Rede D’Or barra 3 hospitais do RJ para usuários da Amil: o que isso diz para empresas

Suspensão temporária já ocorreu em 2019 por iniciativa da Amil e levou a perda de beneficiários da operadora

Camille Bocanegra

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A Rede D’Or (RDOR3) suspendeu ontem os serviços para beneficiários da Amil em três de seus principais hospitais da capital do Rio de Janeiro, segundo informações do colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo. A partir de 17 de setembro, os hospitais Copa D’Or (um dos principais da Zona Sul da cidade), Quinta D’Or (um dos maiores da região norte) e Jutta Batista (referência pediátrica na Zona Sul) não oferecerão mais serviços para usuários da Amil, aponta o colunista.

A justificativa da suspensão unilateral teria sido a necessidade de renegociação de contratos com a operadora. No passado, mais precisamente em 2019, essa suspensão já havia ocorrido mas por iniciativa da Amil. A operadora rapidamente voltou atrás e trouxe de volta as instituições após perda significativa de usuários (cerca de 15% na base da região do Rio de Janeiro). Na ocasião, o Bradesco Saúde e a SulAmérica mantiveram parceria com o grupo e observaram aumento de participação no mercado. Justamente esse episódio pode ter mostrado para a Rede D’Or que sua rede hospitalar desempenha papel crucial na venda de planos de saúde da Amil, de acordo com o Itaú BBA.

A dependência das instituições vinculadas ao grupo Rede D’Or garante maior poder de negociação, de acordo com a análise do JPMorgan. Na visão de analistas do banco estrangeiro, a suspensão dificilmente se manterá, uma vez que a Amil provavelmente seguiria em busca de acordo para manutenção dos hospitais em sua rede credenciada. No entanto, na hipótese de não haver acordo, a SulAmérica (divisão de seguros da Rede D’Or) poderia ser beneficiada.

“No que acreditamos ser um caso remoto, se os serviços forem suspensos nos hospitais mencionados, os impactos financeiros sobre a Rede D’Or não seriam significativos. De acordo com nossas conversas com a empresa, a Amil representa de 5% a 10% das receitas hospitalares da RDOR, enquanto a exposição nesses hospitais está abaixo da média”, comenta o JPMorgan.

Segundo a XP, que cita dados da Fiocruz/CNES e da ANS, os três hospitais mencionados possuem 7,7% dos leitos privados não-SUS no Rio de Janeiro, enquanto a Amil possui 11,7% do mercado de planos de saúde na mesma cidade. Vale ressaltar que a SulAmérica tem uma participação de 9,4% e a RDOR tem 28% dos leitos privados não-SUS nesse mercado.

O BBA destaca que o descredenciamento ocorre justamente em um momento de recuperação de rentabilidade para a Amil. Para a Rede D’Or, os ativos maduros, que operam com alta taxa de ocupação, dificilmente seriam impactados caso a suspensão se mantenha.

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A visão do Morgan Stanley é similar, considerando que a remoção teórica dos planos da Amil, caso se concretize, não seria um problema estrutural e poderia, inclusive, melhorar a base de pagadores da prestadora. A SulAmérica, pertencente ao grupo, e a boa relação com o Bradesco já garantiriam cerca de 70% dos beneficiários dos hospitais Copa D’Or (cerca de 19 a 20%) e Quinta D’Or (cerca de 32 a 37%), de acordo com o Morgan.

Para a XP, os motivos por trás da rescisão do contrato não são claros, mas a representatividade da Amil nas admissões da Rede D’Or não é significativa o suficiente para pressionar a utilização e as margens. Por outro lado, a Amil e a Dasa (DASA3) anunciaram recentemente a fusão dos negócios de seus hospitais, o que pode incentivar a operadora de planos de saúde a canalizar a utilização para os hospitais da parceria, em vez de direcioná-la para terceiros.

“O setor ainda está sob pressão, e o relacionamento entre pagadores e prestadores tem se deteriorado. Portanto, vemos a notícia como um sinal de que a Rede D’Or pode estar buscando condições mais favoráveis para seus hospitais no Rio”, reforça a equipe de análise da XP.

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