Recompra da Vale (VALE3) chama a atenção dos analistas: o que indica sobre as ações das empresas e para os investidores?

Desde 2021 companhia já anunciou programas de recompra de ações correspondentes a cerca de 25% dos seus papéis em circulação

Vitor Azevedo

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A Vale (VALE3) vem, sequencialmente, anunciando programas de recompra de ações consideráveis no mercado.

Desde 2021, a mineradora já recomprou quase 500 milhões de ações e, agora, tem outro programa para adquirir mais 500 milhões em andamento – o número corresponde, atualmente, a aproximadamente 22% do total dos papéis ordinários em circulação.

A recompra de ações consiste em utilizar o caixa da empresa para comprar seus próprios papéis no mercado. Então, as ações recompradas são canceladas e deixam de existir. Com isso, o número de papéis em circulação diminui e a participação relativa de cada investidor aumenta, o que é visto como um fator para aumentar o retorno do investidor nas ações.

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Analistas veem a movimentação como positiva.

“Eu gosto bastante desse movimento. É claro que anunciar uma recompra não significa que a empresa irá recomprar aquela quantidade, mas a Vale vem adquirindo seus papéis de volta”, diz João Daronco, analista da Suno Research.

A mineradora, em sua teleconferência do quarto trimestre de 2022, realizada em março, afirmou que já havia adquirido 683 milhões de ações nos seus três programas.

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De acordo com Daronco, a recompra de ações é uma forma de distribuir lucros aos acionistas muito semelhante aos dividendos. “Nos dividendos você recebe o dinheiro e pode reinvestir na empresa e aumentar a sua participação. Na recompra automaticamente já aumenta a sua participação”, aponta.

“A empresa pode investir o caixa gerado em novos projetos, mas acaba que a Vale não tem tantos projetos assim para a quantidade de caixa que ela gera. Quando falamos em dívidas, a Vale também está muito pouco alavancada e o custo é baixo”, debate o especialista. “Então acabamos tendo apenas essas duas destinações”.

Tiago Reis, CEO da Suno, falou em coluna do InfoMoney, que, muitas vezes, a recompra de ações pode ser vista como uma medida mais voltada ao longo prazo, enquanto os dividendos são mais para o curto.

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“A grande diferença é que os dividendos representam um retorno definido “agora”, enquanto as recompras simbolizam retornos incertos em algum momento no futuro. Quando uma empresa paga dividendos, os retornos são instantâneos: o dinheiro cai rapidamente na conta do investidor. Ele, por sua vez, pode decidir o que fazer com o montante recebido: reinvesti-lo na companhia, utilizá-lo para comprar ações de outras empresas ou sacá-lo para uso pessoal. No entanto, quando uma empresa faz recompras, os retornos não são necessariamente imediatos”, debate.

Recompra segura preço?

Com os papéis da companhia em queda desde o começo do ano, com um recuo de mais de 20% no ano, há certo debate se o programa de recompra está dando sustentação aos preços.

“É difícil afirmar isso. Se a gente tiver uma piora do cenário chinês e da questão siderúrgica por lá pode ter o preço do minério caindo para US$ 70 e aí teria uma queda no preço da ação. Mas quando a empresa está recomprando você aumenta sua participação nela e se aumenta sua participação nela a sua ação vale mais” expõe Daronco.

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Ele expõe que, nessa dinâmica, com menos ações circulando, e com o valor de mercado mantido, o lucro por ação aumenta e o preço por lucro, cai – o que sugere que você tem de ter um aumento da cotação, de olho em algumas métricas de valuation.

“Conceitualmente a recompra é a Vale ir a mercado recomprar ações da Vale por achar que elas estão descontadas”, fala Guilherme Nipps, analista da XP Investimentos. “A movimentação ajuda as ações a não caírem, mas não resolve. De qualquer forma, tende a ser algo positivo por reduzir o número de papéis em circulação”.

Paschoal Paione, gestor de Commodities da Persevera Asset Management, explica que a recompra de ações tende a melhorar a precificação dos papéis no longo prazo, no caso do cancelamento das adquiridas. O lucro por ações acaba avançando por conta de uma mudança no divisor, que cai.

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“A recompra diminui a base das ações e tem um efeito parecido com os dividendos nas ações. Acho que a questão da redução de dividendos pode ter a ver com a questão da taxação dos dividendos, com a atual reforma em andamento”, menciona.

A reforma tributária, que está tramitando no Congresso, deve apresentar algo na linha da tributação de dividendos. Para o gestor, a Vale pode estar se antecipando à questão e testando novos formatos de recompensar os acionistas.

“A recompra dá um sinal que você está mais confiante no longo prazo, aumentando o risk take, mas você tem um efeito que costuma gerar um recuo de liquidez também”, fala. “A política de remuneração, falando de recompra ou dividendos, tem a ver em como a geração de caixa está. A Vale já tem uma política de dividendos definida, mas a mudança pode se dar talvez por conta das perspectivas do minério ou até mesmo na tributação”.

A mineradora fez o maior corte de dividendos do mundo e tirou Brasil do topo de ranking global. A Vale distribuiu US$ 1,8 bilhão entre janeiro e março deste ano, ante mais de US$ 3,6 bilhões no mesmo período do ano passado.

No que tange o minério, com o preço da commodity recuando, é possível que os proventos também caiam, pela menor geração de caixa livre. O cancelamento de ações, nesse caso, impediria um recuo muito abrupto do dividend yield.

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