mais capital na companhia – seja de Eike ou de algum outro grupo. “A perspectiva poderá ser alterada para estável após uma entrada de caixa externa significativa que poderá aliviar a esperada pressão de liquidez para os próximos trimestres”, escreveu a analista Renata Loffi, da Standard & Poor’s, em agosto de 2013.
Para resolver isso, aumentar a produção em Tubarão Azul era prioridade número um da OGX para conseguir pagar as dívidas – a companhia tinha dois poços instalados em 2012 e instalou mais um no início de 2013, que não conseguiu mostrar nenhuma melhora. Em julho de 2012, a S&P projetava que a companhia atingiria uma média de produção de 40 mil barris de petróleo por dia em 2013, e como isso não ocorreu, as perspectivas para as dívidas da companhia só pioraram ao longo do ano.
O fracasso de Tubarão Azul obrigou a companhia a ter de focar suas esperanças no campo de Tubarão Martelo e tudo isso já enfrentando o processo de reestruturação da dívida. Sem produção, o pagamento das dívidas só conseguia ser realizado com novos endividamentos ou novos investimentos por parte dos grandes acionistas da companhia, dos quais o grupo EBX era o único. Mas isso só ocorreu pelo fato de que a produção havia sido decepcionante. Empresas com produção já estabelecida, como a própria Petrobras, conseguem mitigar esse risco e veem suas notas de créditos serem mais estáveis que a de empresas baseadas apenas em perspectivas.
Em teoria, usam sua produção corrente para pagar os juros e o capital arrecadado com a dívida para financiar o aumento de produção – gerando um ciclo virtuoso. A OGX nunca conseguiu entrar nesse tipo de ciclo, permanecendo em uma fase negativa: as despesas cada vez mais torravam o caixa e obrigavam a companhia a se endividar cada vez mais. A solução para o caixa, porém, seria encontrada o compromisso de Eike Batista de injetar US$ 1 bilhão quando a companhia assim pedisse, através da concessão de uma opção de venda de ações neste ação, para ele mesmo.
A polêmica história da “put”
Talvez nenhuma história a respeito de Eike Batista tenha sido tão controversa quanto esse compromisso firmado com a OGX de injetar US$ 1 bilhão quando a “companhia”, um termo muito amplo, assim desejasse. A promessa, feita no dia 24 de outubro de 2012, foi realizada já no meio da crise – embora apenas o começo dela. Com isso, Eike pretendia reestabelecer a confiança do mercado em suas empresas e fazer com que as ações voltassem a subir, já que o problema de caixa da companhia estaria resolvido. “Ao conceder essa opção, enfatizo a minha confiança na qualidade do corpo técnico e ativos da Companhia, bem como nas novas oportunidades que o setor de óleo e gás oferece à OGX”, comentou Eike com isso.
Houve quem acreditasse que as ações da OGX disparariam 30% no pregão seguinte, mas eles subiram “apenas” 2,59% para R$ 4,75. Um mês depois do anúncio, acumulavam queda de cerca de 10%. A tentativa de resolver o problema aparentemente não havia funcionado: o mercado continuava bastante preocupado com o andamento da companhia nos próximos meses. Foi, inclusive, nessa época que a maioria das corretoras parou de recomendar as ações da OGX para os seus clientes – mostrando cada vez mais desconfiado com o andamento da petrolífera de Eike Batista.
O contrato da “promessa” era bastante simples: se não houvesse forma melhor de capitalização, determinado pelos membros independentes do conselho de administração, a empresa poderia pedir o US$ 1 bilhão de Eike. Um contrato similar já havia sido assinado com a OSX – e já era cumprido por Eike Batista. Ao pedir o bilhão, a empresa subscreveria novas ações e Eike as compraria por R$ 6,30, totalizando US$ 1 bilhão. Eike aumentaria sua posição acionária então, diluindo os minoritários. Isso não seria um problema se isso resultasse na continuação da operação da OGX.
A questão debatida logo depois da concessão era se as ações da OGX estavam limitadas pelo preço em que Eike se comprometeu a comprar as ações, os R$ 6,30, ou se deveriam ver aquilo como um piso, já que seria um patamar em que Eike acreditava que a ação estaria barata. Na época, boa parte das pessoas concordaram com a teoria do piso, já que aos R$ 6,30, a ação já tinha apresentado uma espetacular queda de mais de 75% desde o seu topo histórico, aos R$ 23,39, em 2010.
O acordo, porém, foi avaliado como positivo brevemente e pode ter ajudado a segurar as cotações por algum tempo – até que a empresa começar a produção do seu terceiro poço no campo de Tubarão Azul, que não conseguiu mostrar melhora nenhuma na produção de petróleo. Com isso, crise logo depois se acentuou bastante e a situação ficou insustentável para a petrolífera de Eike. A sua fortuna decaiu bastante e, endividado, seu patrimônio líquido era cada vez menor. Nessa época, a Bloomberg estimava que Eike só tinha US$ 200 milhões, desconsiderando dívidas e obrigações assumidas, enquanto a Forbes estimava apenas US$ 900 milhões. Sendo uma obrigação assinada, a put já estava incluída nesse cálculo. Seria então, seu último bilhão de dólares.
Apenas quem não existe pode exercer a put
Com a empresa sofrendo cada vez mais de problemas de caixa, uma pergunta começou a ser levantada no mercado: Eike daria seu último bilhão para resgatar a empresa ou a deixaria a sua própria sorte? Por um momento, pareceu que sim. A companhia finalmente exerceu a put, no início de setembro – causando euforia no mercado de capitais. A alegria durou, pouco, porém: em poucos dias, Eike mandou uma carta para a companhia dizendo que contestaria a put em uma corte arbitral. Sua alegação é de que a diretoria da companhia não poderia exercer a put, já que essa função cabia, exclusivamente, aos conselheiros independentes da companhia.
Havia um pequeno detalhe: a companhia não tinha conselheiros independentes há alguns meses – desde que as conversas sobre exercer a put começaram. Nomes como o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, o ex-ministro de Minas e Energia Rodolpho Tourinho Neto e a ex-ministra do Supremo Tribunal Federal, além de Samir Zraick, ex-Vale e Luiz do Amaral de França Pereira. Sem membros independentes, era impossível que a put fosse exercida.
Nesse período, passou a circular no mercado a teoria de que Eike teria ordenado o exercício da put sem conselheiros independentes justamente para que ela entrasse em disputa e se encerasse o prazo de exercício, em março de 2014. A CVM, reguladora do mercado brasileiro achou isso estranho e abriu uma investigação a respeito, ainda em andamento, com o título de “análise relativa à operação anunciada no fato relevante de 24 de outubro de 2012”.
Sanear as contas
Sem poder contar com capital novo nem com o prometido por Eike, sanear as empresas era, talvez, a tarefa mais difícil nesse momento de crise. Foi para isso, portanto, que Eike começou a vender ações da OSX na própria Bovespa, usando disso para levantar dinheiro e ir exercendo a sua própria put concedida em 2010, também no valor de US$ 1 bilhão – e que estava sendo exercida de pouco em pouco.
Com isso, Eike vendia as ações a poucos centavos na Bovespa e usava o dinheiro para subscrever mais ações a R$ 40, o que, na prática, capitalizava a empresa e permitia que ela vivesse um pouco mais.Se Eike mostrava disposição de tentar recuperar a OSX, parecia estar abandonando a OGX, principalmente quando começou a vender ações na Bovespa – e não usou o dinheiro para capitalizar a empresa. As vendas começaram em maio, com a venda de 70 milhões de ações, por R$ 121,8 milhões.
Se a vida do empresário ia mal nesta época, ele mostrou ter “sorte” operando ações na Bovespa: conseguiu vender as ações nos patamares mais altos em maio. Em junho, ele vendeu mais 56 milhões de ações, arrecadando R$ 75 milhões. Todas essas vendas foram realizadas usando a Itaú Corretora, com a própria companhia destacou que isso era “um ajuste mínimo pontual no portfólio do Grupo EBX, relacionada com o alongamento de vencimentos e redução do custo da dívida dos credores”.
O mercado não gostou. No dia 11 de junho de 2013 – um dia depois da informação vir a público, embora já tivesse sido antecipada no InfoMoney – a Planner Corretora lançou um relatório mostrando o que pensava a respeito disso. “Uma venda deste montante em um momento tão delicado da empresa, com a ação tão depreciada, é um péssimo sinal que pode exacerbar a baixa das ações”, escreveram.
Não foi a venda de ações, porém, que fez as ações da OGX despencarem: no dia 1º de julho a companhia anunciou a desistência do campo de Tubarão Azul e seus três campos adjacentes. A partir daí, as vendas de Eike passaram a ser olhadas com outros olhos por parte do mercado. Em maio, Eike vendeu ações no intervalo de preço de R$ 1,57 a R$ 1,85, enquanto em junho foi possível vender ações entre R$ 1,25 a R$ 1,39 – já mostrando uma forte queda. A desistência, porém, fez com que as ações despencassem e atingissem o valor de R$ 0,56.
Trader oportunista?
Houve quem acreditasse que Eike já sabia da inviabilidade econômica desde que os números do terceiro poço começaram a ser divulgados, no início do ano. Eike, então, estaria cometendo o crime de insider trading. Além disso, a promessa de não vender mais ações, não foi cumprida. Ele voltou a se financiar no mercado no final de agosto e começo de setembro, vendendo 5,50% de toda a OGX entre 29 de agosto e 3 de setembro, quando a companhia estava para sair do índice MSCI, fortemente acompanhado por estrangeiros.
Em uma estimativa do Itaú BBA, haviam US$ 30 bilhões em investimentos atrelados a esse índice. A saída provocou uma queda de 40% na ação da OGX. Enquanto isso, os fundos passivos apenas replicam carteiras pré-determinadas por outra entidade. A grande maioria dos fundos passivos nacionais seguem o Ibovespa, que é o principal índice brasileiro. Assim, são obrigados a comprar ações das empresas de Eike toda vez que a quantidade teórica de papéis presentes no Ibovespa aumentar.
Como a participação percentual das empresas de Eike pouco se alterou no índice entre as carteiras de 2011 a 2013, mas as ações caíram bastante nesse período, a quantidade de papéis necessários para replicar o índice cresceu – o que, efetivamente, obrigava os fundos passivos a comprar essas ações no dia em que o índice é rebalanceado, que é feito de quatro em quatro meses.
Investidores espertos aproveitaram essa oportunidade para comprar as ações durante o último dia de uma carteira para vender para os fundos passivos no final daquele pregão – já que eles precisavam de realizar isso naquele momento. Esse movimento dos fundos criava uma grande movimentação entre as pessoas físicas, que acreditavam que isso iria provocar um efeito “bola de neve” nas ações da OGX.
A reestruturação
Nesse momento, a companhia enfrentava uma difícil reestruturação de dívida – que já durava meses – para evitar a recuperação judicial ou falência. Os credores da companhia brigavam para que Eike injetasse o US$ 1 bilhão prometido na companhia. Ele, porém, negou publicamente. Em entrevista ao Wall Street Journal, o megaempresário disse abertamente que essa era a vontade dos credores, mas que não o faria – e que, provavelmente, os credores acabariam recebendo o comando da companhia em troca da dívida. Com essas palavras, a liderança máxima da própria OGX, o controlador Eike Batista, desistia publicamente da empresa. Toda essa história irritou bastante acionistas e credores.
O próprio processo de reestruturação de dívidas ensinou bastante sobre a situação de crise que a empresa passava – ajudando a espantar ainda mais os acionistas. “Nos Estados Unidos, a coisa é montada para que a empresa sobreviva, continue gerando empresas”, afirmou Luiz Eduardo Carneiro, diretor-presidente da OGX em setembro de 2013, admitindo que a recuperação judicial era uma possibilidade. Nesse período, os títulos de dívida da OGX eram os mais baratos do mundo: ninguém mais acreditava que a empresa de Eike conseguiria dar a volta por cima.
Quem já tinha esses papéis pedia a saída de Eike do comando e, liderados pela Pimco – gestora do maior fundo de renda fixa do mundo – contrataram o Rotschild para exigir as mudanças, e em contrapartida aceitar uma redução das dívidas, que permitiria o pagamento. Em uma das reuniões, a frase “vocês precisam de nós, assim como nós precisamos de vocês” chegou a ser proferida pela OGX. Era o tudo ou nada.
O fracasso
Essa reestruturação, porém, fracassou. A empresa entrou em frenéticas conversas com os credores para discutir os termos da possível transformação da dívida em novas ações. Foram praticamente dois meses em reuniões. A empresa deixou de pagar juros da dívida em 1º de outubro – e anunciou que teria apenas mais 30 dias de “cura” antes de ser tida como inadimplente e acionar o pagamento adiantado das dívidas, que faria a companhia entrar em um processo de falência.
A OGX lutou até o fim – Eike negociou, procurou novos investidores e até mesmo destacou que “abria mão da companhia”. Sem ter como pagar o juro da dívida, enfrentava o pagamento antecipado de US$ 3,6 bilhões. Para evitar a liquidação, entrou com o pedido de recuperação judicial nesta quarta-feira (30). É o fim do primeiro ciclo da OGX e o começo de outro: agora a companhia precisa se reestruturar para conseguir sobreviver. Quem vendeu as ações no leilão de “despedida” será poupado das fortes emoções que são aguardadas para os próximos meses. Quem as manteve só resta esperar para ver o que vai acontecer.