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SÃO PAULO – A dinâmica entre o mercado de câmbio e os de commodities e ações emergentes, tão comentada entre os investidores, parece pouco questionada. Dólar em queda, commodities e ações em alta: uma relação simples e quase sempre válida.
Entretanto, o risco está quando se toma o “quase sempre válido” como verdade absoluta. Não que a correlação inversamente proporcional entre dólar e commodities não seja verdadeira, mas exceções ocorrem – e não são tão raras assim.
Inspirados pelo tema, os analistas do JPMorgan lançaram-se à tarefa de analisar a correlação entre a cotação do dólar, os preços de commodities e o desempenho dos principais índices de ações emergentes, no curto prazo (últimos dois meses), médio prazo (últimos três anos e cinco anos) e longo prazo (últimos dez anos).
Análise de Ações com Warren Buffett
Três grandes momentos
Desde novembro, o dólar tem mostrado tímidos sinais de força frente às principais moedas do mundo. Na visão do JPMorgan, a valorização da divisa deve-se, sobretudo, aos bons indicadores norte-americanos e aos temores quanto à situação fiscal grega, que pesaram sobre o desempenho do euro. Mas, contrariando o senso comum, os papéis emergentes mantiveram suas trajetórias de alta, mesmo com um dólar também ascendente.
Tal cenário pode ser incomum, mas não é inédito: analisando o comportamento da moeda norte-americana e do MSCI EM (índice calculado pelo Morgan Stanley que compila os principais índices de ações de mercados emergentes), a equipe do JPMorgan identificou três grandes momentos similares, onde altas do dólar frente ao euro, iene e outras moedas de países desenvolvidos vieram acompanhadas de altas dos papéis nos mercados emergentes.
Um primeiro grande momento citado pelos analistas foi de setembro de 1992 até fevereiro de 1994; outro, de outubro de 1998 até fevereiro de 2000; e o terceiro, de janeiro de 2005 até novembro do mesmo ano. Todos estes períodos foram caracterizados por um dólar em alta e um desempenho do MSCI EM superior ao registrado pelos índices de mercados desenvolvidos.
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Correlações “câmbio-ações”…
Ainda assim, a correlação existe. “Todos os mercados emergentes, exceto a China, têm uma correlação positiva com suas respectivas moedas nacionais em relação ao dólar”, afirma o JPMorgan. O mercado brasileiro, por sinal, é o mais atrelado ao comportamento de sua moeda dentre todos os mercados emergentes analisados pela equipe.
No entanto, os analistas do banco descobriram que a correlação “ações-câmbio” nos mercados emergentes é ainda maior na comparação com todo o índice de moedas emergentes do que com a trajetória das divisas separadamente, o que, na visão do JPMorgan, “indica que a confiança dos investidores estrangeiros nos papéis está muito mais atrelada ao comportamento em geral do câmbio do que com aos comportamentos individuais de cada moeda”.
O Brasil, todavia, é quase uma exceção. A correlação do mercado nacional frente ao comportamento do real é muito maior do que a correlação frente ao desempenho das moedas emergentes no geral, especialmente no curto prazo – na análise de dez anos, o inverso é constatado.
Outra comparação traçada pela equipe é a performance individual de um mercado em específico frente o desempenho geral dos mercados emergentes, em relação à performance individual da moeda frente o desempenho geral das moedas emergentes. Neste quesito, o Brasil também lidera as estatísticas obtidas no curto prazo (dois meses), embora os resultados registrados em intervalos de tempo maiores não sejam tão significativos.
…e “câmbio-commodities”
Por fim, a correlação entre preços de commodities e desempenho do dólar frente ao euro, iene e outras divisas de países desenvolvidos também foi testada pela equipe do JPMorgan. A conclusão tirada pelo banco é de que, mais uma vez, ela de fato existe. Mas é mais fraca do que se pode pensar.
“A correlação não é intensa em nenhum dos períodos analisados”, diz o JPMorgan. A afirmação é especialmente válida no curto prazo, quando nenhuma tendência homogênea e clara foi constatada pela equipe.